Cama de frango, um alimento polêmico

O uso de cama de frangos na alimentação de ruminantes foi assunto de 3 artigos logo no início do BeefPoint no ano passado. Nesses artigos foram abordadas as características nutricionais assim como algumas limitações de seu uso.

Com o surgimento de novos casos da BSE (doença da vaca louca) na Europa, além da proibição do uso de subprodutos de mamíferos na alimentação de ruminantes, foi também objeto de proibição o uso subprodutos de outros animais domésticos na alimentação de ruminantes. No Brasil, além da proibição do uso de farinhas de animais domésticos, o MAPA (Ministério da Agricultura Pecuária e Abastecimento) passou a proibir também o uso de cama de frangos na alimentação de ruminantes para atender exigências dos importadores de carne bovina.

O uso de cama de frangos na alimentação animal tem alguns aspectos que precisam ser considerados. O relacionado ao seu potencial como fonte de nutrientes nos parece bem estudado e o conhecimento disponível é suficiente para a formulação de dietas bem equilibradas do ponto de vista nutricional. O outro aspecto, relacionado à segurança de seu uso, do ponto de vista sanitário, tem sido bastante questionado, mesmo antes do agravamento dos casos de BSE. Além disso, existe ainda um terceiro aspecto relacionado a uma possível repugnância por parte dos consumidores em saberem que podem estar consumindo carne bovina produzida por animais alimentados com cama de frangos. Uma argumentação bastante contundente contra o uso da cama de frango na alimentação animal foi apresentada no Espaço Aberto do BeefPoint pelo Prof. Luiz Francisco Prata da UNESP, Campus de Jaboticabal.

Em alguns países que permitem ou que permitiam o uso de cama de frango, foram estabelecidas regras bem claras, como necessidade de tratamento via autoclave ou via fermentação anaeróbica para torná-la mais segura do ponto de vista sanitário. No Brasil, até sua recente proibição pelo MAPA, seu uso era permitido sem nenhuma regulamentação. Embora não muito numerosos em relação ao seu uso indiscriminado, alguns problemas sanitários ocorreram com bovinos alimentados com cama de frango. Felizmente, aparentemente nenhum caso de saúde humana relacionado ao consumo de carne bovina produzida por animais alimentados com cama de frango foi observado.

No Giro do Boi dessa semana, consta uma notícia referente à liberação da cama de frango para uso na alimentação do gado pelo senhor secretário de Agricultura do Estado de São Paulo. A única restrição é que a cama seja proveniente de aves alimentadas exclusivamente com ração de origem vegetal. Mesmo que essa fosse uma restrição suficiente para eliminar todas as restrições ao uso da cama de frango, como seria possível o seu cumprimento se o uso de farinha de bovinos são permitidas para formulação de dietas de aves? Entendemos que existem pressões comerciais e políticas (cadeia avícola e produtores de bovinos) para liberação do uso da cama de frango. Entretanto, como se trata de um produto polêmico, com proibição pelo MAPA, e que sofre restrições por parte dos importadores, sua liberação, caso receba parecer favorável após um estudo detalhado das vantagens e desvantagens, deveria ser acompanhada de normas minuciosas que de fato garantissem a segurança de seu uso.