O confinamento de bovinos de corte, como uma atividade isolada, tem se mostrado cada vez menos atraente nos últimos anos.
O diferencial entre os preços da safra e entressafra estão cada vez menores, não somente pelo maior número de animais confinados no período, mas também pelas demais técnicas de produção de animais no período seco, como semi-confinamento, e sais proteinados, que estão sendo largamente difundidos para os pecuaristas.
Para uma análise de um confinamento há a necessidade de se fazer algumas considerações, como por exemplo a determinação dos componentes da dieta dos animais.
Alimentos
Os alimentos que serão utilizados na fração concentrada são basicamente milho, farelo de soja, farelo de algodão e uréia.
Uma comparação de custos entre diferentes fontes de alimento volumoso, cana-de-açúcar, silagem de capim, silagem de sorgo e silagem de milho, procede. Tal avaliação é interessante porque, no Brasil, a base alimentar independente do sistema que se adote, é o volumoso.
Normalmente em confinamentos a proporção entre volumoso e concentrado, na dieta, fica entre 60% a 80% de volumoso para 20% a 40% de concentrado.
Com relação ao ano passado, os preços dos concentrados variaram positivamente em 18%, enquanto que o dos volumosos em 3%. O maior aumento nos custos dos concentrados é devido principalmente ao aumento no preço do milho (reajuste de 50%) e como sua inclusão é em média 19%, o diferencial no preço da dieta fica perto de R$0,01/kg. Outro componente que teve seu preço sensivelmente reajustado foi a uréia (aumento de 27%), porém como sua inclusão é baixa, menor que 1%, o efeito no custo final é praticamente nulo.
A média de variação de preços dos concentrados excluindo-se o milho é de 5%, e se tirarmos o milho e a uréia é de 0,1%. Na média o concentrado participa em 73,5% nos custos da dieta animal.
As dietas com as variações dos volumosos estão dispostas nas tabelas 1 a 4, com as devidas variações de custos, conforme o volumoso utilizado.
A variação de custo entre as diferentes fontes de alimento volumoso foi de praticamente 10%, entre o maior custo (silagem de milho) e o menor (cana-de-açúcar). A vantagem da cana-de-açúcar está na maior produtividade (toneladas produzidas por hectare), ou seja, com a mesma área de cana consegue-se alimentar maior número de animais.
Animais de reposição
O preço dos animais de reposição atualmente está acima da média dos últimos 5 anos, em Reais deflacionados. Na ocasião em que esta simulação estava sendo elaborada o preço do boi magro era de R$547,00, enquanto que a média dos últimos 5 anos é de R$506,24, ou seja, 8,1% acima da média.
O preço dos animais de reposição perfaz, há anos, cerca de 70% do custo total do confinamento, no caso presente 77%. Este é um ponto analisado para o sucesso, ou não, do confinamento, e também sob a ótica do investimento.
Para que o confinamento tenha sucesso há a necessidade de realizar uma boa compra de animais. Esta boa compra quer dizer pagar preços dentro da realidade de mercado como também comprar animais que respondam ao tipo de empreendimento no qual eles estarão sendo inseridos.
Os preços dos animais de reposição apresentam, um perfil para cada época de compra ou venda a que o confinador tem que estar atento para a realização de seus negócios.
Portanto, os custos totais do confinamento estão centrados nos animais de reposição, como fica fácil de ser visualizado na figura 1.
No custo de produção, o item que teve maior aumento percentual no custo da arroba produzida foi o transporte, que passou de uma participação de 1,3% para 1,6%, um aumento de 23% em relação ao ano passado.
Sob a ótica do investimento, o animal representa 70% ou mais do custo total, para o pecuarista poderá representar segurança contra possíveis contratempos. O boi tem condições de ser comercializado a qualquer tempo, pois é um ativo de alta liquidez, não querendo dizer que com isso, necessariamente ele seja vendido com lucro.
Na média do primeiro quadrimestre dos últimos 5 anos, os preços do boi magro apresentam uma relação de troca com o preço do boi gordo de 1,4:1, ou seja, com 100 bois gordos conseguia-se comprar 140 bois magros. Para este ano a relação de troca média no primeiro quadrimestre foi de 1,36:1, em comparação à média dos últimos 5 anos está praticamente 3% pior.
Os anos de 98, 99 e 2000, foram os anos que apresentaram melhor relação de troca para os invernistas, respectivamente, 1,43:1, 1,44:1 e 1,45:1.
O preço do boi magro é de R$506,24 por cabeça, na média dos últimos 5 anos em Reais deflacionados, e o boi gordo R$43,07/@, ou R$710,62 (para um boi gordo de 16,5@), nas mesmas condições. Os preços atuais são de R$547,00 para o boi magro e R$717,75 para o boi gordo (R$43,50/@).
Aspectos técnicos
Para o bom desenvolvimento de um confinamento alguns aspectos técnicos também serão importantes, como por exemplo a frente de cocho disponível para cada boi (que deve ser de pelo menos 50cm). O lote de animais deve ser homogêneo (tamanho, peso e se são castrados ou não, por exemplo) para evitar competições “desleais” por alimento, que fazem com que alguns animais tenham desempenho inferior, além é claro da área disponível para cada um dos animais que deverá ser ao redor de 15 m2.
Perspectivas de preços
O diferencial entre a média de preços do primeiro para o segundo semestre no ano passado foi de 3,35% ou R$1,48/@, quando deflacionou-se os preços da arroba. O diferencial do maior preço (outubro) para o menor preço (julho) foi de 9,93% ou R$4,31/@.
Para outubro, mês comumente considerado o pico da entressafra, a BM&F (Bolsa Mercantil & Futuros) sinalizou que os preços estariam ao redor de R$46,50/@, um diferencial de R$3,00/@ comparado com o mercado físico vigente.
O preço de R$46,50/@ para outubro deve ser considerado com certa ressalva, pois até outubro “muita água vai rolar” e o mercado poderá ser totalmente outro.
No ano passado, em meados de maio enquanto o mercado físico trabalhava em R$40,00/@ a BM&F sinalizava para outubro R$46,20/@, um diferencial de R$6,20/@, no entanto, outubro teve como preço médio em Reais deflacionados de R$47,30/@, um diferencial maior que o da aposta de maio. Tal fato pode não se repetir este ano, mas é um indicativo de comportamento de preços.
Trabalhar com um preço R$7,00/@ acima dos preços atuais significa um preço de R$50,50/@, o que poderá ser um otimismo demasiado, considerando as atuais condições de mercado.
Enquanto os custos de 2001 estiveram ao redor de R$42,00/@, este ano estão perto de R$43,16/@, um aumento de 3%. Como a tendência dos preços da arroba para outubro é próxima ao praticado no ano passado, as margens do produtor tendem a ser menores.
Considerações finais
O confinamento tem se encaixado melhor naquelas situações onde o pecuarista já tem um sistema intensivo de produção animal. Neste caso o confinamento é parte de um conjunto de medidas estratégicas de engorda direcionado para aqueles animais que chegam na boca da seca sem peso para o abate, porém com peso, próximo a 400kg. Caso continuassem a pasto, muito provavelmente, não conseguiriam peso de abate antes do início da safra seguinte.
As expectativas para a pecuária de corte no Brasil são boas, o desempenho das exportações no primeiro trimestre foi melhor que no mesmo período de 2001 (arrecadação 39% melhor comparativamente), a taxa de câmbio tem favorecido isto, entre outros fatores.
Porém, também como no ano passado, o que pode atrapalhar esta expectativa boa para os preços do boi gordo no segundo semestre é o consumo interno. O consumo brasileiro de carne bovina representa cerca de 90% do que é produzido.
Como o consumo de produtos alimentícios, hoje em dia, sofre maior concorrência com bens duráveis, como telefones, eletrodomésticos, etc., ocorre uma divisão na renda do consumidor, fazendo com que o percentual gasto com alimentos seja menor.
O resultado para o setor primário, principalmente agrícola, são recuos nos preços por falta de demanda.