A disputa entre Brasil e Estados Unidos, que levou a um recall de carne bovina industrializada brasileira em maio, ganhou um novo capítulo. Representantes do Ministério da Agricultura e de exportadores brasileiros reuniram-se segunda-feira e ontem com técnicos do Departamento de Agricultura dos EUA (USDA), em Washington, para discutir a metodologia de análise para detectar resíduos do vermífugo ivermectina na carne proveniente do Brasil.
A disputa entre Brasil e Estados Unidos, que levou a um recall de carne bovina industrializada brasileira em maio, ganhou um novo capítulo. Representantes do Ministério da Agricultura e de exportadores brasileiros reuniram-se segunda-feira e ontem com técnicos do Departamento de Agricultura dos EUA (USDA), em Washington, para discutir a metodologia de análise para detectar resíduos do vermífugo ivermectina na carne proveniente do Brasil.
Saíram das reuniões apontando que as divergências continuam, o que mantém a carne brasileira fora dos EUA – no fim de maio, o próprio ministério decidira suspender as exportações de carne industrializada brasileira ao país.
Segundo Otávio Cançado, diretor da Associação Brasileira da Indústria Exportadora de Carnes (Abiec), a metodologia usada pelos EUA, e que detectou resíduos do vermífugo acima do permitido em produto exportado pela JBS, não é sistematizada e nem reconhecida pelo Codex Alimentarius (organismo internacional de referência para a segurança dos alimentos).
Os métodos de análises reconhecidos pelo Codex preveem análise do fígado e do músculo do boi. Mas os EUA estão fazendo a análise do produto final (a carne processada), segundo o dirigente da Abiec. Antes, a informação no Brasil era que os EUA analisavam o músculo. No caso da análise do fígado (método usado no Brasil), o nível máximo de resíduos permitido é 100 partes por bilhão (ppb) e no músculo, de 10 ppb.
De acordo com Cançado, não é possível saber se 10 ppb no músculo é o mesmo que 10 ppb no produto final porque a carne bovina industrializada pode conter fígado, músculo e gordura.
Uma nova missão brasileira vai visitar laboratórios americanos no dia 21 deste mês para checar como é feita a análise para detectar a ivermectina, segundo ele.
O episódio levantou a questão sobre eventuais excessos no uso do vermífugo por pecuaristas. Segmentos da cadeia produtiva chegaram a pedir ao ministério que suspenda a comercialização da ivermectina no país até que a questão seja resolvida.
Há, no setor, quem acredite que a indústria farmacêutica tenha afrouxado o controle sobre o uso do produto, o que poderia levar à detecção de resíduos acima do permitido. A ivermectina foi desenvolvida pela Merial, que a comercializa com a marca Ivomec. A patente do produto já venceu e hoje outras farmacêuticas o fabricam. Depois disso, a Merial desenvolveu outro vermífugo, cujo princípio ativo é a ivermectina, mas com uma nova molécula. Estaria, então, privilegiando o produto.
A Merial nega. Segundo o diretor-técnico da empresa, Emílio Salani, a estratégia de vendas não se restringe à comercialização de um ou outro produto. “A empresa trabalha com a venda de orientações técnicas e usa um programa sanitário para se basear”. Ele explica que a equipe de vendas é formada por veterinários ou zootecnistas que escolhem o produto adequado, dentro da dosagem correta para ser utilizado em cada fase da vida dos animais.
Enquanto não se chega a um consenso sobre métodos de análise, o governo brasileiro vai apresentar um plano aos EUA que prevê a análise do produto no Brasil, pelos frigoríficos, para que as exportações possam ser retomadas, segundo Cançado.
Produtos a base de ivermectina são indicados para o tratamento e controle de parasitas internos e externos dos bovinos, ovinos e suínos. Quanto ao período de carência, a Merial recomenda não abater os animal que receberam o produto dentro do período de 28 dias após o último tratamento e não administrar o produto em vacas leiteiras produzindo leite para o consumo humano. Já a Ouro Fino e a Vencofarma indicam que o período de carência de seus produtos que contém ivermectina a 1% deve ser de 35 dias.
O Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), disponibiliza em seu site uma cartilha com recomendações para o uso responsável de produtos veterinários, recomendando que os produtores utilizem apenas produtos registrados no Mapa, atentado para os prazos de validade e informações contidas na bula. O material ressalta que o “período de carência tem como objetivo evitar a presença de resíduos do produto veterinário nos alimentos como carne, leite, ovos, pescado e mel, acima do permitido e considerado prejudicial à saúde humana. Para animais produtores de alimentos, o período de carência deve ser obedecido rigorosamente, atendendo a indicação do fabricante”.
Veja a Cartilha do Mapa na íntegra:
As informações são do Valor Econômico, resumidas e adaptadas pela Equipe BeefPoint.
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