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Cadê a vaca?

O abate de fêmeas tem aumentando significativamente ao longo dos últimos anos. O avanço da agricultura sobre áreas de pastagens, principalmente de cria, e do ciclo de baixa dos preços de bezerros, tem levado ao descarte de matrizes.

Veja nas tabelas a seguir a evolução dos abates em 2002, 2003 e no primeiro semestre de 2004. Os números do IBGE estão subestimados, pois se referem apenas aos abates fiscalizados. Estima-se que aproximadamente 40% dos animais abatidos estejam fora da fiscalização. Contudo, os números apurados indicam uma tendência verdadeira.


Em síntese, foram as fêmeas – matrizes, vacas de descarte, vacas de engorda, novilhas etc. – que sustentaram o aumento da produção de carne em 2003, mantendo esse fluxo em 2004. Ao longo do primeiro semestre deste ano, por exemplo, alguns frigoríficos em Goiás, Minas Gerais e Mato Grosso do Sul sustentavam mais de 60% de suas escalas com fêmeas.

O excesso de oferta desse tipo de mercadoria repercutiu negativamente nos preços. Observe, na figura abaixo, a evolução comparativa das cotações do boi e da vaca gorda em São Paulo ao longo do primeiro semestre deste ano. Em maio, a defasagem da vaca para o boi chegou a 18%, ou R$11,00/@.


Contudo, a situação começou a se inverter a partir do segundo semestre. O confinamento, o semiconfinamento e a utilização de sais proteinados aumentaram significativamente, promovendo o crescimento da oferta de animais terminados na seca. Contudo, pouca gente coloca vaca para engordar no cocho. Assim, se na safra tinha muita vaca, na entressafra foi a vez do boi.

Ao passo que a oferta de fêmeas começou a cair, a demanda passou a aumentar, sustentando a valorização da arroba da vaca gorda.

A defasagem da cotação da vaca em relação ao boi gordo começou a cair, conforme pode ser observado na figura 2. De julho até 28 de outubro, o preço da vaca gorda na região de Araçatuba (SP) reagiu 5,8%, enquanto a cotação do boi gordo subiu apenas 0,8%. A defasagem da vaca para o boi, ao final de outubro, chegou a 11%.


Os principais compradores de vaca gorda são os frigoríficos de mercado interno. Os exportadores, que trabalham com mercados mais exigentes, querem boi. Alguns nem estão comprando fêmeas. Outros ofertam, em São Paulo, R$53,00/@, a prazo, para descontar o Funrural. Muito pouco.

A demanda por animais terminados para abastecimento do mercado doméstico aumentou no segundo semestre em função do “bom” momento que vive economia brasileira. A redução do desemprego, o aumento da circulação de dinheiro em função das campanhas eleitorais, a melhoria do rendimento médio do trabalhador, etc promoveram um ligeiro aquecimento das vendas de carne no atacado.

Analisando do ponto de vista do pequeno frigorífico, que não exporta, as fêmeas proporcionam uma margem melhor. Acompanhe na tabela abaixo a evolução das cotações dos Equivalentes Scot (vaca e boi), que levam em consideração os três principais produtos negociados pelos frigoríficos (carne com osso + couro + sebo), e das cotações dos animais terminados.

Tabela 3. Cotações médias do boi e da vaca gorda em Araçatuba (SP), dos Equivalentes Scot – boi e vaca e a relação entre eles – R$/@ a prazo.


Ao longo de 2004, a defasagem do Equivalente para a cotação da vaca gorda foi quase sempre menor em relação à defasagem do Equivalente para o boi gordo.

É por isso que nas proximidades do feriado de 2 de novembro (finados), quando alguns frigoríficos já trabalhavam com escalas curtas, prevendo ainda dificuldades de compra para os próximos dias e correndo para abastecer o atacado na virada do mês, a Scot Consultoria chegou a registrar, em São Paulo, negócios a R$55,00/@, a vista, livre de Funrural, para novilhas ou vacas bem acabadas, rastreadas ou não.

Isso equivale a, aproximadamente, R$58,00/@, a prazo, para descontar o funrural, apenas R$4,00/@ a menos do que valia o boi rastreado. Bom negócio.

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