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Brucelose bovina

Por Francisco Lobato1, Ronnie A. Assis2

A brucelose bovina é uma doença infecciosa dos animais e do homem (zoonose), de relevância mundial, causada por Brucella abortus. É uma importante causa de abortos, acompanhada algumas vezes de infertilidade temporária ou permanente, causando grandes perdas econômicas (Thoen et al, 1995).

São reconhecidas hoje as seguintes espécies de brucelas e seus biovares: B. Abortus (8 biovares), Brucella melitensis (3 biovares), Brucella suis (5 biovares), Brucella neotomae, Brucella canis, Brucella ovis. Recentemente, uma nova espécie isolada de mamífero marinho está sendo estudada quanto à sua posição taxonômica dentro do gênero. O biovar 1 de B. Abortus é universal e predominante sobre os demais.

Epidemiologia

A brucelose bovina existe em todo o mundo, porém alguns países conseguiram erradicá-la (Finlândia, Noruega, Suécia, Dinamarca, Países Baixos, Bélgica, Suíça, Alemanha, Áustria, Hungria, Romênia e Bulgária), outros conseguiram liberar vários rebanhos e extensas áreas do seu território (Inglaterra, Irlanda, Polônia, Canadá, Estados Unidos, Cuba, Panamá, Austrália e Nova Zelândia) e estão próximos de alcançar o objetivo da erradicação.

No restante do mundo, as taxas de infecção são variáveis de um país para o outro e nas diferentes regiões, em especial em países de grande extensão territorial, tais como o Brasil.

Ocorrendo endemicamente em todo território nacional, a brucelose bovina pode ser diagnosticada em qualquer rebanho, não considerando a forma de criação e exploração econômica a que esteja submetido (Anexo 1) (Boletim de Defesa Sanitária Animal, 1998).

A brucelose é uma enfermidade principalmente de fêmeas adultas e em gestação. As não gestantes, machos e animais jovens são também susceptíveis, porém em menor grau.

B. Abortus alcança sua maior concentração no conteúdo do útero grávido, no feto e nas membranas fetais, que devem ser considerados como as maiores fontes de infecção (Blood & Radostits, 1989).

A via de infecção mais frequente é a oral. Quando uma fêmea aborta, elimina através do aborto, ou dos anexos fetais, uma grande quantidade de bactérias, contaminando assim o ambiente (Poester, 1997). Bezerros alimentado com leite contendo Brucellas podem albergar a bactéria e eliminá-la com as fezes contaminando assim o meio ambiente (Poester, 1997).

Touros acometidos e que eliminam sêmen com o microrganismo provavelmente não transmitem a doença, mas a chance da disseminação é muito grande se ele for usado na inseminação (Acha & Szyfres, 1986).

O contágio de rebanhos livres normalmente se dá pela introdução de um ou mais animais infectados, difundindo-se rapidamente de animal para animal, produzindo, durante os dois primeiros anos, perdas acentuadas (Poester, 1997).

As perdas com a produção animal por causa dessa doença, podem ser de grande importância, especialmente devido à queda na produção de leite nas vacas que abortam. A sequela comum da infertilidade, aumenta o período entre as lactações e, num rebanho infectado, o período médio entre os partos pode ser prolongado por muito meses. Além dos prejuízos ocasionados pela diminuição da produção de leite, há perda de bezerros e interferência no programa de reprodução.

Em rebanhos de gado de corte, onde os bezerros representam a única fonte de renda, essas perdas assumem grande importância. A alta incidência de infertilidade temporária e permanente, bem como as mortes ocorridas devido à metrite que sobrevém à retenção de placenta, resultam na eliminação de vacas valiosas (Blood & Radostits, 1989).

Sinais clínicos

Os achados clínicos dependem do estado de imunidade do rebanho. Em um rebanho de vacas prenhes, não-vacinadas e altamente susceptíveis, a característica principal da doença é o aborto após o quinto mês de gestação.

Nas gestações subseqüentes, o feto em geral chega a termo, embora possa ocorrer um segundo ou até terceiro aborto na mesma vaca. A retenção de placenta e a metrite são as sequelas comuns do aborto. As metrites, podem levar à esterilidade (Acha & Szyfres, 1986).

Nos touros, a orquite e a epidimite ocorrem ocasionalmente. Os touros acometidos, em geral, ficam estéreis quando a orquite for aguda, mas podem recuperar a fertilidade normal se um dos testículos não for lesado (Blood & Radostits, 1989).

Achados macroscópicos

Observam-se útero gestante com presença de exsudato fétido, amarelo-amarronzado e debris necróticos; placenta com placentomos necróticos e/ou hemorrágicos, com cotilédones friáveis e de coloração amarelado e recobertos por exsudato amarronzado de odor fétido; fetos abortados edematosos, contendo líquido avermelhado no tecido subcutâneo e com ocorrência de pneumonia; nos touros orquite necrótica caracterizada por áreas de focais ou difusas de necrose com coloração amarelada e friável e as vezes calcificada (Silva et al., 2005).

Referências bibliográficas

ACHA, P.N., SZYFRES, B. Zoonosis y enfermidades transmisibles comunes al hombre y a los animales. Ed2, Washington DC. OML, 1986, p. 14-36.
BLOOD, D.C., RADOSTITS, O.M. Clinica Veterinária, 7Ed, ed. Guanabara Koogan, 1989, p. 570-580.

BOLETIM DE DEFESA SANITÁRIA ANIMAL. Ministério da Agricultura e Abastecimento, Ed. 1998, v. 27, p. 41-47.

POESTER, F.P. Brucelose animal. In: Anais do II Simposio PFIZER sobre doenças infecciosas e vacinas para bovinos. Caxambu, 1997, p. 54-59.
SILVA, F.L., PAIXÃO, T.A., BORGES, A.M., LAGE, A.P., SANTOS, R.L. Brucelose bovina. Cad. Téc. Vet. Zootec, n.47, p.1-12, 2005.

THOEN, F.E., CHEVILLE, N.F. Brucella. In: GYLES, C.L., THOEN, C.O. (ed), Pathogenesis of bacterial infections in animals. Ed2, IOWA State University, 1985, p.236-247.

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1Francisco Lobato, Prof. Dr. Doenças Bacterianas da Escola de Veterinária da UFMG

2Ronnie A. Assis, Méd Vet, mestre em Medicina Veterinária, doutor em Ciência Animal

2 Comments

  1. uilian machado de souza disse:

    Precisamos em carar a brucelose com garras e dentes, para livrarmos o pais desse mal!

  2. Rogério Baptista disse:

    Aqui em Santa Catarina é proibido vacinar contra brucelose e tuberculose e portanto não tem vacina à venda.
    O Governo tenta acabar com as doenças só eliminando o gado doente.
    Mas não existe obrigatoriedade para fazer os exames.
    Os exames são relativamente caros e chatos de serem feitos, pois o veterinário tem que ir na fazenda, conter cada animal, raspar o pelo em 2 lugares, aplicar um produto em cada local raspado e coletar sangue numa veia de preferência no pescoço. Depois de 72 horas, o veterinário vem mostra os resultados e faz as medições nos locais raspados. Depois todo o material vai para Curitiba(não temos laboratório em SC). Os animais que vierem confirmados positivos, serão abatidos e indenizados pelo Governo a preço de boi gordo. E qual o criador em SC que sabe disso, já que a maioria é pequeno e não há divulgação alguma? Eu tive 3 casos de aborto e mandei fazer os exames e estou esperando a confirmação de Curitiba, mas provavelmente serão sacrificados 13 e 32 animais. O custo só com veterinários, material, envio para Curitiba, etc. foi de R$1.066,00 para os 32 animais. Ainda vai haver o transporte e o valor a ser pago para o frigorífico fazer o abate, pois se eu fizer na minha propriedade… Não vendo mais nada… A ignorância é muito elevada por aqui. E é claro, ainda vou perder mais, pois mesmo pagando preço de boi gordo, a indenização do Estado não vai permir que eu adquira outros 13 animais. E agora como comprar de novo? Só com exames… E quem faz exames? Muito raro… E quem disse que minha criação estará limpa depois dos 13 animais sacrificados?