A concentração do setor frigorífico nacional deve levar a um amadurecimento da relação pecuarista-indústria, na avaliação de participantes do segmento. As constantes reclamações dos criadores quanto à dificuldade de negociar com um número cada vez menor de compradores têm impacto direto no preço recebido e gerou discussão sobre a necessidade de melhorar o diálogo, tornando-o mais maduro e produtivo.
A concentração do setor frigorífico nacional deve levar a um amadurecimento da relação pecuarista-indústria, na avaliação de participantes do segmento. As constantes reclamações dos criadores quanto à dificuldade de negociar com um número cada vez menor de compradores têm impacto direto no preço recebido e gerou discussão sobre a necessidade de melhorar o diálogo, tornando-o mais maduro e produtivo.
O pecuarista Maurício Tonhá, de Mato Grosso do Sul e diretor do Grupo Estância Bahia, que fornece gado para a indústria mato-grossense, prega o diálogo para que o setor aproveite as oportunidades que surgirão a partir do crescimento do mercado. “Boa parte da culpa desse estranhamento é nossa, do produtor. Ao invés de pegarmos em armas, temos agora que levantar a bandeira branca, até para aproveitar as oportunidades que temos em venda da nossa carne no mercado interno e no exterior”, disse.
O presidente da Federação da Agricultura e Pecuária de Mato Grosso do Sul (Famasul), Eduardo Riedel, defende a aproximação como forma de aprimoramento da cadeia como um todo. “Temos que estar permanentemente sentados à mesa para melhorar essa relação, a sustentabilidade e a imagem da cadeia. A transparência nas relações comerciais também é fundamental”, destaca. A Famasul está promovendo o diálogo entre indústria e pecuarista, buscando avançar em questões como a conformidade do rendimento da carcaça. “Essa agenda é resultado de algumas reuniões recentes que tivemos com a entidade e pecuaristas do Estado”, acrescentou o diretor do Grupo JBS, Fábio Maia, da recém-criada diretoria de Relações com Pecuaristas.
As oito maiores indústrias concentram pouco mais de 30% dos abates, de acordo com a Scot Consultoria. O dado, segundo Alcides Torres, diretor-fundador da Scot, não caracteriza uma situação “grave” de concentração. “O estudo nacional não mostra um cenário absoluto. É preciso analisar regionalmente”, diz.
Levantamento do Instituto Mato-grossense de Economia Agropecuária (Imea) mostra que os recentes arrendamentos das unidades do Guaporé Carne elevaram a capacidade instalada de abate do Grupo JBS no Estado de 36% em 2011 para 48%. Já dados da Federação da Agricultura e Pecuária de Mato Grosso do Sul (Famasul) mostram que a JBS, considerando as cinco unidades em operação e excluindo duas fechadas, detém 37% dos abates no Estado. Incluindo as duas unidades a serem adquiridas do Independência – uma em Campo Grande e outra em Nova Andradina, ainda em aprovação por credores do frigorífico -, esse porcentual passará a 46% em Mato Grosso do Sul.
Além da perda parcial do poder de negociação, a reclamação dos pecuaristas tem, em grande parte, foco na atuação do Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). Segundo eles, para apoiar o crescimento do setor, o banco de fomento acabou injetando dinheiro apenas em algumas indústrias.
Para o diretor técnico da Informa Economics FNP, José Vicente Ferraz, a concentração é saudável, mas tem que haver um equilíbrio. “Não é eficiente para a economia o setor ser pulverizado, porque o frigorífico que não tem escala, morre, não tem visibilidade nos mercados. E também o produtor, diante dessa situação, precisa ser devidamente remunerado”, declarou.
A indústria rebate a tese da concentração no setor, mas está se estruturando para atender melhor os pecuaristas. A JBS criou uma diretoria de Relações com Pecuaristas e chamou Eduardo Pedroso, ex-funcionário do frigorífico Independência, em recuperação judicial desde maio de 2009, cuja venda de ativos ao JBS foi submetida aos credores, e Fábio Maia, que foi diretor executivo da Associação Nacional dos Confinadores (Assocon) e também ex-funcionário do Independência. Ambos já desempenharam essa função de intermediação com os produtores.
Por sua vez, o grupo Marfrig chamou o ex-secretário da Agricultura do Estado de São Paulo e ex-presidente da Sociedade Rural Brasileira, João Sampaio, para ser o vice-presidente de Relações Institucionais da companhia. Ele é responsável pela intermediação da relação da empresa com os seus diversos públicos, principalmente os fornecedores da matéria-prima.
Fonte: Agência Estado, resumida e adaptada pela Equipe BeefPoint.