Atualmente, a alimentação é uma das maiores preocupações dos consumidores em relação aos possíveis danos à saúde, ou a resíduos que possam se acumular no organismo, e provocar ou contribuir no desenvolvimento de distúrbios à saúde humana. Mais além, passou-se ao interesse em alimentos que não só fossem inofensivos, mas que também prevenissem contra qualquer tipo de injúria, denominados “nutracêuticos”, por possuírem funções nutritivas e terapêuticas.
O consumo de carne bovina freqüentemente é relacionado com danos à saúde humana, porém devemos ter muito cuidado e critério ao analisar esse tipo de informação por não haver nenhuma prova científica de relação direta entre o consumo adequado de carne bovina e problemas de saúde. Há, sim, provas de que a total abstenção de ingestão de carne vermelha leva a distúrbios neurológicos por deficiência de vitaminas do complexo B. O consumo de gorduras animais tem sido apontado como responsável por um grande número de desordens metabólicas como câncer, diabetes, aumento da pressão e doenças coronarianas.
Não se pode confundir consumo de carne vermelha com consumo excessivo de gordura. Esse último sim pode ser prejudicial à saúde, levando ao desenvolvimento de doenças cardiovasculares. Recentes pesquisas mostram que o consumo moderado de gordura não é prejudicial à saúde como se acreditava antigamente.
Nós consumidores, devemos ser melhor informados sobre qualquer risco em relação à qualidade do produto que estamos consumindo, e esse processo estará cada vez mais forte com a aplicação da rastreabilidade a todos os setores da cadeia produtiva da carne. Segundo WILLET et al. (1993) citado por BAUMAN et al. (1998), estudos epidemiológicos demonstraram que a ingestão de ácidos graxos trans de origem vegetal, e não animal, são correlacionados à doenças cardiovasculares.
Ao contrário de tudo, recentes estudos mostram a presença, em produtos de origem animal como a carne e o leite, de substâncias como o ácido linoléico conjugado (CLA) que apresentam propriedades de grande benefício à saúde humana. Estudos comprovam que o CLA diminui o colesterol, previne o diabetes, diminui aterogênese, ativa o sistema imune e principalmente ação anticarcinogênica (BAUMAN & KELLY, 1997).
Fontes animais são mais ricas em CLA do que fontes vegetais, sendo que alimentos provenientes de ruminantes (bovinos e ovinos) são mais ricas que de não ruminantes (porco, frango e peixes).
O CLA pode apresentar diferentes quantidades na carne bovina podendo sua concentração ser aumentada ou diminuída devido a alguns fatores como a alimentação e genética. Sendo assim, a concentração da CLA na carne bovina pode ser um fator a ser explorado na comercialização da carne como um produto diferenciado, que previna contra vários distúrbios metabólicos e principalmente com ação contra o aparecimento e desenvolvimento de tumores. O leite e a carne de ruminantes são as principais fontes de CLA na nutrição humana.
A formação dos isômeros do CLA ocorrem no rúmen através da incompleta biohidrogenação de ácidos graxos polinsaturados. Normalmente a biohidrogenação no rúmen acontece de forma completa, porém alguns produtos intermediários podem atravessar o rúmen e serem utilizados no metabolismo ou nas reservas de gordura dos animais
Os estudos com CLA começaram em 1979 com a descoberta de uma substância antimutagênica e anticarcinogênica em hambúrgueres. Essa substância, então denominada CLA, também apresenta ação como partidor de nutrientes levando a uma maior deposição de músculo em detrimento de gordura na carcaça.
Fatores que influenciam a quantidade de CLA na carne bovina
Vários fatores podem alterar o ambiente ruminal, aumentando de 2 a 3 vezes a produção ruminal de CLA. Alguns desses fatores estão descritos na tabela abaixo:
Tabela 1. Fatores afetando a produção de CLA no rúmen
Outros fatores como a idade e genética também influenciam a quantidade de CLA nos produtos de origem animal. Como podemos observar na tabela acima, com o aumento da quantidade de forragem na alimentação de bovinos, há aumento na produção de CLA no rúmen. No Brasil, praticamente toda a carne produzida provém de animais oriundos de sistemas de produção baseados em pastagens, o que proporciona uma carcaça com maior concentração de CLA, substância natural conhecidamente com ação anticarcinogênica, e que seria desejável por qualquer consumidor no mundo.
Toda a cadeia produtiva da carne deveria atentar mais para essas e outras qualidades, como a isenção de substâncias anabolizantes, no momento de se comercializar nossa carne para exportação. É visível o aumento da atenção dos consumidores para o slogan “boi orgânico”. Com certeza um slogan “carne sem anabolizantes e com ação anticarcinogênica” seria bem aceito e chamaria a atenção dos consumidores mundiais para o nosso produto.
Bibliografia consultada
BAUMAN, D.E.; CORL, B.A.; BAUMGARD, L.H. GRINARD, J.M. Trans fatty acids, conjugated linoleic acid and milk fat synthesis. Anim. Sci. Cornell, Cornell University, New York, 1998.
BAUMAN, D.E.; KELLY, M.L. Conjugated linoleic acid: a potent anticarcinogenic found in milk fat. In Second Provita Science Simposium Cornell University, 1997.
BAUMAN, D.E.; KELLY, M.L. Conjugated linoleic acid: A potent anticarcinogen found in milk fat, II Annual Provita Science Symposium, Cornell University, New york, 1997.
CHOUINARD, P.Y.; BAUMAN, D.E.; CORL, B.A.; BAUMGARD, L.H.; McGUIRE, M.A.; GIESY, J.G. An update on conjugated linoleic acid. Proceedings of the 1999 Cornell Nutricional Conference, Cornell University, New york, 1999.
DUGAN, M.E.R.; AALHUS, J.L.; SCHAEFER, A.L.; KRAMER, J.K.G. The effect of conjugated linoleic acid on fat to lean repartitioning and feed conversion in pigs. Canadian J. Anim. Sci., v. 77, p. 723-725, 1997.
ENSER, M.; SCOLLAN, N.D.; CHOI, N.J.; KURT, E.; HALLET, K.; WOOD, J.D. Effect of dietary lipid on the content of conjugated linoleic acid in beef muscle. Anim. Sci., v. 69, p. 143-146, 1999.
LANNA, D.P.; MEDEIROS, S.R. Manipulação da composição do leite e do metabolismo de nutrientes usando isômeros do ácido linoléico conjugado. Anais, II Simpósio Internacional sobre qualidade do leite, Curitiba, 2000.
MEDEIROS, S.R.; LANNA, D.P. Uso de aditivos na bovinocultura de corte, Anais, Simpósio goiano sobre produção de bovinos de corte, Goiânia, 1999.
SEBÉDIO, J.L.; GNAEDIG, S.; CHARDIGNY, J.M. Recent advances in conjugated linoleic acid research. Inst. National de la Research Agonomique, Dijon, France, 1999.
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Parabenizo o Dr André pelo texto elucidativo.
Trabalho há 15 anos como veterinário ligado à área e produção animal (corte e leite) no Rio Grande do Sul, e tenho a convicção de que se a sociedade brasileira fosse corretamente informada pela mídia a respeito dos benefícios de uma ingestão equilibrada de proteína animal, seríamos um povo muito mais saudável e longevo.
Afinal, o que mata ou engorda: os laticínios e a carne vermelha ou os “refrigerantes e chips”?
Quem vive mais; um Francês, um Português, um Espanhol ou um Norte Americano?
Um abraço,
João Francisco S. Vaz
CRMV 4561
Tudo o que quero falar esta neste artigo sobre os búfalos.
A carne dos búfalos apresenta características qualitativas similares à dos bovinos, sendo mais magra e tendo um baixo nível de colesterol.
Comparada à bovina apresenta 40% menos colesterol, 12 vezes menos gordura, 55% menos calorias, 11% a mais de proteína e 10% a mais de minerais. Devido aos baixos índices de gordura e colesterol é uma carne
indicada para pessoas com problemas cardíacos.
O leite tem coloração branco-opaca e sabor adocicado. É mais concentrado do que o dos bovinos. Possui maiores teores de proteína, gordura e minerais. A grande importância do leite bubalino está em proporcionar produtos lácteos de grande qualidade (mozzarella e iogurte). Seu rendimento industrial pode superar o rendimento do leite bovino em mais de 40%.
Devido às características inerentes à espécie, que vão desde rusticidade até a produção de alimentos de alta qualidade, a bubalinocultura seria uma alternativa à agricultura familiar no extremo sul do país, pois
ajudaria a melhorar a qualidade de vida desses pequenos produtores, mantendo-os no campo.
“Maria Cecilia Florisbal Damé – Pesquisadora da Embrapa Clima Temperado – Pelotas, RS”