Após registrarem forte alta na véspera na bolsa de Chicago, os grãos encerraram a sessão de hoje sem direção única. O trigo foi o maior exemplo da volatilidade desta terça-feira. Os papéis do cereal, que ontem haviam subido 5%, chegaram a registrar queda acentuada no pregão, mas, na reta final das negociações, o declínio ficou mais ameno.
Com isso, o contrato para maio, o mais negociado no momento, encerrou em queda de 0,09% (1 centavo de dólar), a US$ 11,1825 o bushel, enquanto a posição seguinte, para julho, subiu 0,73% (8 centavos), para US$ 11,010 o bushel.
O mercado segue acompanhando os desdobramentos da guerra na Ucrânia e seus efeitos sobre a oferta mundial de trigo e milho, os grãos mais afetados pelo conflito no Leste Europeu. Hoje, o o ministro da Agricultura ucraniano, Roman Leshchenko, disse à Reuters que a área destinada ao plantio de grãos e cereais de primavera no país poderá cair pela metade neste ano, para cerca de 7 milhões de hectares. Em 2021, a Ucrânia 15 milhões de hectares com trigo, milho, girassol, beterraba, soja e sacarina.
Leshchenko também afirmou que o ministério pediu aos agricultores que cultivem mais trigo de primavera, trigo sarraceno, aveia, milheto e cevada. Ele não deu previsão para a área dessas culturas. “Hoje, a questão da segurança alimentar está em primeiro plano”, prosseguiu o ministro. Na primavera passada, a Ucrânia semeou apenas 176 mil hectares de trigo porque o país costuma concentrar o cultivo do cereal no inverno.
Segundo ele, os agricultores semearam um total de 6,5 milhões de hectares de trigo de inverno para a safra de 2022, mas a área colhida pode ser de apenas 4 milhões de hectares devido à guerra. O ministro recusou-se a prever a safra de grãos de 2022, porque “a situação não se estabilizou totalmente”.
A Ucrânia colheu um recorde de 84 milhões de toneladas de grãos em 2021 e inicialmente esperava exportar 65 milhões de toneladas de grãos, incluindo 25,3 milhões de toneladas de trigo e 40 milhões de toneladas de milho. Mas, segundo estimativa que a consultoria agrícola ucraniana APK-Inform divulgou no último fim de semana, a exportação de trigo não deve ultrapassar 18,3 milhões de toneladas nesta temporada. Além disso, por causa da guerra, os embarques de março a junho devem somar apenas 200 mil toneladas.
“Quanto mais a guerra Ucrânia-Rússia se arrastar, menor a probabilidade de vermos milho e trigo de safras antigas e novas saindo do Mar Negro”, reforçou Craig Turner, da Daniels Trading.
Milho
Para o milho, o ministro ucraniano indicou um cenário um pouco mais confortável, a despeito da redução de área. “Temos grandes estoques de milho”, disse Leshchenko, acrescentando que os agricultores da Ucrânia podem semear até 3,3 milhões de hectares de milho este ano. Em 2021, fora 5,4 milhões de hectares.
Os preços do cereal também passaram por correção em Chicago. O contrato para maio, o mais negociado, caiu 0,43% (3,25 centavos de dólar), a US$ 7,530 o bushel. A posição seguinte, para julho, subiu 0,21% (1,50 centavos de dólar), para US$ 7,2975 por bushel.
Do ponto de vista de fundamentos, os operadores começam a enxergar certa estabilidade nos efeitos da guerra na Ucrânia sobre o fluxo global de milho e trigo nesta safra 2021/22. Esse cenário, na avaliação de parte do mercado, começa a adicionar volatilidade às negociações, enquanto alguns operadores seguem apostando em mais altas e outros tendem a liquidar suas posições diante de uma aparente estabilidade.
“Parece que eles [traders] se estabeleceram em uma faixa de negociação e podem muito bem permanecer satisfeitos em permanecer nela até que algo novo se desenvolva”, disse o analista Dan Hueber, em relatório.
Soja
Por fim, a soja emendou sua segunda alta seguida na bolsa de Chicago, mesmo com as quedas de milho e trigo na sessão. O contrato com entrega para maio, o mais negociado atualmente, subiu 0,33% (5,50 centavos de dólar), a US$ 16,9650 o bushel, enquanto a posição seguinte, julho, avançou 0,39% (6,50 centavos), a US$ 16,7875 o bushel.
A oleaginosa encontrou suporte na alta do óleo de soja, que avançou mais de 1,5% durante o pregão. Além disso, os operadores começam a precificar uma possível mudança nas perspectivas de plantio nos Estados Unidos para a safra 2022/23.
Para Tomm Pfitzenmaier, da Summit Commodity Brokerage, a tendência é que o Departamento de Agricultura dos EUA (USDA) apresente alguma mudança nas intenções de área para soja e milho para a nova temporada.
Pautada pelas cotações mais fortes da soja em função da quebra na América do Sul no começo deste ano, a expectativa era de redução de 0,9% na área do cereal, com incremento de 1,5% na área destinada à oleaginosa. No entanto, a guerra na Ucrânia embaralhou novamente o cenário, dando novo impulso aos preços do milho.
“Há alguma preocupação de que os números de área cultivada [de soja] possam ser um pouco pessimistas, com muitos agricultores relatando que, devido aos atuais diferenciais de preços, o milho é potencialmente mais lucrativo que a soja”, disse Pfitzenmaier à Dow Jones Newswires.
Fonte: Valor Econômico.