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Cânceres nos sistemas linfático e hematopoiético e consumo de carne

O pesquisador Dominik D. Alexander, PhD, MSPH, epidemiologista sênior da Health Sciences Practice, Exponent, Inc., elaborou um relatório técnico sumarizando as atuais evidências epidemiológicas relacionadas ao consumo de carnes vermelhas e carnes processadas e o câncer. Esse relatório não teve a intenção de incluir sistematicamente todos os componentes de causa, como dose-resposta ou possibilidade biológica, entre as carnes vermelhas e processadas e tipos específicos de câncer. A ideia do trabalho foi sintetizar informações científicas relacionadas aos tipos de câncer com os quais o consumo de carne foi avaliado e recapitular algumas das associações estatísticas observadas entre a ingestão de carnes vermelhas e processadas e o câncer. Esse artigo traz uma tradução adaptada desse relatório.

O pesquisador Dominik D. Alexander, PhD, MSPH, epidemiologista sênior da Health Sciences Practice, Exponent, Inc., elaborou um relatório técnico sumarizando as atuais evidências epidemiológicas relacionadas ao consumo de carnes vermelhas e carnes processadas e o câncer. Esse relatório não teve a intenção de incluir sistematicamente todos os componentes de causa, como dose-resposta ou possibilidade biológica, entre as carnes vermelhas e processadas e tipos específicos de câncer. A ideia do trabalho foi sintetizar informações científicas relacionadas aos tipos de câncer com os quais o consumo de carne foi avaliado e recapitular algumas das associações estatísticas observadas entre a ingestão de carnes vermelhas e processadas e o câncer.

Esse artigo traz uma tradução adaptada desse relatório, publicado no site www.beefresearch.org.

Introdução

O relatório sobre dieta e câncer do Fundo Mundial de Pesquisa sobre Câncer (WCRF) e Instituto Americano para Pesquisa sobre Câncer (AICR) de 2007 afirmou que “esses cânceres (do sistema linfático e hematopoiético) têm diferentes causas não dietéticas e não existem razões para acreditar que podem ser afetados pelos alimentos, nutrição e atividade física da mesma maneira” (1). Além disso, “não existem mecanismos postulados pelos quais a carne poderia aumentar a incidência de cânceres linfóide e hematopoiético” (1). Apesar da falta de mecanismos e poucas evidências da plausibilidade biológica, a literatura epidemiológica referente a esse grupo de câncer foi sumarizada nesse artigo.

Linfoma Não-Hodgkin

Os linfomas não-Hodgkin (LNH) são um grupo heterogêneo de doenças surgindo no tecido linfóide, com características clínicas e biológicas variáveis (2). Devido à sua heterogeneidade, o NHL é dividido em neoplasma de células B e de células T, baseado em suas características histológicas, especialmente estágio de desenvolvimento do linfócito, e são classificados de acordo com características clínicas. As taxas de incidência do NHL aumentaram durante os anos setenta e oitenta, mas, de forma geral, estabilizaram-se nos anos noventa. O NHL é, atualmente, o quinto câncer mais comumente diagnosticado entre homens e mulheres nos Estados Unidos (3). Até agora, pouco se sabe sobre a etiologia do NHL, seja com classe geral de doenças, seja de seus tipos histológicos específicos. O histórico familiar de NHL ou outros cânceres de proliferação no sistema linfático ou hematopoiético e o histórico pessoal de qualquer doença severa auto-imune estão associados com maior risco de NHL, mas provavelmente não são responsáveis por uma grande proporção de casos (2). Doenças infecciosas, como AIDS, herpes vírus humano 8 e vírus Epstein-Barr parecem estar associadas com diferentes tipos de NHL, como os linfomas das células B (2).

Em uma análise de mais de 1.500 casos de NHL, pesquisadores (4) não observaram efeitos da ingestão de carnes vermelhas ou processadas nos riscos de NHL. Similarmente, outros pesquisadores em 1994 (5) não encontraram diferença significante no risco entre as categorias de maior e menor consumo de ingestão de carne processada. Em um estudo caso-controle japonês, não foi vista uma associação entre o consumo de carne bovina e o NHL (6), enquanto um estudo de caso-controle italiano (7) e um canadense (8) mostraram associações positivas não significantes de 1,1 e 1,2 para ingestão de carnes vermelhas e processadas. Outra pesquisa (9) reportou uma associação positiva significante entre a ingestão de carne bovina, suína ou de cordeiro como prato principal e o risco de NHL (pelo menos uma vez por dia versos menos de uma vez por semana, apesar de o maior risco parece ter sido limitado à carne vermelha que foi grelhada ou comida como churrasco ao invés da carne cozida de outras maneiras (assada, frita, cozida). Em contraste, outra pesquisa (10) reportou uma redução não significante de 33% no risco de NHL entre os maiores consumidores de carnes vermelhas de churrasco.

Apesar de um pouco limitadas, as evidências epidemiológicas não apoiam uma associação independente entre o consumo de carnes vermelhas e processadas e o NHL. São necessárias pesquisas adicionais para explorar qualquer associação potencial entre tipos histológicos específicos dessa doença.

Linfoma de Hodgkin

O linfoma de Hodgkin é uma doença rara, sendo responsável por menos de 10.000 casos nos Estados Unidos por ano (3). Apesar de relativamente pouco se saber sobre causas específicas dessa doença, a dieta parece não influenciar seus riscos. Os dados epidemiológicos sobre o linfoma de Hodgkin e o consumo de carnes vermelhas ou processadas são limitados. Pesquisadores italianos (7) reportaram uma associação positiva não significante entre o alto consumo de carnes vermelhas e o linfoma de Hodgkin em um estudo de caso-controle. Estudos prospectivos de coorte são necessários para avaliar a ingestão de carnes vermelhas/processadas e o linfoma de Hodgkin.

Mieloma múltiplo

O mieloma múltiplo é uma doença das células plasmáticas, resultando em uma produção excessiva de imunoglobulinas monoclonais de cadeia leve e pesada (11). O mieloma múltiplo é um câncer relativamente incomum, sendo responsável por menos de 20.000 casos anualmente (3). As causas específicas dessa doença são bastante desconhecidas, sem fatores relacionados a estilo de vida, ocupacional ou ambiental estabelecidos.

Os americanos afro-descendentes têm duas vezes mais chances de serem diagnosticados com mieloma múltiplo do que os caucasianos, os homens têm mais chance de desenvolver essa doença do que as mulheres. Pessoas com histórico familiar positivo de câncer no sistema linfático e hematopoiético e aqueles com uma condição pré-cursora chamada gamopatia monoclonal de significância indeterminada têm maior risco de desenvolver o mieloma múltiplo (11).

Fatores dietéticos de risco para mieloma múltiplo foram pouco estudados e nenhuma associação consistente surgiu da literatura. Na maior avaliação de coorte de ingestão de carne e mieloma múltiplo, nenhuma associação foi reportada para a categoria de maior ingestão de carnes vermelhas, mas uma modesta associação foi observada para carnes processadas (4). Em um estudo de caso-controle feito nos Estados Unidos, associações inversas para carnes vermelhas e processadas foram observadas entre caucasianos, enquanto associações positivas e nulas foram reportadas para carnes vermelhas e processadas, respectivamente, entre americanos afro-descendentes (12). Uma pesquisa italiana (7) reportou uma associação não significante entre a categoria de maior consumo de carnes vermelhas e o mieloma múltiplo em um estudo de caso-controle.

Evidências científicas de uma associação entre consumo de carnes vermelhas/processada e mieloma múltiplo estão limitadas a poucos estudos e, coletivamente, os dados epidemiológicos não parecem apoiar uma associação independente entre o consumo de carnes vermelhas ou processadas e essa doença.

Leucemia

As leucemias compreendem um grupo diverso de doenças que afetam várias células do sistema hematopoiético (13). As taxas de incidência da leucemia por grupos etários variam de acordo com seu tipo. A leucemia linfóide aguda é a forma mais comum da doença entre as crianças (13). Outros tipos de leucemia, com a leucemia linfocítica crônica comumente ocorre entre os idosos. Apesar de poucos fatores de risco terem sido identificados como contribuintes para certos tipos de leucemia, nenhum fator dietético foi identificado como tendo um papel significante no surgimento dessa doença.

Em um grande estudo prospectivo de coorte, a ingestão de carnes vermelhas e processadas foi associada com uma redução não significante nos riscos (9%-20%) de leucemia em todos os níveis de consumo de carne (4). O consumo de carnes vermelhas/peixe em conserva foi associado positivamente com leucemia infantil, mas esse resultado foi modificado bastante pela ingestão de vegetais e tofu (14).

As evidências epidemiológicas da associação entre o consumo de carnes vermelhas/processadas e a leucemia são limitadas e os dados disponíveis não indicam um maior risco. Estudos adicionais são necessários para avaliar adequadamente a ingestão de carnes e tipos específicos de leucemia adulta e infantil.

Referências bibliográficas

1) World Cancer Research Fund/American Institute for Cancer Research (WCRF/AICR). Food, Nutrition, Physical Activity and the Prevention of Cancer: a Global Perspective. Washington DC: AICR, 2007.

2) Alexander DD, Mink PJ, Adami HO, et al. The non-Hodgkin’s lymphomas: a review of the epidemiologic literature. Int J Cancer 2007B; 120(Suppl 12):1-39.

3) Jemal A, Siegel R, Ward E, et al. Cancer statistics, 2008. CA Cancer J Clin 2008;58(2):71-96.

4) Cross AJ, Leitzmann MF, Gail MH, Hollenbeck AR, Schatzkin A, Sinha R. A prospective study of red and processed eat intake in relation to cancer risk. PLoS Med 2007;4(12):e325.

5) Ward MH, Zahm SH, Weisenburger DD, et al. Dietary factors and non-Hodgkin’s lymphoma in Nebraska (United States). Cancer Causes Control 1994;5:422-32.

6) Matsuo K, Hamajima N, Hirose K, et al. Alcohol, smoking, and dietary status and susceptibility to malignant lymphoma in Japan: results of a hospital-based case-control study at Aichi Cancer Center. Jpn J Cancer Res 2001;92:1011-7.

7) Tavani A, La Vecchia C, Gallus S, et al. Red meat intake and cancer risk: a study in Italy. Int J Cancer 2000; 86:425-8.

8) Hu J, La Vecchia C, DesMeules M, Negri E, and Mery L. Meat and fish consumption and cancer in Canada. Nutr Cancer 2008;60:313-24.

9) Zhang S, Hunter DJ, Rosner BA, et al. Dietary fat and protein in relation to risk of non-Hodgkin’s lymphoma among women. J Natl Cancer Inst 1999;91:1751-8.

10) Cross AJ, Ward MH, Schenk M, et al. Meat and meat-mutagen intake and risk of non-Hodgkin lymphoma: results from a NCI-SEER case-control study. Carcinogenesis 2006;27:293-7.

11) Alexander DD, Mink PJ, Adami HO, et al. Multiple myeloma: a review of the epidemiologic literature. Int J Cancer 2007C;120(Suppl 12):40-61.

12) Brown LM, Gridley G, Pottern LM, et al. Diet and nutrition as risk factors for multiple myeloma among blacks and whites in the United States. Cancer Causes Control 2001;12(2):117-25.

13) Petridou E, Pourtsidis A, Trichopoulos D. Leukemias. 2nd ed. In: Adami H-O, Hunter D, Trichopoulos D, ed(s). Textbook of cancer epidemiology, 2nd ed. New York: Oxford University Press, 2008:694-715.

14) Liu C, Hsu Y, Wu MT, et al. Cured meat, vegetables, and bean-curd foods in relation to childhood acute leukemia risk: A population based case-control study. BMC Cancer 2009;9:15.

Esse artigo traz uma tradução adaptada do relatório feito pelo pesquisador Dominik D. Alexander, PhD, MSPH, epidemiologista sênior da Health Sciences Practice, Exponent, Inc., sumarizando as atuais evidências epidemiológicas relacionadas ao consumo de carnes vermelhas e carnes processadas e o câncer, publicado no site www.beefresearch.org.

1 Comment

  1. Luiz Antonio Marques de Resende disse:

    Artigo muito interessante, abordando assunto por vezes polêmico. O verdadeiro lobby terrorista contra carnes vermelhas não apresenta evidências científicas sérias que respaldem suas afirmações alarmistas.Só o estudo aprofundado,com método científico, pode elucidar temas como o abordado no artigo, afastando aleivosias e afirmações falsas, de origem sempre suspeita.