Pouco mais de um ano após ser vendida, a Rodopa Alimentos vai encerrar suas operações. Em dificuldades financeiras e sem capital de giro, a empresa só aguarda o aval do conselho administrativo de defesa econômica (Cade) para arrendar os três frigoríficos que ainda estão em operação para a JBS.
Com isso, a Rodopa vê fracassar o ambicioso plano de expansão liderado pelo empresário e ex-diretor financeiro da JBS Sergio Longo, que pretendia dobrar a capacidade de abate de bovinos e abrir o capital da empresa na BM&F Bovespa. Procurada, a Rodopa não se pronunciou.
Com faturamento estimado em R$ 1,2 bilhão neste ano, a Rodopa tem uma dívida de cerca de R$ 400 milhões. Trata-se de um montante bem superior aos R$ 286 milhões devidos um ano atrás. Segundo uma fonte, 60% da dívida da empresa vence em até um ano.
Os principais credores são os detentores dos bonds emitidos pela empresa em outubro de 2012. Ao todo, a Rodopa captou US$ 100 milhões. Com uma taxa de juros de 12,5% ao ano e pagamento de juros semestral, os títulos emitidos vencerão em 2017.
Foi a emissão desses bonds, aliás, que marcou a mudança do controle da companhia. Fundada em Limeira (SP) em 1958, a Rodopa era controlada por Paulo Bindilatti até outubro de 2012. O diretor-executivo Sergio Longo assumiu a empresa, numa operação conhecida como “management buyout”. Na prática, Longo comprou a Rodopa com recursos da própria empresa. À época, o valor da aquisição foi de R$ 200 milhões, considerando a assunção de R$ 160 milhões em dívidas.
Ao desligamento de Biojone seguiu-se uma redução do ritmo das operações, o que diminuiu a necessidade de capital de giro. O Jornal Valor apurou que a Rodopa devolveu o frigorífico de Goiás Velho (GO), que estava alugado. Outra medida foi o fechamento do abatedouro de Canarana, em Mato Grosso. Já a unidade de Sinop (MT), que tinha previsão de entrar em operação no segundo semestre, continuou fechada. A Rodopa também está prestes a encerrar as atividades da unidade de porcionados que fica em Cajamar (SP), de acordo com uma fonte.
Com o fechamento dessas plantas, restaram os frigoríficos de Santa Fé do Sul (SP), Cassilândia (MS) e Cachoeira Alta (GO). Mas essas plantas passarão às mãos da JBS após o crivo do Cade. Ao todo, as três unidades têm capacidade para abater cerca de 2 mil cabeças de bovinos por dia. O Jornal Valor apurou que o contrato de arrendamento é de dez anos, prorrogáveis por mais dez anos. Procurada, a JBS informou que só vai comentar a operação após a apreciação do acordo pelo órgão antitruste brasileiro.
De certa forma, a crise da Rodopa é fruto da própria expansão da companhia. De acordo com uma fonte, a empresa utilizou cerca de R$ 50 milhões dos recursos captados no exterior para investir em modernização e adquirir os frigoríficos de Canarana e Cachoeira Alta. Nesse montante, também está incluída a aquisição de 50% do frigorífico de Sinop.
Com maior capacidade de abate após as aquisições, a empresa também precisaria de maior fôlego financeiro, uma vez que o negócio de carne bovina é intensivo em capital de giro. “Precisava de dinheiro, mas as taxas de juros eram muito altas”, disse a fonte.
Não bastasse isso, a forte valorização do dólar foi trágica para a companhia. Como a maior parte do endividamento da Rodopa é lastreada em dólar, sobretudo da captação externa, a empresa viu seu passivo em reais aumentar. Além disso, a Rodopa exporta bem menos, relativamente, do que gigantes como JBS, Marfrig e Minerva. Com isso, o “hedge natural” oriundo das vendas externas é menor para a Rodopa.
O Valor apurou que a Rodopa costurou um acordo com os detentores dos bonds, o que abriu espaço para a transação com a JBS. Mas não está claro se o arrendamento resolverá o problema da empresa, que continuará com a obrigação de quitar o bond em 2017. De todo modo, se prosseguir a estratégia de arrendamentos, a Rodopa ainda poderá obter recursos alugando as plantas de Sinop e Canarana.
Veja notícia relacionada:
JBS aluga plantas frigoríficas da Rodopa Alimentos
Fonte: Jornal Valor Econômico, resumida e adaptada pela Equipe BeefPoint.