Depois de três quedas consecutivas, o trigo avançou nesta sexta-feira e liderou as altas na bolsa de Chicago na sessão. O contrato do cereal para maio, o mais negociado no momento, subiu 1,52% (16,50 centavos de dólar), a US$ 11,0225 o bushel, e a posição seguinte, para julho, avançou 1,68% (18 centavos), para US$ 10,9250 o bushel.
Os compradores internacionais têm buscado fornecedores alternativos para cobrir a oferta de ucranianos e russos, dois grandes exportadores de trigo, que interromperam suas vendas ao exterior por causa da guerra. Parte dos operadores acreditava que o mercado já havia absorvido os efeitos dessa interrupção, mas a alta do cereal nesta sexta deixou no ar a percepção de que o prêmio de risco associado ao conflito pode continuar a ter influência sobre os preços nas próximas sessões.
“Existe ainda a possibilidade de o mercado buscar um ‘descanso’ após semanas de negociações extremamente voláteis”, pontuou o analista Dan Hueber. “Também acredito que os efeitos da guerra já estão bem misturados nessa ‘massa’”.
A Ucrânia semeou os primeiros 150 mil hectares para as safras de primavera, disse hoje o vice-ministro da Agricultura do país, Taras Vysotskiy, de acordo com a agência Reuters. O plantio ocorre em meio às dificuldades impostas pela guerra com a Rússia, que pode reduzir drasticamente a área de cultivo. Segundo Vysotskiy, milho, soja, girassol, milheto, trigo sarraceno, aveia e beterraba estão entre as culturas semeadas.
Milho
O milho também subiu. O contrato com vencimento em maio, o de maior liquidez, fechou em alta de 0,77% (5,75 centavos de dólar), a US$ 7,540 o bushel, e a posição seguinte, para julho, avançou 0,86% (6,25 centavos), para US$ 7,3475 por bushel.
Assim como o trigo, o milho tem sido influenciado pela guerra na Ucrânia. Outro elemento de sustentação das cotações nesta sexta foi a alta do petróleo — o barril do Brent, referência internacional, subiu 1,79% —, que pode aumentar a demanda pelo grão no mercado de biocombustíveis em países importantes, como os Estados Unidos, onde o milho é a principal matériaprima para a produção de etanol.
Os investidores seguem monitorando os efeitos da guerra sobre as exportações dos EUA. A avaliação de parte do mercado é de que muitos importadores podem estar adiando suas compras ou mesmo ter encontrado outros fornecedores para suprir a ausência da Ucrânia, quarto maior exportador de milho, no restante desta safra 2021/22.
“Com os altos preços do milho americano, os compradores internacionais têm estado menos ativos do que nas semanas anteriores”, reforçou a AgriTel.
Outro fundamento que poderá pesar nas próximas sessões foi a decisão do governo da Ucrânia nesta sexta de suspender a exigência de licenças de exportação de milho e óleo de girassol para a temporada 2021/22. Segundo as autoridades locais, os estoques dos dois produtos estão altos e, assim, não há necessidade de limitar as vendas ao exterior.
Grande produtora de grãos e oleaginosas, a Ucrânia exporta 98% de seus cereais por meio de portos — e os do país, por causa da guerra, estão fechados. Apenas uma pequena fração viaja por via férrea, modal mais caro que o transporte marítimo.
Soja
A soja, por fim, também avançou, acompanhando o desempenho de trigo e milho. O contrato da oleaginosa com vencimento em maio, o mais negociado atualmente, subiu 0,56% (9,50 centavos de dólar), a US$ 17,1025 o bushel. Já a posição seguinte, para julho, valorizou-se 0,37% (6,25 centavos), a US$ 16,8850 o bushel.
Além do movimento técnico que impulsionou os grãos na sessão de hoje, o preço da soja também encontrou sustentação no anúncio de uma venda de 132 mil toneladas de soja que os EUA fizeram para a China, com entrega ainda nesta safra 2021/22. A valorização de farelo e óleo de soja nesta sexta foi outro fator que contribuiu para a valorização da oleaginosa.
Para as próximas sessões, o analista Tomm Pfitzenmaier, da Summit Commodity Brokerage, alerta que os papéis da oleaginosa estão em seu maior patamar em quase uma década. Isso limita os negócios e poderá desencadear em um ajuste de preços no decorrer da próxima semana.
“No curto prazo, os operadores parecem estar perdendo um pouco do interesse em manter soja como uma proteção contra a inflação”, disse Pfitzenmaier à Dow Jones Newswires. No entanto, ele ressaltou que os fundamentos de longo prazo continuam oferecendo apoio às cotações.
Fonte: Valor Econômico.