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Câncer de pulmão e consumo de carne

O pesquisador Dominik D. Alexander, PhD, MSPH, epidemiologista sênior da Health Sciences Practice, Exponent, Inc., elaborou um relatório técnico sumarizando as atuais evidências epidemiológicas relacionadas ao consumo de carnes vermelhas e carnes processadas e o câncer. Esse relatório não teve a intenção de incluir sistematicamente todos os componentes de causa, como dose-resposta ou possibilidade biológica, entre as carnes vermelhas e processadas e tipos específicos de câncer. A ideia do trabalho foi sintetizar informações científicas relacionadas aos tipos de câncer com os quais o consumo de carne foi avaliado e recapitular algumas das associações estatísticas observadas entre a ingestão de carnes vermelhas e processadas e o câncer. Esse artigo traz uma tradução adaptada desse relatório.

Introdução

O pesquisador Dominik D. Alexander, PhD, MSPH, epidemiologista sênior da Health Sciences Practice, Exponent, Inc., elaborou um relatório técnico sumarizando as atuais evidências epidemiológicas relacionadas ao consumo de carnes vermelhas e carnes processadas e o câncer. Esse relatório não teve a intenção de incluir sistematicamente todos os componentes de causa, como dose-resposta ou possibilidade biológica, entre as carnes vermelhas e processadas e tipos específicos de câncer. A ideia do trabalho foi sintetizar informações científicas relacionadas aos tipos de câncer com os quais o consumo de carne foi avaliado e recapitular algumas das associações estatísticas observadas entre a ingestão de carnes vermelhas e processadas e o câncer.

Esse artigo traz uma tradução adaptada desse relatório, publicado no site www.beefresearch.org.

Câncer de pulmão

Os pulmões são responsáveis pela troca de fases do ar com o sistema circulatório. A taxa de câncer de pulmão aumenta com o aumento da idade; entretanto, um declínio recente na incidência entre os grupos mais velhos parece corresponder com o declínio nas taxas de fumo (1,2). No mundo todo, essa doença é pelo menos duas vezes mais comum entre os homens do que entre as mulheres, apesar de a incidência entre as mulheres nos Estados Unidos ter aumentado devido à maior prevalência do uso de tabaco (2,3). O fumo é o mais forte e mais estabelecido fator de risco para câncer de pulmão, contribuindo para aproximadamente 87% das mortes por essa doença nos Estados Unidos (4). O risco de câncer de pulmão aumenta com a duração e a quantidade de fumo e o término do fumo resulta em uma redução nos riscos de câncer durante o tempo (1,3). Alguns fatores ocupacionais e ambientais, como o radônio, o fumo passivo, certos metais e poluição do ar têm sido associados com o aumento dos riscos de câncer de pulmão (1).

Uma variedade de grupos alimentícios, itens alimentícios individuais e micronutrientes específicos foram avaliados com relação aos riscos de câncer de pulmão em vários estudos epidemiológicos e experimentos. Coletivamente, associações para a maioria dos fatores têm sido equivocadas, apesar de uma alta dose de suplementação com beta-caroteno parecer aumentar os riscos de câncer de pulmão e a alta ingestão de frutas ou alimentos contendo carotenóides poderem reduzir os riscos (5).

Apesar de o câncer de pulmão ser o mais comumente diagnosticado nos Estados Unidos, dados de coortes epidemiológicas para ingestão de carnes são relativamente escassos. De fato, no relatório sobre dieta e câncer do Fundo Mundial de Pesquisa sobre Câncer (WCRF) e Instituto Americano para Pesquisa sobre Câncer (AICR) de 2007, afirmou-se que as evidências sobre a ingestão de carnes vermelhas/processadas e câncer de pulmão eram limitadas e inconsistentes. Um grande estudo prospectivo de coorte (6) reportou um aumento estatisticamente significante de 20% nos riscos de câncer de pulmão entre os maiores consumidores de carnes vermelhas. Em uma análise da mortalidade do câncer de pulmão usando dados da Pesquisa Nacional de Questões sobre Saúde de 1987, uma associação marginalmente positiva foi reportada para uma ampla categoria de carnes vermelhas e associações positivas de 1,6, 1,3 e 2,0 foram observadas para carne suína, bovina (assados e bifes) e carne bovina moída (hambúrgueres, bolo de carne), respectivamente (7). Associações não significantes de 1,1 e 1,3 para uma variável chamada “carnes (exceto frango)” foi reportada entre homens e mulheres, respectivamente, em um estudo de coorte japonês (8).

A associação entre carnes vermelhas e câncer de pulmão foi avaliada em aproximadamente 12 estudos de caso-controle e, apesar de esses resultados terem sido variáveis, a maioria das associações é positiva. No estudo mais recente de caso-controle de 2009 (9), de os pesquisadores analisaram aproximadamente 2.000 casos de câncer de pulmão que foram recrutados de 13 hospitais na Itália. Uma associação estatisticamente significante foi observada entre o grupo de maior consumo de carnes vermelhas. Quando analisado pelo subtipo histológico, associações positivas significantes foram restritas a adenocarcinomas e carcinomas de células escamosas, mas não para câncer de pulmão de pequenas células.

As associações entre a ingestão de carnes processadas e câncer de pulmão foram mais heterogêneas do que os resultados para consumo de carnes vermelhas. Em 2007 (6), pesquisadores reportaram um aumento estatisticamente significante de 16% no risco de câncer de pulmão entre pessoas no grupo de maior ingestão de carnes processadas. Em contraste, outro estudo (7) observou uma associação inversa entre os maiores consumidores de carne processada e mortalidade por câncer de pulmão. Os autores também reportaram riscos relativos não significantes de 0,8, 0,9, 1,0 e 1,2 para as categorias de maior consumo de cachorro-quente, presunto, salsicha e bacon, respectivamente. Associações conflitantes para consumo de presunto/salsicha foram reportadas em dois estudos japoneses: em 2001, pesquisadores (10) observaram uma associação inversa estatisticamente significante entre homens e uma associação positiva significante entre as mulheres, enquanto outros pesquisadores em 2004 (8) reportaram uma associação positiva não significante entre homens e uma associação inversa não significante entre as mulheres. Em um estudo de coorte norueguês com homens e mulheres, cinco ou mais “refeições principais com carne” foram associadas com um decréscimo não significante de 10% nos riscos de câncer de pulmão, mas categorias específicas de carnes (isto é, carnes processadas ou não) não foram analisadas (11). No mesmo estudo, a ingestão de cinco ou mais frankfurters (salsicha alemã) por mês foi associada com um risco marginalmente significante de duas vezes de câncer de pulmão.

Similar aos estudos de coorte, descobertas para itens de carne processada e itens individuais de carne processadas foram inconsistentes nos estudos de caso-controle. Por exemplo, em 2009, pesquisadores (9) reportaram uma associação estatisticamente significante positiva entre as pessoas na categoria de maior consumo de carnes processadas em um estudo de caso-controle conduzido na Itália, enquanto outros pesquisadores em 2002 (12) reportaram uma associação inversa para carnes processadas em um estudo conduzido no Uruguai.

Quando se interpreta os resultados entre fatores dietéticos e câncer de pulmão, o foco central deve ser na adequação do ajuste e/ou controle do histórico de fumo. De fato, em um estudo de 2007 (6) citado anteriormente, um controle detalhado do histórico de fumo não atenuou seus resultados, mas os autores indicaram que fatores residuais que podem confundir permanecem sendo uma questão em potencial, porque o fumo é um fator de risco bem forte. Os fumantes geralmente têm dietas menos saudáveis, são mais sedentários e podem ser mais magros que os não fumantes; assim, a interpretação da literatura epidemiológica nutricional com relação ao câncer de pulmão (e outras doenças relacionadas ao fumo) deve considerar a potencial influência do status de fumo, que pode confundir os resultados.

Os mecanismos postulados pelos quais o consumo de carnes pode estar associado com o câncer de pulmão incluem exposição a mutagênicos da carne, como aminas heterocíclicas e hidrocarbonetos aromáticos policíclicos produzidos pelo cozimento em alta temperatura, ingestão de ferro heme na dieta e formação endógena de compostos N-nitroso (9). Entretanto, nenhum desses fatores foi estabelecido como contribuinte para um aumento no risco de câncer de pulmão entre os consumidores de carnes vermelhas ou processadas. Em 2009, pesquisadores (9) reportaram associações positivas com ingestões de mutagênicos da carne (PhIP, MeIQx e Bap) derivados da cocção em altas temperaturas. Outra pesquisa (13) reportou uma associação positiva para MeIQx, mas não para DiMelQx e PhlP. As descobertas de mutagênicos da carne devem ser interpretadas com certa reserva, porque esses compostos químicos são comumente quantificados baseados em estimativas indiretas.

Ainda não está claro se fatores que podem confundir e/ou confusões residuais por causa do status de fumo, ou baixo consumo de frutas e vegetais (em uma extensão menor) podem ter contribuído para as associações positivas observadas na literatura epidemiológica. Além disso, práticas de preparo, particularmente de carnes vermelhas, que resultam na produção de aminas heterocíclicas ou hidrocarbonetos aromáticos policíclicos podem contribuir para o padrão das associações positivas. O fato é que mais estudos são necessários para esclarecer qualquer potencial associação entre carnes vermelhas e processadas e o câncer de pulmão, independente dos efeitos do fumo, da baixa ingestão de frutas e vegetais e das práticas de cocção das carnes.

Referências bibliográficas

1) Adami HO, Hunter D, Trichopoulos D, eds. Textbook of Cancer Epidemiology. New York: Oxford University Press, 2002:467-85.

2) Schottenfeld D, Fraumeni Jr, JF. Cancer Epidemiology and Prevention. 2nd ed. New York: Oxford University Press, 1996.

3) Jemal A, Siegel R, Ward E, et al. Cancer statistics, 2008. CA Cancer J Clin 2008;58(2):71-96.

4) American Cancer Society (ACS). Cancer Facts and Figures 2008.

5) World Cancer Research Fund/American Institute for Cancer Research (WCRF/AICR). Food, Nutrition, Physical Activity and the Prevention of Cancer: a Global Perspective. Washington DC: AICR, 2007.

6) Cross AJ, Leitzmann MF, Gail MH, Hollenbeck AR, Schatzkin A, Sinha R. A prospective study of red and processed eat intake in relation to cancer risk. PLoS Med 2007;4(12):e325.

7) Breslow RA, Graubard BI, Sinha R, Subar AF. Diet and lung cancer mortality: a 1987 National Health Interview Survey cohort study. Cancer Causes Control 2000;11:419-31.

8) Khan MM, Goto R, Kobayashi K, et al. Dietary habits and cancer mortality among middle aged and older Japanese living in Hokkaido, Japan by cancer site and sex. Asian Pac J Cancer Prev 2004;5(1):58-65.

9) Lam TK, Cross AJ, Consonni D, et al. Intakes of red meat, processed meat, and meat mutagens increase lung cancer risk. Cancer Res. 2009;69:932-9.

10) Ozasa K, Watanabe Y, Ito Y. Dietary habits and risk of lung cancer death in a large-scale cohort study (JACC Study) in Japan by sex and smoking habit. Jpn J Cancer Res 2001;92:1259-69.

11) Veierod MB, Laake P, Thelle DS. Dietary fat intake and risk of lung cancer: a prospective study of 51,452 Norwegian men and women. Eur J Cancer Prev 1997;6:540-9.

12) De Stefani E, Brennan P, Boffetta P, et al. Diet and adenocarcinoma of the lung: a case-control study in Uruguay. Lung Cancer 2002;35:43-51.

13) Sinha R, Kulldorff M, Swanson CA, Curtin J, Brownson RC, Alavanja MC. Dietary heterocyclic amines and the risk of lung cancer among Missouri women. Cancer Res 2000;60:3753-6.

Esse artigo traz uma tradução adaptada do relatório feito pelo pesquisador Dominik D. Alexander, PhD, MSPH, epidemiologista sênior da Health Sciences Practice, Exponent, Inc., sumarizando as atuais evidências epidemiológicas relacionadas ao consumo de carnes vermelhas e carnes processadas e o câncer, publicado no site www.beefresearch.org.

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