É impossível falar em prós e contras diante de uma guerra. Só há pontos negativos – e, para o agronegócio brasileiro, eles se multiplicam com a invasão da Rússia à Ucrânia.
Como reflexo imediato do conflito, os grãos dispararam no mercado internacional. É verdade que o Brasil é grande exportador de soja e milho e até pode ser beneficiado pela alta dos preços de ambos — e também pelo aumento da demanda caso russos e ucranianos tenham problemas para embarcar sua produção —, mas o país é também um dos maiores importadores de trigo, cereal que mais está subindo.
Entre as “soft commodities”, açúcar e algodão, que são diretamente influenciados pelo petróleo, também estão em ascensão, o que pode favorecer exportadores brasileiros. Mas café, cacau e suco de laranja, igualmente importantes para o país, estão em queda.
Em comum para todos os produtos agrícolas, os fertilizantes, que já estão bem mais caros desde o ano passado, certamente vão aumentar ainda mais. Com a possibilidade de ampliação das sanções contra a Rússia, um dos principais exportadores do insumo do mundo, o cenário para o abastecimento é sombrio.
É sempre bom lembrar que, embora seja o maior exportador líquido de produtos agropecuários do mundo, o Brasil importa cerca de 80% dos fertilizantes utilizados nas plantações. Assim, se conseguir comprar no mercado tudo o que precisa neste ano sem Rússia — e sem Belarus, também um importante fornecedor, e que já não consegue vender por causa de sanções impostas por Estados Unidos e União Europeia —, o produtor rural terá que pagar muito mais pelo insumo.
O saldo dessa equação que aponta aumento de preços dos grãos básicos usados na alimentação humana e animal e do açúcar, fundamental inclusive para a população mais pobre, pode ser mais inflação. Também entram na conta os reflexos sobre custos de produção e preços mais baixos de proteínas como carne de frango e ovos.
No caso específico da carne de frango, poderá haver algum alento caso a Ucrânia não consiga exportar e mais encomendas fluam para o Brasil.
Grãos
Rússia e Ucrânia são, respectivamente, o primeiro e o terceiro maiores países exportadores de trigo do mundo, atrás apenas da União Europeia. Até agora, o Departamento de Agricultura dos EUA (USDA) estimativa que, juntos, russos e ucranianos embarcariam 59 milhões de toneladas nesta safra 2021/22, quase um terço do total previsto para a temporada. Segundo o USDA, os dois países também seriam responsáveis por embarques de 38 milhões de toneladas de milho, ou 20% do volume total.
Fertilizantes
No caso dos fertilizantes, a Rússia lidera as exportações globais de nutrientes derivados do nitrogênio, é o segundo maior em embarques de derivados do potássio e o terceiro nos fosfatados. Recentemente, o país suspendeu por dois meses os embarques, mas esperava-se que até o início de abril o fluxo fosse retomado, o que agora está em xeque. No quarto trimestre de 2021, a ureia, por exemplo, já estava 245% mais cara que um ano antes.
Importações russas e ucranianas
Como já informou o Valor, a importação de fertilizantes está na base da relação comercial entre Brasil e Rússia. Em 2021, o Brasil importou 3,6 milhões de toneladas de cloreto de potássio russo (US$ 1,3 bilhão). Outros US$ 1,2 bilhão foram gastos na compra de ureia (1,3 milhão de toneladas), nitrato de amônio (1,4 milhão), nitrogênio, fósforo e potássio (967 mil), segundo dados do ComexStat, do Ministério da Economia.
O Brasil também importa da Rússia produtos agrícolas como malte (157,3 mil toneladas). O volume das compras de trigo é pequeno (28 mil toneladas) porque, nesse caso, o maior fornecedor é a Argentina.
Já as importações brasileiras de produtos da Ucrânia são pouco relevantes. Entre os itens agropecuários que o Brasil compra da Ucrânia estão cigarros, frutas congeladas e aveia, com negócios de US$ 2 milhões no ano passado.
Exportações para Rússia e Ucrânia
Já as exportações brasileiras para os dois países estão baseadas em produtos agrícolas. Para a Ucrânia, a relevância também é pequena. As vendas são lideradas pelo amendoim, com 22,2 mil toneladas, ou US$ 29,2 milhões, em 2021. A indústria de carne bovina exportou 4,6 mil toneladas no ano passado, 13% a mais que no ano anterior. A receita aumentou 34% em relação a 2020, para US$ 15,4 milhões.
Também compõem a lista açúcar, café solúvel, soja, tabaco, tripas bovinas, pimenta e carne de frango. Ao todo, a venda de produtos agropecuários para a Ucrânia somou US$ 148,2 milhões em 2021.
Os embarques para a Rússia são mais significativos. Foram 768,2 mil toneladas de soja em 2021, ou US$ 343,2 milhões – a oleaginosa é o principal produto exportado aos russos. Entre as proteínas, o destaque é a carne de frango. As vendas no ano passado somaram 105,8 mil toneladas, que renderam US$ 167,1 milhões.
A cesta dos principais produtos do agro brasileiro enviados para a Rússia inclui ainda café, amendoim e açúcar. A carne bovina aparece na sequência, com 35,3 mil toneladas vendidas e faturamento de US$ 137,6 milhões.
Fonte: Valor Econômico.