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Castração

Por Marcelo Q. Manella1, Carolina F. Moysés Nascimento2

A castração do macho consiste na ablação testicular ou na supressão funcional dos seus órgãos reprodutores. Prática esta, utilizada desde antes da era cristã, favorece, o acúmulo de gordura na carcaça, principal razão para sua utilização naqueles tempos, além disso, facilita o manejo tornando os animais mais dóceis. Apesar da castração ser uma técnica de manejo utilizada em praticamente todas as propriedades de gado de corte no país, ainda existem muitas dúvidas, como quais as vantagens de castrar ou não, métodos de castração e melhor idade para a castração. Este artigo tem por objetivo esclarecer algumas destas dúvidas.

Os animais inteiros apresentam maiores taxas de crescimento, têm melhor conversão alimentar e produzem carcaças mais pesadas com maior proporção de músculos, porém com menos gordura, perdendo em qualidade e consequentemente em valor comercial (tabela 1). Estas características e devem principalmente a ação dos hormônios da reprodução produzidos pelos testículos durante e após a puberdade. No Brasil os frigoríficos exigem a castração dos animais, pois animais inteiros apresentam cobertura de gordura inadequado, e carcaças menos uniformes.

Tabela 1- Efeitos dos métodos de castração sobre características produtivas de bovinos.


Estas restrições a animais inteiros se deve principalmente pelo mal acabamento. Pois, durante o processo de resfriamento a gordura de cobertura confere a carcaça uma proteção contra o frio evitando assim uma possível “queima” durante o resfriamento, e em conjunto com a gordura intramuscular (marmoreio) impedem a queda repentina da temperatura, evitando também o chamado encurtamento pelo frio (cold shortening), além de preservar a qualidade da carne no que diz respeito às características organolépticas, as quais estão diretamente relacionadas à aceitabilidade pelo mercado consumidor. Carcaças com maior espessura de gordura apresentaram queda de temperatura e do pH no tempo ideal, sem prejudicar a qualidade da carne (ver artigo Importância da gordura na carcaça e na palatabilidade da carne 29/11/2002). No mesmo trabalho, também foi observado a diminuição nas perdas da carcaça durante o processo de resfriamento convencional de 12 g/kg para 10,7g/kg com o aumento da camada de gordura de cobertura (0 a 40mm).

Devido aos aspectos acima descritos, além é claro da maior susceptibilidade de animais inteiros ao estresse pré-abate, os animais inteiros invariavelmente tendem a apresentar carne menos macia que os castrados. Isto também pode estar relacionado com a idade de abate. Animais inteiros abatidos com até 24 meses de idade e bem acabados, apresentaram característica de maciez e aceitação pelos consumidores semelhantes a animais castrados, entretanto ao abater animais com idade mais elevada, observa-se aumento na força de cizalhamento. Segundo Feijó (2000), quando animais inteiros são abatidos com idade inferior a 24 meses, as características de qualidade de carcaça são semelhantes entre os castrados, deste que abatidos com boa cobertura de gordura.

A idade de abate e o grau de acabamento são importantes fatores que afetam a maciez da carne de animais inteiros, portanto os animais inteiros não devem ser abatidos acima de 24 meses de idade. Nas condições gerais do Brasil Central, em que os novilhos alcançam a idade de abate aos 36-48 meses, não pode ser dispensada a prática da castração. No entanto quando animais inteiros são submetidos, ainda jovens, a altos níveis nutricionais, em confinamento, conseguem alcançar cobertura de gordura adequada, que é em média 5 mm de gordura, garantindo boa qualidade da carcaça (KEPLER et al., 2001, FELICIO, 1994).

O método de castração mais empregado é o da orquiectomia bilateral, que consiste na prática tradicional da retirada dos testículos por meio cirúrgico. Possui como desvantagem ser cruento, susceptível de contaminação por microorganismos patogênicos e infestações por larvas de moscas, dificultando a cicatrização. Por outro lado tem como vantagem a extirpação total dos testículos, desde que realizado sob condições higiênicas e com processo hemostático para animais maiores, é a forma mais eficiente de castração.

Outros métodos considerados não invasivos, como a emasculação do cordão espermático pelo burdizzo ou pelo elastrador, também podem ser usados. Em geral, não existem diferenças quando comparamos esses métodos de castração (a faca tradicional, com burdizzo ou com elastrador) em relação ao desempenho animal. Outros métodos de castração pouco conhecidos são: químico-biológicos, com o uso de produtos estrogênicos que agem sobre os testículos inibindo a sua função reprodutiva; castração química (injeção de aldeído fórmico, cloreto de cádmio, etanol, ácido láctico, cloreto de cálcio, ácido tânico, sulfato de zinco) e vacinas para imunização de animais inteiros é efetiva em diminuir a produção de hormônios, evitando carcaças com características indesejáveis peculiares a esses animais (coloração escura, pouca gordura).

Alguns técnicos e produtores criticam a emasculação (Burdizzo) em função de notarem alta ineficiência da técnica (>30%). Entretanto esta ineficiência esta relacionada a incapacitação técnica e falta de treinamento de mão de obra. As vantagens desta técnica é a menor incidência de problemas secundários como miíases e infecções, além de ser menos cruento e propiciar recuperação mais rápida dos animais.

Ainda discute-se muito sobre qual a idade ou a época correta para a castração. As idades preconizadas variam desde logo após o nascimento dos bezerros até poucos meses antes do abate. A sugestão feita por grande parte dos produtores é que os animais sejam castrados mais tardios para que possa explorar o maior potencial de ganho devido a ação dos hormônios testiculares, em geral esta idade é em torno do 18 meses. Trabalhos recentes demonstram não haver diferenças entre a castração aos 18 meses, aos 12 meses na desmama ou ao nascer (Tabela 2, Tabela 3 e Figura 1). Por outro lado as vantagens de castrar animal ao nascer são: menor risco e estresse do animal, e o uso de anti-sépticos e cicatrizantes com função larvicida é mínimo e o custo operacional é menor, se comparado ao gasto e esforço hora/homem realizado com animais maiores.

Tabela 2 – Efeito da idade de castração sobre o ganho de peso, qualidade da carcaça e tempo para acabamento da carcaça de animais ½ sangue-nelore Angus ou 1/2 sangue simental-nelore


Obs.: Os animais foram abatidos ao atingirem em torno de 5,0 mm de gordura.
Fonte: Keppler et al (2001).

Na tabela dois é possível notar que animais inteiros permaneceram um maior período no confinamento para que atingissem o acabamento mínimo para o abate de 5 mm de gordura, em relação aos animais castrados ao nascimento (136 x 111 dias). Este fato se explica pela necessidade dos animais inteiros serem abatidos com maior peso para que tenha o acabamento ideal, pois a deposição de gordura inicia-se é mais tardia neste tipo de animal. No entanto ao disponibilizar elevados planos nutricionais para os animais inteiros imediatamente após a desmama (Inteiros + confinamento após a desmama) estes tiveram um período de confinamento maior, porém com acabamento de gordura e peso de carcaça semelhantes aos animais castrados.

Com relação a idade a castração os animais, os animais castrados ao nascer com ou sem acesso ao creep apresentaram períodos de confinamento superiores aos animais castrados a desmama ao aos 12 meses. Estes por outro lado não apresentaram diferenças significativas para tempo de confinamento. No entanto animais castrados a desmama tiveram menores peso de carcaça, que muito provavelmente pode ter ocorrido em função de perdas por estresse da desmama por si só, e da castração.

No aspecto geral, surpreendentemente, o creep teve pouco efeito no peso final ou tempo de confinamento, que muito provavelmente os benefícios do creep possam ter sido perdidos na fase de recria. Quanto ao uso de animais inteiros para abate, é necessário adotar planos nutricionais com alta densidade energética, porém estando atento ao maior peso de abate e tempo de confinamento. A exceção é para animais super-precoces que são confinados imediatamente após a desmama, sendo possível antecipar a deposição de gordura, sendo abatidos com peso semelhante ao dos castrados.

A puberdade de machos coincide com o período de grande ganho em peso e associado ao rápido crescimento testicular, aumento da secreção de LH e início da espermatogênese. Castro et al. (1990) observaram em zebuínos que a puberdade ocorreu aos 17 meses de idade. Mais recentemente, Unanian (1997) observou o aparecimento da puberdade em machos Nelore variando de 12,2 a 16,0 meses de idade. Em síntese, a puberdade do animal geralmente se dá em torno dos 16 a18 meses de idade, período onde a taxa de crescimento muscular é maior. Sendo esta a idade em que os animais geralmente são castrados, principalmente para obtenção de novilhos precoces, desta forma os benefícios de ganho de peso em função da ação dos hormônios e são mínimos, ou inexistentes (Tabela 3).

Figura 1: Desenvolvimento de animais da desmama ao abate de castrados em diferentes fases


Fonte: Adaptado Feijó et al. (2000).

Tabela 3: Características de carcaça de animais castrados em diferentes idades


Fonte: Adaptado Feijó et al. (2000)

Todavia para se obter uma carcaça de qualidade nos moldes brasileiros, é necessário que se faça a castração dos animais para bom acabamento de carcaça, tendo em vista que os frigoríficos tem restrições quanto a lotes de animais inteiros.

A decisão de castrar é exclusiva do produtor, e este deve considerar sempre a economicidade da prática. Além do possível menor valor comercial, aspectos ligados a manejo dentro da fazenda devem ser levados em consideração. Levar em conta os riscos associados a penalidades, principalmente de animais terminados a pasto ou mais velhos. No entanto o abate de animais inteiros jovens (até 24 meses), desde que submetidos a bom plano nutricional que permita um bom acabamento, pode ser vantajoso do ponto de vista econômico, em função do maior peso de carcaça. Porém vale salientar que ainda assim há riscos de penalidades pelo frigoríficos a carcaças de animais inteiros.

Referências bibliográficas

FELICIO, P.E. Dois aspectos de competitividade da carne de Bos indicus, um positivo, outro negativo. I Congresso Brasileiro das Raças Zebuínas. Anais … Associação Brasileira de Criadores de Zebu. Uberaba MG, p.63-71, 1994.

KEPLER, E.F.; GERALDO R.F.; GÉLSON L.D.F.; VALÉRIA P.B.E.; LUIZ O.C.S.; VIVIANE Q.C. Efeito da idade à castração e de grupos genéticos sobre o desempenho em confinamento e características de carcaça. Revista Brasileira de Zootecnia, Viçosa, v.30, n.1, p.71-76, 2001.

SILVA, F. F. Aspectos produtivos da castração de novilhos de corte. Caderno Técnico de Medicina Veterinária e Zootecnia, n. 33, p. 68-69, 2000.

TAYAROL, C.L. Relação ter a nutrição e a castração dos bovinos. Revista Nelore, março, n.95, p.10-11, 2003.

FIELD, R.A. Effect of castration on meat quality and quantity. Journal of Animal Science, v. 32 (5) p.849. 1971.

SEIDEMAN, S. C.; et al. Utilization of the intact male for red meat production: A review. Journal of Animal Science, v. 55 (4) p.826. 1982.

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1Marcelo Q. Manella é Doutor em Ciência Animal e Pastagens e pesquisador do Instituto de Zootecnia SP

2Carolina F. Moysés Nascimento é Medica Veterinária e estagiária do Instituto de Zootecnia.

0 Comments

  1. Fazenda Esmeralda/Guzerá VAR disse:

    Gostei muito da matéria, pois é um assunto que há várias controversias e o que foi comentado realmente ocorre na prática, aqui em nosso manejo. Os animais guzoneis (Guzerá x nelore) castramos aos 18 meses de idade com 13 @ e percebemos que pesam menos que os animais inteiros mas em compensação o giro é mais rápido e estando gordo pode sair a qualquer peso para abate.

  2. JORGE DANIEL CWIRKO HURTADO disse:

    gostei muito de sue material

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