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Como a carne bovina pode melhorar a qualidade da dieta

Como o consumo de carne bovina e seus produtos derivados podem melhorar a qualidade da dieta? Para responder esta questão e aprender mais sobre os efeitos do consumo de carne bovina para grupos específicos da população e como alguns fatores influenciam o consumo do produto, a Associação Nacional dos Produtores de Carne Bovina dos EUA (National Cattlemen’s Beef Association – NCBA) encomendou um estudo para avaliar dados do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA) de 1994 a 1996. Estes dados foram provenientes da Pesquisa Contínua sobre Ingestão de Alimentos por Indivíduos (Continuing Survey of Food Intakes by Individuals – CSFII) (1,2).

O estudo analisou os padrões de consumo de carne bovina e os hábitos gerais da dieta de 63 grupos (divididos por sexo, idade, entre outros). A relação entre o consumo de carne bovina e a ingestão de macro e micro nutrientes foi examinada por três tipos de consumidores de carne bovina – de alto, médio e baixo consumo -, bem como por aqueles que não consomem o produto. Além disso, foram comparadas variações na ingestão de carne bovina com a qualidade da dieta, de acordo com o Índice de Alimentação Saudável, com a Pirâmide Alimentar e com o Escore de Variedade (3,4), todos índices determinados pelo USDA.

O reconhecimento de que os produtos de origem animal, incluindo as carnes, são as principais fontes de ácido linoléico conjugado (CLA) levou os pesquisadores a determinar a contribuição da carne bovina (incluindo carne de vitelo) na ingestão total de CLA. O CLA, derivado do ácido linoléico – ácido graxo essencial -, pode potencialmente proteger o organismo contra doenças como câncer, doenças cardíacas e diabetes, além de melhorar o sistema imunológico e reduzir o nível de gordura corpórea (5).

Os dados para este estudo foram obtidos do CSFII do USDA de 1994 a 1996 (2). Trata-se de uma pesquisa de três anos onde foram coletados dados de uma amostragem de indivíduos de todo o país. Os dados individuais de ingestão de alimentos foram obtidos por dois dias não consecutivos por entrevistadores treinados que utilizaram um sistema de coleta de informações por 24 horas. A ingestão de carne bovina foi analisada para três grupos sexuais (homens, mulheres e ambos combinados); sete categorias etárias; três categorias de status dietético (pessoas que não estavam fazendo dietas especiais, pessoas que estavam fazendo dietas com redução de gorduras ou calorias ou ambas combinadas); cinco categorias de rendas familiares; quatro diferentes locais (em casa, no lanche da escola, fora de casa ou da escola e em todos os locais combinados), e em seis ocasiões (café da manhã, lanche da manhã (entre o café da manhã e o almoço), almoço, jantar, ceia e aperitivo).

Foram determinadas no estudo as ingestões totais de carne bovina e a variedade de cortes de carne. As relações entre o consumo de carne bovina e a ingestão dos principais macro e micro nutrientes foram examinadas para cada grupo dietético e para três tipos de consumidores de carne bovina (alto, médio e baixo consumo), além daqueles que não consomem o produto.

Consumo de carne bovina

As figuras 1 e 2 indicam a ingestão média diária de carne bovina e de produtos derivados, ou a quantidade média consumida em um determinado dia por indivíduos que reportaram o consumo naquele dia. A ingestão de carne bovina e produtos de carne bovina foi maior para homens do que para mulheres, tanto na população total como nos grupos etários específicos. A figura 2 indica que os picos de ingestão de carne bovina foram de 127,57 gramas por dia para adultos de idade entre 35 e 54 anos. A partir daí, o consumo de carne bovina declina para cerca de 85 gramas por dia para adultos de 65 anos idade ou mais.

Apesar da percepção de que o consumo de carne bovina é alto, os dados indicam que mesmo no grupo de pessoas de 35 a 54 anos a ingestão do produto não é particularmente alta quando comparada com as recomendações diárias feitas pelo USDA. A Pirâmide Alimentar do USDA (4) recomenda que as pessoas consumam de duas a três porções (141,7 a 198,4 gramas) de alimentos do grupo “Carnes vermelhas, Carne de Aves, Peixes, Grãos, Ovos e Nozes” por dia. Uma porção significa de 56,7 a 85 gramas de carne vermelha magra, carne de aves ou de peixes cozida. A forma mais comum de consumo de carne bovina nos Estados Unidos é em refeições misturadas, seguida pelos sanduíches com carne bovina moída em forma de hambúrguer.







Vale notar que o consumo apresentado nas figuras 1 e 2 representa a quantidade de carne bovina que as pessoas consomem nos dias em que elas realmente consumiram o produto. Como as pessoas não consomem carne bovina todos os dias, o consumo diário de longo prazo de carne bovina é consideravelmente menor.

Quando o consumo de carne bovina aumenta, a ingestão de todos os nutrientes e grupos de alimentos tende a aumentar. A figura 3 indica que os grandes consumidores de carne bovina têm maior chance de suprir 100% da quantidade diária recomendada de proteína, zinco, ferro e vitaminas do complexo B do que as pessoas que consomem menos carne bovina ou não consomem o produto. Mais de 97% dos grandes consumidores de carne bovina suprem 100% do valor diário recomendado de proteína, enquanto somente 64% daqueles que consomem pouca carne bovina suprem esta recomendação. Para o ferro, os dados são semelhantes com 46% e 21%, comparando pessoas que consomem bastante e pouca carne bovina. Para o zinco, os dados são de 60% e 9,6%. Um padrão similar é encontrado para outros nutrientes. Da mesma forma, o padrão é similar para homens e mulheres (1). Entretanto, como os homens consomem mais carne bovina do que as mulheres, eles suprem com maior freqüência as recomendações dietéticas diárias do que as mulheres. Por exemplo, entre os grandes consumidores de carne bovina, 99,4% dos homens suprem 100% de suas recomendações diárias para proteína, enquanto uma quantidade um pouco menor de mulheres (90,5%) suprem esta recomendação (1).

A carne bovina é uma importante fonte de nutrientes essenciais, como proteínas, ferro, zinco e vitaminas do complexo B. O ferro e o zinco são de especial preocupação para muitos grupos da população (7,8). A adequada ingestão de ferro é importante para bebês, crianças e mulheres para ajudar na prevenção da anemia por deficiência de ferro, um prevalente problema de saúde pública (7). A adequada ingestão de zinco é importante para o crescimento e o desenvolvimento, para a função imunológica e para a atividade hormonal do organismo (8).

O consumo de carne bovina não somente melhora a ingestão de nutrientes, mas também, melhora a variedade da dieta. Uma maior porcentagem de grandes consumidores de carne bovina (59,1%) foram classificados como “bons” no escore de variedade comparado com aqueles que não consomem carne bovina (43,7%) (1).

O Guia Dietético para Americanos do USDA e o Departamento de Saúde e Serviços Humanos dos EUA (6) recomendam que as pessoas incluam uma variedade de alimentos em suas dietas “para obter nutrientes e outras substâncias necessárias para ter uma boa saúde”.

O consumo de carne bovina é influenciado por dietas especiais?

Como se pode ver na figura 4, os adultos que seguem uma dieta especial com calorias reduzidas ou gorduras reduzidas diminuem sua ingestão de carne bovina. Os adultos de 65 anos de idade ou mais são exceção já que, para eles, as dietas especiais têm pouco efeito na ingestão de carne bovina.

Figura 4: Efeitos de dietas especiais (calorias reduzidas e gorduras reduzidas) no consumo de carne bovina por adultos (1,2)


Onde a carne bovina é consumida?

Claramente, os consumidores dos EUA consomem carne bovina em uma série de lugares – em casa, na escola, fora de casa ou da escola, em restaurantes, em lojas ou na casa de outras pessoas. Como pode ser visto na tabela 1, apesar de a própria casa ser o principal local de consumo de carne bovina, as escolas e outros locais fora de casa são importantes fontes de carne bovina (especialmente hambúrguer) para crianças. Um padrão similar, com altos níveis de consumo, ocorre com adolescentes. Como já era de se esperar, as escolas têm pouca contribuição no consumo de carne bovina de adultos (1).

Tabela 1: Local de consumo de carne bovina nos EUA por tipos (1,2)


Carne bovina: uma importante fonte de CLA

A ingestão média diária estimada per capita de CLA para todos os indivíduos pesquisados foi de 173,4 mg/dia – 215,3 mg para homens e 133,7 mg para mulheres. Como indicado na tabela 2, 36,2% da ingestão de CLA vem da carne bovina (38,1% para homens e 33,1% para mulheres).

Tabela 2: Ingestão de ácido linoléico conjugado (CLA) por indivíduo de seus anos de idade ou mais (1,2)


A carne bovina é, portanto, uma importante fonte de CLA, que pode trazer muitos potenciais benefícios para a saúde. Estudos feitos com animais e in vitro demonstram que o CLA reduz vários tipos de câncer, melhora o sistema imunológico, pode reduzir o desenvolvimento de arteriosclerose e, com isso, reduzir os riscos de doenças cardíacas, além de ajudar a normalizar os níveis de glicose no sangue, possivelmente prevenindo, desta forma, a diabetes mellitus (5).

Conclusões

A carne bovina, devido a seu teor de nutrientes e componentes, como o CLA, o ferro, o zinco, entre outros, pode ter um importante papel em uma dieta saudável. Uma dieta saudável é a base – juntamente com a prática de exercícios físicos – para uma vida saudável. Por isso, a inclusão na dieta de alimentos que possam suprir nossas necessidades de nutrientes é, também essencial para a qualidade não só da dieta, mas para a qualidade de vida. Os norte-americanos são estimulados pelo governo do país a consumirem regularmente carne bovina como parte da dieta baseados nas recomendações da Pirâmide Alimentar do USDA. Esta pirâmide, que possui seis grupos, foi adaptada aos hábitos alimentares da população brasileira pela professora dra. Sônia Tucunduva Philippi, da Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo, passando a ser dividida em oito grupos de alimentos que devem ser ingeridos em maior ou menor quantidade ao longo de um dia.

Referências

1.) WAYLETT, D.K.; MOHAMEDSHAH, F.; MURPHY, M.M; DOUGLASS, J.S.; HEIMBACH, J.T. The Role of Beef as a Source of Vital Nutrients in Healthy Diets. Prepared for National Cattlemen’s Beef Association. Arlington, VA: ENVIRON; July 1999.

2.) U.S. Department of Agriculture, Agricultural Research Service. Data tables: results from USDA’s 1994-1996 Continuing Survey of Food Intakes by Individuals and 1994-1996 Diet and Health Knowledge Survey [Online]. ARS Food Surveys Research Group. Available (under “Releases”): http://www.barc.usda.gov/bhnrc/foodsurvey/home.htm 1998

3.) BOWMAN, S.A.; LINO, M.; GERRIOR, S.A.; BASIOTIS, P.P. The Healthy Eating Index: 1994-96. U.S. Department of Agriculture, Center for Nutrition Policy and Promotion, CNPP-5; July 1998.

4.) U.S. Department of Agriculture, Human Nutrition Information Service. The Food Guide Pyramid. Home and Garden Bulletin No. 252. Washington, D.C.: USDA/HNIS; 1992.

5.) YURAWECZ, M.P.; MOSSOBA, M.M.; KRAMER, J.K.G.; PARIZA, M.W.; NELSON, G.J. (Ed). Advances in Conjugated Linoleic Acid Research. Volume 1. Champaign, IL: AOCS Press; 1999.

6.) U.S. Department of Agriculture and U.S. Department of Health and Human Services. Nutrition and Your Health: Dietary Guidelines for Americans. 4th ed. Home and Garden Bulletin No. 232. Washington, DC: USDA/DHHS; 1995.

7.) National Cattlemen’s Beef Association. Iron in Human Nutrition. 2nd ed. Chicago, IL: National Cattlemen’s Beef Association; 1998.

8.) National Cattlemen’s Beef Association. Zinc in Human Nutrition. 2nd ed. Chicago, IL: National Cattlemen’s Beef Association; 1997.

Fonte: Associação Nacional dos Produtores de Carne Bovina dos EUA (National Cattlemen’s Beef Association – NCBA)

0 Comments

  1. Angélica Simone Cravo Pereira disse:

    Parabéns pelo artigo Juliana!

    Sem dúvida, um dos grandes marcos da história da evolução humana é a variedade de estratégias utilizadas para adequar as dietas às nossas necessidades diárias. Certamente muitos componentes nutritivos presentes na carne vermelha têm função essencial na prevenção de uma série de doenças e na manutenção de uma vida saudável, podendo assim atuar como um alimento funcional do futuro.

    Porém, é importante a combinação de uma boa genética dos animais, nutrição, processos corretos de produção e abate, condições adequadas de conservação também tornam-se indispensáveis para que se otimize o potencial desse alimento saudável, que é a carne vermelha.

    Um abraço,