Em dia de poucas novidades sobre os fundamentos, os investidores aproveitaram a sessão para uma correção de preços dos grãos negociados na bolsa de Chicago. O mercado está mais otimista após um início de semana marcado pela aversão ao risco, causada por especulações sobre um possível calote da incorporadora chinesa Evergrande.
Após quatro quedas seguidas, o milho voltou a subir. O contrato para dezembro, o de maior liquidez, avançou 1,64% (8,50 centavos de dólar), a US$ 5,250 o bushel, e o de segunda posição, para março, fechou em alta de 1,52% (8 centavos de dólar), a US$ 5,330 o bushel.
Apesar disso, os preços seguem pressionados pela colheita nos Estados Unidos, que tende a continuar acelerada diante das previsões climáticas de tempo seco em boa parte do Meio-Oeste americano. O mercado aguarda números consolidados da colheita para traçar uma nova direção de preços.
“Quando se trata de produção, estamos começando a ver mais atenção aos balanços de milho. As últimas previsões do USDA [Departamento de Agricultura dos EUA] não deixam muito espaço para qualquer perda de produção. Do contrário, nossa projeção de estoques finais começará a se contrair”, disse o analista Karl Setzer, da AgriVisor, em relatório.
O Departamento de Agricultura dos EUA (USDA) divulgará amanhã (23/9) seu relatório semanal de exportações. O mercado espera uma expressiva recuperação dos números de embarques da nova safra, após os estragos causados pelo furacão Ida prejudicarem a logística exportação do país por semanas. “O aumento do tráfego de barcaças dos EUA e as esperanças de trazer os importadores de volta ao Golfo também foram favoráveis”, acrescentou Setzer.
Mais cedo, a Administração de Informação de Energia (EIA, na sigla em inglês) informou que a produção de etanol nos EUA foi de 926 mil barris por dia na semana encerrada em 17 de setembro, o que representa uma queda de 1,2% em relação aos sete dias anteriores. O número ficou abaixo do esperado por analistas ouvidos pelo jornal “The Wall Street Journal”, que previam 952 mil barris diários.
Já a estimativa de estoques do biocombustível foi ampliada pela EIA em 101 mil barris na semana, para 20,11 milhões de barris. No dia 10 de setembro, o índice era de 20,01 milhões de barris. A alta foi na contramão do mercado, que esperava uma redução para 19,51 milhões de barris. Vale lembrar que o biocombustível é majoritariamente feito de milho nos EUA, e esses indicadores são uma das referências de oferta e demanda no país.
No Brasil, as exportações de milho deverão somar 2,78 milhões de toneladas em setembro, segundo a Associação Nacional de Exportadores de Cereais (Anec). Na semana passada, a previsão era de embarques de 2,92 milhões de toneladas. Se confirmada a estimativa, será uma queda de 51,8% em relação ao mesmo período de 2020, quando 5,76 milhões de toneladas foram enviadas ao exterior.
Em Chicago, a soja fechou em alta pelo segundo pregão seguido. O contrato para novembro, o mais negociado, avançou 0,69% (8,75 centavos de dólar), a US$ 12,8275 o bushel. A posição seguinte, para janeiro, avançou 0,7% (9 centavos de dólar), para US$ 12,9175 o bushel.
A despeito da alta, o cenário ainda indica pressão no curto prazo. A colheita da oleaginosa nos Estados Unidos ainda está em fase inicial, e há perspectiva de clima seco nos próximos dias, o que facilita os trabalhos de campo.
“É difícil acreditar que qualquer comprador irá perseguir agressivamente cotações mais altas, já que a colheita está apenas começando”, disse Doug Bergman, da RCM Alternatives, à Dow Jones Newswires.
Apesar da perspectiva de bons números na colheita americana, o Brasil deverá manter a vantagem em relação aos Estados Unidos na produção de soja nos próximos anos, na avaliação do IBGE. Em 2020, o país superou os EUA pelo segundo ano seguido, com 121,8 milhões de toneladas (os americanos colheram 112,5 milhões).
“A produção brasileira vinha se aproximando da produção americana, mas foi só no fim da década, com a quebra da safra nos Estados Unidos em 2019, que de fato o Brasil acabou superando os EUA. Essa diferença tem grande chance de crescer nos próximos anos, muito em razão do consistente aumento das áreas de cultivo de soja no Brasil”, afirmou o supervisor da Pesquisa Agrícola Municipal (PAM) 2020, Winicius de Lima Wagner.
Ainda no país, as exportações brasileiras de soja deverão chegar a 5,04 milhões de toneladas em setembro, disse a Anec, baseada nas programações dos portos. Na semana passada, a previsão para o mês era de 4,83 milhões de toneladas. Se confirmado o resultado, será uma alta de 28,7% em relação ao mesmo período de 2020, quando as exportações somaram 3,91 milhões de toneladas.
Embora grande exportador do grão, a capacidade de processamento de soja no Brasil é inferior à da Argentina, que é uma das líderes mundiais neste mercado. Segundo estudo da Bolsa de Rosário, o país vizinho possuía 35 esmagadoras de oleaginosas em 2020 e o Brasil, 85.
Entretanto, a capacidade instalada argentina é de 191,23 mil toneladas ao dia, enquanto a brasileira é de 166,77 mil toneladas. O Brasil tem capacidade instalada de processar 55,03 milhões de toneladas da oleaginosa por ano e as fábricas argentinas, por sua vez, podem processar 63,11 milhões. Em contrapartida, a capacidade ociosa na Argentina é maior, de cerca de 43%; no Brasil, a ociosidade é de 10%.
Por fim, o trigo voltou a subir em Chicago após três quedas em sequência. O vencimento para dezembro, o mais ativo no momento, avançou 2,25% (15,5 centavos de dólar), a US$ 7,0575 o bushel. Já o contrato de segunda posição, para março, avançou 2,14% (15 centavos de dólar), para US$ 7,160 o bushel.
O cereal passou por correção técnica após sofrer forte desvalorização nos últimos dias, inclusive chegando a perder o patamar de US$ 7 por bushel no contrato mais negociado. Em uma sessão com o mercado mais ativo e com as altas da soja e do milho, houve força para o trigo também subir.
Porém, os fundamentos apontam que o cereal deverá seguir pressionado. O bom ritmo de plantio nos Estados Unidos e notícias de boa safra na Ucrânia e produção melhor do que o esperado na Rússia deixam os traders de olho para um possível alívio no quadro de oferta e demanda mundial.
“Começamos a ver uma mudança gradual no interesse climático das condições de colheita de milho e soja para o que está ocorrendo com a semeadura de trigo de inverno. As chuvas se deslocaram pelas Planícies do Sul, criando as melhores condições de solo para o plantio nos últimos anos. A reação inicial a isso é que poderia levar a plantações elevadas de trigo, especialmente com retornos favoráveis”, completou Karl Setzer.
Fonte: Valor Econômico.