Invasão russa tira mercado de grãos dos eixos
25 de fevereiro de 2022
Como o conflito entre Rússia e Ucrânia afeta o agro brasileiro
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Conflito pode gerar onda inflacionária, afirma CNA

O conflito armado entre Rússia e Ucrânia pode desencadear um novo processo inflacionário no mundo e agravar o cenário de elevação dos preços de insumos e alimentos, que já vinha dando o tom devido aos efeitos da pandemia e da crise energética. O movimento tem potencial para atingir em cheio o setor agropecuário brasileiro, por causa do aumento geral dos custos de produção, e espremer as margens em diversas cadeias produtivas.

A Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) monitora os impactos no setor, além de possíveis interrupções no fornecimento de fertilizantes fosfatados, nitrogenados e potássicos vindos da Rússia. “Muitos produtores não fecharam a compra de fertilizantes diante da queda projetada nos preços dos insumos a partir do segundo trimestre. Agora, precisamos rever as estratégias, é algo que pode mexer com o próprio abastecimento brasileiro”, afirmou ao Valor o diretor técnico da entidade, Bruno Lucchi.

A situação é mais complicada no caso do fornecimento de potássio porque Belarus, responsável por 20% do abastecimento brasileiro, também sofre sanções internacionais e já enfrenta problemas para exportar o insumo. “Os países representam 40% do mercado mundial de potássio. Com problemas nos dois países, temos séria complicação para ter potássio na próxima safra”, afirmou. O problema pode “bagunçar o comércio mundial”, com aumento de preço e mudança em rotas de exportação, mesmo com a ampliação das compras via Canadá e Marrocos, outras fontes importantes de adubos (ver Fornecimento de fertilizantes no ‘olho do furacão’ ).

Lucchi avaliou que o confronto no Leste Europeu tem poder para abalar a economia mundial. “Ele pode manter a inflação energética elevada e transbordar para outros produtos, como os fertilizantes. Se o preço do petróleo aumentar mais, também pode haver impactos sobre os custos logísticos, que já estão mais altos”.

O aumento de preços pode frear o consumo das famílias e prejudicar cadeias agropecuárias que não exportam nem se beneficiam da oscilação cambial ou da alta das cotações das commodities nas bolsas, como hortaliças, frutas, lácteos e a suinocultura independente. Tudo isso em um ano de safra de soja – carro-chefe do agro nacional – já comprometida pelos efeitos do clima no Sul e com o setor ainda abalado pela pandemia, emendou Lucchi.

“Não há preço que compense todo esse risco, de não haver entrega de fertilizantes a tempo, de aumentar o custo do combustível. O produtor não precisa disso. O impacto pode ser muito forte”, resumiu. Para ele, as perdas para o setor serão muito maiores que eventuais ganhos que as cadeias de grãos poderiam ter com a alta de preços internacionais. “Esperamos que a situação não evolua e que o conflito seja resolvido o quanto antes. Se houver desdobramentos derivados de diversos fatores interligados, teremos problemas de ordem mundial”.

Não está claro também como será o comportamento do mercado de carnes nesse cenário. “Tivemos plantas habilitadas para exportar para a Rússia e aumento de cota de carne suína no país. Mas não sabemos o que pode acontecer, se poderemos manter a expectativa de termos esse importante mercado para os produtos brasileiros”, disse Lucchi.

Em relação à Ucrânia, responsável por 17% das exportações mundiais de milho e por 30% das vendas internacionais de trigo, a preocupação da CNA é com os reflexos nos preços de grãos e derivados. Bruno Lucchi disse que poderá haver aumento nos preços da farinha e do pão, importantes ingredientes da cesta básica. Por outro lado, ele vê a possibilidade de os produtores brasileiros ampliarem a área cultivada com trigo na safra de inverno deste ano.

Para os embarques de soja e milho, há incertezas. Procuradas, a Associação Brasileira das Indústrias de Óleos Vegetais (Abiove) e a Associação Nacional dos Exportadores de Cereais (Anec), que representam os exportadores, pregam cautela. As entidades afirmam que o confronto ainda é muito recente para que possa existir uma avaliação clara de como – ou se – haverá problemas.

No foco da ministra

A ministra da Agricultura, Tereza Cristina, afirmou ontem que o conflito entre Rússia e Ucrânia “preocupa” o Brasil devido ao grande volume de fertilizantes que o país importa da região. Durante viagem ao Ceará, Tereza Cristina ressaltou, no entanto, que a Rússia não é o único fornecedor de insumos ao Brasil e que pode haver alternativas para contrabalançar falhas no abastecimento. “Temos outras alternativas se tivermos algum problema”, afirmou. A ministra citou a viagem recente que fez ao Irã, que, segundo ela, apresentou uma “oferta enorme de fertilizantes ao Brasil”, mas que ainda carece de discussões técnicas para viabilizar as importações. Tereza Cristina também mencionou Canadá e Marrocos como possíveis fontes de adubos ao mercado brasileiro.

Fonte: Valor Econômico.

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