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Concentração hormonal no organismo da vaca durante protocolos de IATF

Por Alexandre Hênryli de Souza 1 e Pietro Sampaio Baruselli2

Existe uma grande preocupação dos técnicos, produtores e consumidores com relação a contaminação de esteróides, principalmente progesterona (P4) e estradiol (E2), na carne e no leite de bovinos. Desta forma, o objetivo deste artigo é apresentar dados relacionados à concentração de P4 e E2 no sangue de bovinos durante programas de sincronização da ovulação para o emprego de técnicas da reprodução (IA, TE e FIV) que utilizam dispositivos que liberam P4 e tratamentos com E2. Também, será feita a comparação das concentrações sanguíneas de hormônios de origem exógena (tratamentos hormonais em programas de IATF e TETF) e endógena (hormônios produzidos pelo próprio animal).

Esteróides em fêmeas bovinas

Na espécie bovina, as fontes mais comuns de esteróides são de origem endógena, ou seja, produzidos pelo próprio animal. Entre eles, os mais importantes são o E2 e a P4, que se originam, principalmente, do ovário e da placenta. Outra forma dos esteróides atingirem o organismo dos bovinos é por via exógena (tratamentos hormonais ou contaminação por toxinas com capacidade esteroidogênica).

Uso de esteróides em protocolos reprodutivos

Nos últimos anos, os protocolos hormonais com fins reprodutivos (IATF e TETF) têm aumentado dramaticamente no Brasil. Trabalhos de pesquisa indicam que durante esses tratamentos os níveis circulantes de hormônios esteróides no sangue são baixos e sempre menores que os valores fisiológicos liberados pela própria vaca. A seguir serão apresentadas as concentrações de E2 e P4 produzidos pela vaca naturalmente e as concentrações de E2 e P4 liberadas durante os protocolos hormonais de sincronização.

Concentração de estradiol

O estradiol natural (E2-17β) ou os seus ésteres (benzoato de estradiol, valerato de estradiol e cipionato de estradiol) são largamente utilizados em protocolos de sincronização juntamente com a inserção do dispositivo de P4 no início dos tratamentos e/ou no final dos protocolos para causar a sincronização da onda de crescimento folicular e da ovulação. A quantidade de estradiol utilizada nestes protocolos hormonais é baixa, se comparada com a produção de estradiol do próprio animal. Por exemplo, a quantidade de estradiol no sangue de uma vaca tratada com 1mg de benzoato de estradiol é cerca de 70 vezes menor se comparado aos níveis de estradiol que podem ser alcançados na corrente sanguínea de vacas gestantes (Tabela 1). Vale lembrar que a liberação de estradiol endógena depende, principalmente, da idade, da raça e do estado fisiológico do animal. Além disso, alguns tecidos como a gordura podem conter maiores níveis de esteróides, pela característica lipofílica destes hormônios. Neste sentido, a concentração de E2 e de P4 no leite é cerca de duas vezes maior que no sangue, porém, mesmo assim, são muito baixas para causar qualquer atividade fisiológica em humanos (Wolfort et al., 1979).

Com respeito aos programas reprodutivos, é importante lembrar que certos cuidados (ex: uso de luvas) no momento da aplicação de E2 em programas de sincronização devem ser respeitados para evitar uma possível contaminação da pessoa responsável pela administração destes hormônios.

Tabela 1. Concentração de estradiol-17β no sangue de bovinos.


Concentração de progesterona

Assim como o estradiol, a dosagem de progesterona utilizada em protocolos hormonais é baixa. Para se ter uma idéia, os níveis sanguíneos de progesterona em uma vaca gestante pode ser de 3 a 20ng/mL, dependendo do período de gestação. Essa progesterona é produzida pelo corpo lúteo (CL) ou pela placenta da própria vaca. Por outro lado, os dispositivos intra-vaginais mantêm a concentração sanguínea em níveis sub-luteais de apenas 1.5 a 4 ng/mL, dependendo do metabolismo do animal. Ou seja, estes dispositivos liberam cerca de 2 a 4 vezes menos progesterona no sangue que o próprio CL e/ou placenta da vaca.

É importante lembrar que o uso de luvas durante o manuseio dos dispositivos de progesterona também é imprescindível. Além disso, o manejo adequado de implantes e dispositivos de progesterona já utilizados é muito importante para evitar a contaminação do ambiente com resíduos de esteróides.

Tabela 2. Concentração de progesterona no sangue de bovinos.


Conclusão

A quantidade de hormônios esteróides liberados durante os protocolos de sincronização que utilizam P4 e E2 são menores que os níveis fisiológicos que acontecem naturalmente em bovinos.

Referências

Janowski T., Zdunczyk S., et al. 2002. Mammary secretion of estrogens in the cow. Dom. Anim. Endocrinol. 23; 125-137.

Mann G.E., Lamming G.E. 2001. Relationship between maternal endocrine environment, early embryo development and inhibition of the luteolytic mechanism in cows. Reproduction 121; 175-180.

Rabiee A.R., Macmillan K., Schwarzenberger F. 2001. Excretion rate of progesterone in milk and faeces in lactating dairy cows with two levels of milk yield. Reprod. Nutr. Devel. 41; 309-319.

Sartori, R., G.J. M. Rosa, and M.C. Wiltbank. 2002a. Ovarian structures and circulating steroids in heifers and lactating cows in summer and lactating cows and dry cows in winter. J. Dairy Sci. 85:2813-2822.

Senger P.L. 2003. Pathways to pregnancy and parturition. Second Edition; p317.

Shelton, J. N., Summers, P.N. 1983. Progesterone and estradiol-17β in the peripheral plasma of Brahman cows with single and twin pregnancies. Theriogenoly 20; 47-52.

Souza, A. H., A. P. Cunha, D. Z. Caraviello, and M. C.Wiltbank. 2005. Profiles of circulating estradiol after different estrogen treatments in lactating dairy cows. J. Dairy. Sci. Vol. 89, Suppl.1.

Wolford, S.T., and C.J. Argoudelis. 1979. Measurement of estrogens in cow´s milk, human milk, and dairy products. J. Dairy Sci. 62:1458-1463.
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1 Alexandre Hênryli de Souza, Doutorando, Departamento de Reprodução Animal, FMVZ-USP
2Pietro Sampaio Baruselli, professor associado do depto. de Reprodução Animal da FMVZ – USP

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