Por Francisco Lobato1 e Ronnie A. Assis2
As enfermidades causadas por microrganismos do gênero Clostridium levam à perdas consideráveis no rebanho, uma vez que o tratamento na grande maioria dos casos é impraticável. Devido às características ecológicas dos agentes, que são ubiqüitários do trato digestivo dos animais e solo e pela forma de resistência na natureza por meio de esporos, a erradicação das enfermidades é praticamente impossível. O controle e profilaxia deve ser feito a partir de medidas adequadas de manejo e com vacinações sistemáticas de todo o rebanho, já que os animais estão em permanente contato com os agentes e com os fatores que poderão desencadear as enfermidades.
A eficiência das vacinas clostridiais relaciona-se à natureza do(s) antígeno(s) que as compõem, sendo estes toxóides (o antígeno é a toxina inativada) e/ou bacterinas (o antígeno é a célula bacteriana). Elas são de natureza altamente antigênicas, quando bem elaboradas, oferecendo boa proteção aos animais. As vacinas comerciais são combinadas ou compostas por múltiplos antígenos e são usadas como estratégia frente a uma grande variedade de agentes e ou produtos tóxicos que podem participar das enfermidades (Tabela 1).
Tabela 1. Composição antigênica das vacinas clostridiais
Fatores relacionados ao controle de vacinas
No Brasil, atualmente está havendo um incremento na produção de vacinas indicadas para clostridioses. Isto se deu em razão às modificações ocorridas nos sistemas criatórios do país, levando ao surgimento de novas enfermidades e recrudecimento de outras.
Em relação à composição antigênica das vacinas utilizadas no país, estas são compostas de antígenos para mionecroses, enterotoxemia, hemoglobinúria bacilar, hepatite necrótica, botulismo e tétano. Todas são polivalentes, com exceção de duas vacinas monovalentes para C. Chauvoei .
Um outro aspecto importante em relação às vacinas clostridiais é a inexistência de controle oficial que ateste a qualidade quanto à inocuidade, esterilidade e potência de todos os antígenos destes produtos. Atualmente, apenas C. Chauvoei e toxóide botulínico são avaliados sistematicamente pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, sendo portanto a qualidade dos demais antígenos, deixados a cargo das indústrias produtoras.
Trabalhos realizados por Lobato (1989), e as avaliações de vacinas contra C. Perfringens tipos C e D realizadas por Azevedo et al. (1998) e Lobato et al. (2000), a avaliação das vacinas contra C. Septicum por Dias (2003), C. Sordellii por Lobato et al. (2004) e de vacinas contra C. Novyi tipo B por Nascimento et al. (2004), demonstraram um baixo poder imunogênico dos produtos nacionais disponíveis no mercado, quando avaliados.
As vacinas clostridiais devem ser administradas por via subcutânea preferencialmente, sendo duas doses intervaladas de 4-6 semanas e reforço 12 meses após, com exceção de C. Haemolyticum que deverá ser semestral. Quando o rebanho é sistematicamente vacinado, os anticorpos colostrais protegem os bezerros por até 3-4 meses após o nascimento, devendo então a primo-vacinação ser realizada após este período (Roussel & Herdje, 1990).
Referências bibliográficas:
AZEVEDO, E.O.; LOBATO, F.C.F.; ABREU, V.L.V.; MAIA J.D.; NASCIMENTO, R.A.P. Avaliação de vacinas contra Clostridium perfringens tipos C e D. Arquivo Brasileiro de Medicina Veterinária e Zootecnia, v.50, n.3, p.239-242, 1998.
LOBATO, F.C.F. Avaliação de imunógenos antibotulínicos em uso no Brasil. Dissertação (Mestrado)-Escola de Veterinária-Universidade Federal de Minas Gerais, 1989.
DIAS, L.D. Avaliação de eficiência de vacinas contra Clostridium septicum. Dissertação (Mestrado). Escola de Veterinária- Universidade Federal de Minas Gerais, 2003.
LOBATO, F.C.F.; MORO, E.; UMEHARA, O.; ASSIS, R.A.; MARTINS, N.E.; GONÇALVES, L.C.B. Avaliação da resposta de antitoxinas beta e épsilon de Clostridium perfringens induzidas em bovinos e coelhos por seis vacinas comerciais no Brasil. Arquivo Brasileiro de Medicina Veterinária e Zootecnia, v.52, n.4, p.313-318, 2000.
LOBATO, F.C.F.; ASSIS, R.A.; BALSAMÃO, G.M.; ABREU, V.L.V.; NASCIMENTO.; R.A.P, NEVES, R.D. Eficácia de vacinas comerciais contra clostridioses frente ao desafio com Clostridium sordellii. Ciência Rural, v.34, n.2, p.439-442, 2004.
NASCIMENTO, R.A.P.; LOBATO, FCF.; ABREU, VLV.; MARTINS, NE, ASSIS RA.; CARVALHO FILHO, MB. Avaliação de vacinas contra Clostridium novyi tipo B. Arquivo Brasileiro de Medicina Veterinária e Zootecnia, v.56, n.1, p.1-6, 2004.
ROUSSEL, A.J.; HJERPE, C.A. Fluid and electrlyte therapy/bovine herd vaccination programs. The Veterinary Clinics of North America-Food Animal Practice, v. 6, n.1, p.169-260, 1990.
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1 Prof. Doenças Bacterianas da Escola de Veterinária da UFMG
2 Méd Vet, Mestre em Medicina Veterinária, Doutor em Ciência Animal
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Gostaria que fosse ampliada a discussão a respeito da eficácia das vacinas nacionais contra os clostridios que não são fiscalizados pelo MAPA. Pois segundo os trabalhos, um diz que somente as vacinas Fortres e Sintoxan possuem níveis adequados de toxóides de C. perfringens, e um outro trabalho conduzido por uma universidade da Paraíba comprovou que a vacina Polisinto-vac também possuía títulação adequada. Fica a pergunta a respeito das vacinas nacionais, não existe um parâmetro de titulação, um mínimo necessário para produzir imunidade? Há em curso, algum trabalho sobre a eficácia das vacinas nacionais?
Boa Noite,
Estamos com um problema muito serio em nossa fazenda, algumas vacas apresentam traços de sangue na urina, não sei se pode ser algum tipo de hemoglobinúria bacilar. O fato é que os animais ficam fracos muito magros e morrem. Porém este periodo demora mais de 4 meses, desde a tetecção do sangue na urina até a morte da vaca. Apenas as vacas apresentam este problema, nenhum touro morreu com este sintoma, vacas de primeira cria ja apresentarem este problema. Gostaria da ajuda de voces para aprender o caminho das pedras, e se existe alguma vaciana que possa usar como preventivo.
Obrigado
“Prezado Gelson Luiz Kruger”,
Seria recomendado encaminhar material para diagnóstico laboratorial. De posse do diagnóstico, aplicar as medidas necessárias para a enfermidade em questão
Cordialmente,
Ronnie