O BeefPoint realizará no dia 8 de maio, o BeefSummit Bem-estar Animal, e trará as melhores práticas em bem-estar animal do Brasil.
Será entregue o Prêmio BeefPoint – Edição Bem-estar Animal, um prêmio criado pelo BeefPoint para homenagear quem faz a diferença na pecuária de corte brasileira.
Para conhecer melhor os palestrantes e os temas de suas palestras, o BeefPoint preparou uma série de entrevistas com os palestrantes do BeefSummit Bem-estar animal.
Confira abaixo a entrevista com Mateus José Rodrigues Paranhos da Costa, professor e pesquisador em etologia animal na UNESP – Jaboticabal.
Mateus José Rodrigues Paranhos da Costa é Zootecnista e Professor de Etologia e Bem-Estar Animal na Faculdade de Ciências Agrárias e Veterinárias, da UNESP, campus de Jaboticabal, onde coordena o Grupo ETCO (Grupo de Estudos em Etologia e Ecologia Animal).
BeefPoint: Breve descrição pessoal e profissional e do trabalho que vem desenvolvendo.
Mateus Paranhos: Sou professor da UNESP, tenho uma história longa com os animais, sou de uma família de agricultores, desde jovem estive muito próximo dos animais, busquei formação em zootecnia. Durante a formação tive a oportunidade de trabalhar com comportamento animal, me especializei em animais de produção.
BeefPoint: Com base em suas pesquisas, o que você implementou de diferente na pecuária brasileira, que se tornou referência nacional em bem-estar animal em nosso país?
Mateus Paranhos: Voltei a trabalhar com bem-estar animal em 1998-1999 e aqui no Brasil esse assunto não era muito conhecido, nem se falava muito nisso, mas a UNESP me apoiou bastante nesta função, pude me dedicar bastante a isso. Encontrei apoio em produtores preocupados com o tema, pessoas de boa índole que tinham essa preocupação inerente. Com o apoio destes produtores desenvolvi pesquisas que traziam resultados concretos, que mostravam as vantagens do uso do BEA.
O reconhecimento se deu por essa oportunidade de trabalhar com uma área pouco conhecida e por trabalhar de forma direta com o setor produtivo, fazendas e frigoríficos abriram as portas para o desenvolvimento de novas estratégias ligadas ao BEA. O grupo ETCO que eu coordeno teve condição de oferecer soluções práticas para a cadeia, saímos da academia e podemos trabalhar na prática, com o desenvolvimento de manuais, treinamentos, etc.
BeefPoint: Na sua opinião, o que pode ser feito para diminuir a distância da pesquisa com a prática vivenciada no campo?
Mateus Paranhos: O ponto principal é que existe uma pressão muito grande nas universidades para a publicação de artigos em revistas especializadas que o produtor muitas vezes não tem acesso. Porém, a solução é buscar resolver problemas práticos, problemas apresentados pelos produtores, o elemento chave é a pesquisa aplicada com foco na resolução do problema. Seria muito interessante o desenvolvimento dessa estratégia.
BeefPoint: O que você pretende fazer para difundir ainda mais suas pesquisas para os pecuaristas? O que ainda pode ser feito?
Mateus Paranhos: Ainda há muito trabalho para ser feito para resolver os problemas de bem-estar animal, acredito que dois pontos precisam ser reforçados. A busca de identidade nacional, pois precisamos diminuir a influência de tecnologias estrangeiras, o setor de produção e a academia devem saber separar quais tecnologias são boas para o Brasil e quais não são. Felizmente, o Brasil tem sido cuidadoso ao usar tecnologia importada, espero que continue assim.
O segundo ponto é educacional, pois é preciso formação de técnicos que tenham consciência da importância do BEA, e também de formação de pecuaristas, capacitação de trabalhadores, gerentes de fazendas neste tema, mostrando a importância disso, e sensibilizando-os que os animais merecem respeito. Minha grande preocupação é formar pessoas que sejam conscientes desse problema.
BeefPoint: Qual a aceitabilidade dos pecuaristas quanto a adoção de novas técnicas de manejo em suas propriedades, principalmente as focadas no manejo racional?
Mateus Paranhos: O número é crescente, há alguns anos atrás eram poucas as fazendas comprometidas com a aplicação das boas práticas de manejo. É gratificante ver como este número esta crescendo, talvez porque os pecuaristas estão vendo vantagens de adotar práticas de manejo que promovam o bem-estar animal Nos últimos anos o número de pessoas comprometidas com o BEA tem aumentado exponencialmente; acredito que nos próximos dez anos grande parte da cadeia produtiva da carne brasileira estará comprometida com isto; mesmo reconhecendo que existe resistência à mudanças.
BeefPoint: Todos sabemos que aprendemos mais com nossos erros. O que fez e deu errado? Você poderia nos contar?
Mateus Paranhos: No começo de nossos trabalhos, na empolgação de divulgar o tema, acreditávamos ser possível mudar todos os procedimentos de manejo das fazendas de um dia para o outro. Tivemos a oportunidade de vivenciar uma experiência muito importante na Fazenda São Marcelo, que nos mostrou que as coisas não funcionam assim, e que essa é uma estratégia fadada ao fracasso. Foi na Fazenda São Marcelo que aprendemos a trabalhar de outra forma, com foco em processos, tratando de resolver um problema relacionado a uma atividade que estava ocorrendo no momento do treinamento. Com esta experiência vimos que os vaqueiros prestam mais atenção ao que está sendo explicado, aplicando as boas práticas de manejo com mais facilidade.
BeefPoint: Qual o maior desafio da pecuária brasileira hoje?
Mateus Paranhos: O maior desafio é produzir com qualidade e sustentabilidade. O bem-estar animal entra em todos os pilares da sustentabilidade, com reflexos econômicos, sociais, ambientais e éticos. Um animal com problemas de bem-estar não produz bem, gerando impacto econômico negativo; além disso, animais mal manejados se tornam mais reativos, dificultando o trabalho dos vaqueiros. Enfim, no meu entendimento, o grande desafio é integrar todos os domínios da sustentabilidade.
BeefPoint: Quais seus planos para 2014?
Mateus Paranhos: Pretendemos ampliar projetos na pecuária leiteira e fortalecer o programa de pós-graduação e dar ênfase ao programa extensão. Além disso, no campo pessoal pretendo descansar um pouco no segundo semestre, tirar umas férias das aulas e ir paras as fazendas – que é uma boa forma de descansar e aprender ao mesmo tempo.
BeefPoint: Qual o maior exemplo de professor/pesquisador que trabalha com bem-estar animal? Quem você admira por fazer um excelente trabalho?
Mateus Paranhos: Admiro a Dra. Temple Grandin, pois além de ser uma pessoa emblemática, que serve de exemplo de dedicação e superação, ela de ser muito generosa, ela está sempre pronta para passar seu conhecimento com dinamismo e entusiasmo. Admiro também os professores Donald Broom e Neville Gregory, também pela dedicação e amor ao trabalho.
BeefPoint: Qual seu recado para os pecuaristas?
Mateus Paranhos: Cuide bem de seus animais, simplesmente porque isto é bom, reforçando a mensagem de Peter Singer. Estou muito otimista, acho que os avanços no Brasil foram muito grandes, com mudanças que aconteceram naturalmente e, portanto, tem maior chance de durar, fruto da vontade dos produtores de melhorar. Com isso, acredito que iremos crescer cada vez mais nessa área no conhecimento.