O milho liderou a alta dos grãos na bolsa de Chicago nesta quarta-feira. O contrato para dezembro, o de maior liquidez no momento, subiu 2,55% (13,25 centavos de dólar), a US$ 5,3350 o bushel, e o papel de segunda posição, para março, avançou 2,37% (12,5 centavos de dólar), a US$ 5,4075 o bushel.
Expectativa de boa demanda sustentaram a alta do cereal, segundo o analista Tomm Pfitzenmaier, da Summit Commodity Brokerage. “O milho dos Estados Unidos continua sendo o grão mais barato do mundo e isso acabará gerando demanda de exportação neste inverno”, disse ele à Dow Jones Newswires. “A baixa sazonal do milho provavelmente está sendo forjada, e esta é a época do ano em que os usuários finais veem suas melhores oportunidades de preços”.
Outro suporte às cotações foi a notícia sobre o aumento da produção de etanol nos EUA. Na semana encerrada em 10 de setembro, a produção cresceu 1,5%, para 937 mil barris por dia, informou hoje a Administração de Informação de Energia (EIA, na sigla em inglês). A projeção ficou acima do esperado por analistas ouvidos pelo jonal “The Wall Street Journal”. Já a previsão de estoques para o ano foi reduzida em 380 mil barris, para 20,01 milhões de barris, também um volume maior do que o previsto.
O mercado americano acompanha a produção de etanol como importante medida da demanda por milho. Nos EUA, a produção do biocombustível consome cerca de um terço da safra doméstica do cereal.
No Brasil, segundo análise do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea), da Esalq-USP, a cigarrinha-domilho afetou a produtividade das lavouras de milho safrinha e ainda acentuou o aumento de custo dos agricultores, especialmente no Sul. A ação do inseto é mais um dos problemas da cultura, já prejudicada pelo atraso no plantio e pelos problemas climáticos.
Na região Sul, onde a incidência da praga não é comum, grande parte das plantas tem apresentado produtividade média abaixo de 50 sacas por hectare. No Cerrado, mais acostumado com a cigarrinha, a perda foi menor, com a produtividade ficando entre 50 e 90 sacas por hectare. De acordo com o Cepea, as aplicações adicionais de defensivos para combate ao inseto aumentaram os gastos em até R$ 201 por hectare (o equivalente a 2,62 sacas).
Nas negociações da soja, os preços avançaram em Chicago, após dois leves recuos nas sessões anteriores, mas o contrato de maior liquidez, para novembro, segue abaixo de US$ 13 por bushel — o papel subiu 0,94% (12 centavos de dólar), para US$ 12,9450 o bushel. O vencimento de segunda posição, para janeiro, fechou em alta de 0,91% (11,75 centavos de dólar), a US$ 13,050 o bushel.
A alta deveu-se, em parte, a um movimento financeiro, desencadeado pela alta na produção industrial nos EUA, e, em parte, a um crescente otimismo com o retorno gradual dos trabalhos de exportação na região da Costa do Golfo. Os embarques foram paralisados por cerca de duas semanas após a passagem do furacão Ida, que danificou as estruturas de algumas tradings dessa importante rota de escoamento de grãos do país.
Um dos efeitos colaterais da paralisação é que, segundo a agência e consultoria Agricensus, importadores chineses reservaram no Brasil cargas para outubro em pelo menos seis navios. O movimento é considerado incomum, já que a China costuma comprar soja dos EUA nesta época do ano
Por outro lado, caso os embarques americanos ganhem ritmo, é possível que essas reservas sejam redirecionadas aos portos dos EUA, alerta uma fonte ouvida pela agência. O ritmo de importações chinesas está abaixo do normal para este período: os importadores compraram 74% do total planejado para outubro, acrescentou outra fonte à Agricensus.
“A demanda chinesa continua uma incógnita”, disse Doug Bergman, da RCM Alternatives. Mesmo assim, os preços da soja devem ter estabelecido seu ponto mais baixo para o ano, completou ele.
Mais cedo, o Departamento de Agricultura dos EUA (USDA) notificou o cancelamento de venda de 132 mil toneladas de soja americana para a China e 196 mil toneladas para destinos não revelados. Por isso, há agora a expectativa de que o relatório semanal de exportações americanas, que será divulgado amanhã, possa apresentar já alguma reação nos números de embarques no país.
Segundo o relatório de agosto da Associação Nacional de Processadores de Oleaginosa (Nopa, na sigla em inglês), as exportações somaram 4,32 milhões de toneladas, acima de todas as estimativas do mercado. O dado reverteu uma tendência do esmagamento nos Estados Unidos, que estava em seu menor patamar em seis meses, segundo o analista Karl Setzer, da AgriVisor.
“Mesmo com o aumento, o total de processamento de agosto ainda caiu 3,8% em relação a agosto de 2020. Esse declínio no esmagamento não é resultado da baixa demanda, mas sim dos baixos estoques de soja”, disse, em relatório.
No Brasil, o Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet), órgão ligado ao Ministério da Agricultura, informou que o trimestre de setembro a novembro, período importante para a safra de grãos no país, deverá ser de chuvas com certa regularidade para as principais regiões produtoras.
Para o Centro-Oeste, líder nacional em soja e milho, a previsão é de chuvas acima da média para o período em Mato Grosso, Goiás e Distrito Federal, já Mato Grosso do Sul deverá encarar certa irregularidade nas precipitações. As temperaturas também tendem a ficar acima da média, afirma o instituto.
“Áreas de deficiência hídrica para o solo são previstas para os meses de setembro e outubro, enquanto, para o mês de novembro, existe uma tendência de excedente hídrico em áreas isoladas da região”, acrescenta, em nota.
Para o Sul, as chuvas deverão começar a safra abaixo da média, com chance de mais regularidade para o leste de Santa Catarina e Paraná. “No trimestre de setembro a novembro, a previsão indica o predomínio de excedente hídrico para o solo em praticamente toda região Sul, mas existe uma tendência de redução dos valores de excedente para o final do trimestre”, diz o Inmet.
Por fim, o trigo emendou nova alta em Chicago, após ter subido 2% na véspera. O vencimento para dezembro, o mais ativo no momento, avançou 1,64% (11,5 centavos de dólar), a US$ 7,1225 o bushel, enquanto o papel de segunda posição de entrega, para março, subiu 1,76% (12,5 centavos de dólar).
O cereal segue em correção técnica após uma sequência de cinco quedas consecutivas. A previsão de safra ainda menor no Canadá e as preocupações com a qualidade do trigo colhido na China e na França também abrem espaço para valorização.
Em relatório divulgado nesta quarta-feira, o Commerzbank pontuou que, apesar de o USDA ter aumentado sua perspectiva de safra mundial em 2021/22, este será o segundo ano-safra seguido de déficit, o que pressiona os estoques. Outro ponto é que a safra na Europa, especialmente de Rússia e França, ainda não passa segurança ao mercado para um alívio nos fundamentos.
“Ao mesmo tempo, vários países importadores têm apresentado licitações internacionais para o trigo nos últimos dias, o que está sendo interpretado como um sinal de demanda robusta”, disse o banco alemão.
Outro suporte é a retomada das altas do milho. Como um cereal pode substituir o outro na ração animal, o trigo também encontra apoio na demanda de criadores.
Fonte: Valor Econômico.