Os mercados internacionais de carne em 2001 testemunharam um aumento nos preços, exceto para carne bovina, ocorrido particularmente nas carnes de aves, devido ao surgimento de doenças animais que fecharam alguns mercados e, no caso da encefalopatia espongiforme bovina (EEB), causaram um aumento das preocupações dos consumidores com relação à saúde.
Em 2002, no entanto, a expectativa é de um retorno aos padrões anteriores de consumo, o que dará algum suporte aos preços internacionais da carne bovina, enquanto que deverá ocorrer uma menor produção desta carne nos Estados Unidos, o maior mercado de importação de carne bovina do mundo, além de uma retomada nas exportações de carne bovina de alta qualidade da América do Sul para a Europa.
O aumento de carnes e produtos derivados destinados à exportação poderá, entretanto, reprimir qualquer alteração que gere aumento dos preços. A previsão geral dos preços será afetada também pela barreira imposta pela Rússia no início do ano de 2002 com relação às carnes de aves dos EUA, que provocou uma queda pronunciada nos preços das carnes neste país. Os preços menores da carne de frango durante o ano poderão limitar as alterações dos preços das demais carnes neste mercado.
O consumo global per capita de carnes em 2002 deverá se recuperar em cerca de 1%, para 38,8 quilos, após o declínio sofrido em 2001, pela primeira vez em 30 anos. Nos países desenvolvidos, o consumo per capita de carnes deverá aumentar para cerca de 78,3 quilos, após o declínio ocorrido nos dois últimos anos. O ganho no consumo de carnes que deverá ocorrer nos países em desenvolvimento não deverá alcançar a taxa média de crescimento da última década, que foi de 4,1%, mas deverá crescer cerca de 2%, atingindo o volume per capita de 28,2 quilos.
O fornecimento de carne bovina aumenta após o impacto das doenças animais
Após o impacto adverso causado pelo surgimento das doenças animais durante o ano de 2001, os mercados de carne estão preparando-se para um aumento pronunciado no fornecimento de carnes em 2002, antecipando o retorno do consumo aos níveis anteriores e os padrões de vendas. Como os países exportadores colocaram um fim nos abates de grande quantidade de animais e na vacinação contra a febre aftosa, que caracterizaram os mercados de carne em 2001, a previsão é que a produção de carne em 2002 aumente para 241 milhões de toneladas, 2,4% maior do que no ano anterior, que experimentou o menor crescimento das últimas duas décadas.
Todos os tipos de carne deverão apresentar crescimento da produção em 2002, sustentadas pelo aumento dos preços do ano passado, e pelos custos estáveis dos alimentos dos animais.
Depois de uma queda de 1% no ano de 2001, a produção de carne bovina deverá se recuperar para um recorde de 60 milhões de toneladas neste ano, o que denota um aumento de 2%. Os países em desenvolvimento deverão expandir sua participação na produção global em 2002, atingindo um aumento de 4% em sua produção. Isso será facilitado pela redução na produção dos EUA – responsável pela produção de um quinto da produção global de carne bovina -, e pelo contínuo fortalecimento no crescimento da produção dos grandes países em desenvolvimento, como o Brasil e a China. A retomada dos padrões normais de abates na União Européia deverá gerar um aumento de 4% na produção de carne bovina, enquanto o declínio da produção ocorrido na última década nas economias em transição deverá se estender durante o ano de 2002.
A produção de carne ovina e caprina, apesar do declínio no fornecimento dos países desenvolvidos, deverá aumentar 2,3%, devido principalmente ao crescimento da produção na China, o maior produtor da Ásia, com ganhos adicionais no Paquistão e na Índia. Deverá ocorrer uma recuperação na produção no Afeganistão, República do Irã e Sudão; o Oriente Médio também influenciará neste mercado durante 2002. Deverá ocorrer também uma redução na produção na Oceania neste ano, em resposta à reconstrução dos rebanhos na Nova Zelândia.
Os preços moderados dos alimentos animais e a forte demanda deverão gerar ganhos respectivos na produção de 2,9% e 2,4%, nos setores de carne de frango e de suínos, com expectativa de grandes ganhos na América do Sul e na Ásia. A maioria do aumento da produção de carne de frango deverá ser gerada pelos países em desenvolvimento. No entanto, a participação destes países na produção global de carne de frango deverá cair marginalmente em 2002, para 29,7%, enquanto deverá haver recuperação do crescimento em outras carnes.
Comércio de carnes: previsão favorável, com recuperação do consumo e preços estáveis
O aumento das exportações de carnes pelos países que tiveram suas exportações restritas em 2001 devido às doenças animais, especificamente o Uruguai, a Argentina, alguns países da União Européia e a República da Coréia, deverá estimular as exportações globais de carne em 2002. A previsão é que a exportação global de carnes atinja o volume de 18,4 milhões de toneladas em 2002, 4% a mais do que o volume exportado em 2001. A expectativa é de grandes lucros no setor de carnes em 2002, incluindo-se todas as carnes exceto a carne ovina, que deverá sofrer contração, devido à redução das exportações da Oceania.
Após um declínio estimado de cerca de 3% em 2001, as exportações de carne bovina deverão alcançar o volume recorde de 5,8 milhões de toneladas em 2002, 4,4% a mais do que os níveis do ano anterior. Muitos mercados anteriormente fechados para produtos derivados de carne provenientes de países da América do Sul e da Europa que apresentaram casos de febre aftosa estão reabrindo, o que implica em uma reorganização nas participações neste mercado em 2002.
Para a América do Sul, a previsão é de que haja uma subida de 20% nas exportações de carne bovina para os mercados regionais sul-americanos e para alguns países selecionados da UE. Uma vez que a Argentina e o Uruguai são atualmente reconhecidos oficialmente como “livres de febre aftosa com vacinação”, isso fará com que esta região consiga ficar com 1 quinto do mercado global de carne bovina.
Enquanto as exportações da UE deverão apresentar um forte crescimento nos lucros de exportação, o volume de 600 mil toneladas que deverá ser exportado ainda está significativamente abaixo do limite de exportação subsidiada determinada pela Organização Mundial do Comércio (OMC), que é de 822 mil toneladas.
Na América do Norte, a reconstrução de rebanhos, os altos preços e o fortalecimento do dólar irão pressionar as exportações dos EUA para baixo, em cerca de 5%.
Com relação às importações, mercados como o do Egito, da República da Coréia, da Rússia, do Canadá e dos Estados Unidos deverão registrar um fortalecimento nas importações. Em contraste, o impacto das preocupações referentes à saúde dos alimentos crescentes no Japão, devido ao surgimento de casos da encefalopatia espongiforme bovina (EEB) no país em 2001, deverá se manter em 2002, com os consumidores japoneses, pelo segundo ano consecutivo, apresentando uma redução no consumo de carne bovina importada.
Uma considerável instabilidade no mercado global de carne de aves deverá ocorrer durante o primeiro trimestre de 2002. Assuntos relacionados às doenças das aves e as preocupações com relação ao uso de antibióticos não autorizados no alimento desses animais levarão a um grande número de proibições e ao aumento das inspeções e testes nas carnes. Isso inclui os antibióticos ilegais utilizados nos frangos chineses e tailandeses, a barreira imposta pela Rússia à carne de frango dos EUA, bem como as barreiras relacionadas ao surgimento do vírus de baixa patogenicidade da influenza aviária no leste dos EUA e da gripe aviária na China (Mainland) e em Hong Kong.
Apesar de todas essas incertezas, o comércio global de carne de aves deverá apresentar aumento de cerca de 4%, para quase 8 milhões de toneladas em 2002. Muitas dessas barreiras de mercado deverão ser de curta duração e a demanda de importação, que poderá estar prejudicada nos primeiros meses de 2002, deverá se recuperar rapidamente. As importações feitas pela Rússia, após terem aumentado 11% em 2001, deverão apresentar um crescimento de 1% neste ano. A queda nos preços das carnes de aves dos EUA, de quase 30%, resultado da barreira de importação imposta pela Rússia, deverá induzir ao fortalecimento das compras de carnes norte-americanas por outros mercados, particularmente na Ásia e na América Central. Por enquanto, as preocupações relacionadas à EEB no Japão estão estimulando as importações de carne de aves.
A forte demanda por carne suína na Ásia, continente responsável por quase metade das importações globais desta carne, deverão estimular o aumento no comércio de carne suína em 2002, que deverá ser de cerca de 5%, atingindo o volume de 3,6 milhões de toneladas. A imposição japonesa, em agosto de 2001, de uma salvaguarda (altas tarifas em resposta aos aumentos das importações) nas importações de carne suína deverá provocar uma contração nas importações no final de 2001 e início de 2002. Entretanto, as preocupações com a EEB e a substituição da preferência do consumidor japonês para outras carnes que não a bovina, estimulou o aumento nas exportações de carne suína em 2001 de 30%, aumentando os preços de importação no Japão em 25%.
As importações de carne suína pelo Japão, o maior mercado para esta carne do mundo, deverão se manter fortes em 2002, apesar da possibilidade da salvaguarda de importação ser automaticamente mantida neste ano. A demanda para carne suína deverá se manter forte também em Hong Kong, República da Coréia, México e Rússia. A forte competição da indústria de carne suína do Canadá e o alto valor da moeda dos EUA deverão reduzir as exportações desta carne deste país em 2002, enquanto uma redução nos preços na UE e no Brasil, no contexto da grande produção, deverá facilitar a exportação de produtos.
Fonte: FAO’s Meat Market Update, adaptado por Equipe BeefPoint