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Covid-19 nos faz repensar sucessão e legado nas empresas – Por Renato Bernhoeft

Por Renato Bernhoeft

Um forte espírito empreendedor, acompanhado de muita determinação, alto grau de autoestima, liderança, sentido de propósito e necessidade de admiração são algumas das características de quem funda uma empresa. Na medida em que o empreendimento vai ganhando vida e projeção é bastante comum que a figura do “criador” se confunda com a da “criatura”, a empresa.

Uma análise histórica de empresas familiares no Brasil, onde grande parte das mesmas foi fundada por imigrantes, migrantes ou ainda pessoas de origem socialmente simples, mostra claramente esta vertente de sucesso. Um produto de muita determinação e foco.

Atualmente, com o aumento da longevidade humana, essa característica de apego ao empreendimento tem crescido exponencialmente. O que dificulta, para muitos, encontrar o momento adequado para encaminhar a continuidade, tanto da empresa, quanto do legado e do patrimônio construído.

Um exemplo recente vem da herdeira do presidente de um grande banco, com atuação internacional, e que morreu devido a covid-19. “Somos uma família milionária, mas o meu pai morreu sozinho e sufocado, buscando algo que é grátis: o ar. O dinheiro todo ficou em casa.”

Encontrar novos projetos e formas, para ainda se sentir com poder, exige muito desprendimento. Vale registrar que temos alguns exemplos de fundadores, muito bem sucedidos, que dedicaram esta segunda etapa de suas vidas à atividade política, contribuição social, novos empreendimentos, representação associativa ou tantos outros projetos de caráter público.

Entretanto, o registro que o momento atual nos coloca, de uma pandemia inesperada, os efeitos que estamos constatando são: crescimento da vulnerabilidade humana, questionamento das políticas públicas vigentes, fragilidade dos modelos econômicos; mudança radical do perfil de todos os mercados, em paralelo a uma nítida ausência de lideranças devidamente legitimadas. No universo empresarial, os efeitos têm apresentado ainda outras tantas características e peculiaridades.

Muito já se têm falado, e discutido, sobre os impactos no universo corporativo, tais como isolamento, trabalho a distância, desemprego, mudança do perfil de fornecedores e clientes, estratégias de guerra para manter mercado, controle de custos, diminuição das margens de lucro, questões tributárias e auxílio governamental. Mas o que desejo expressar neste artigo é algo ainda pouco tratado, que é a preocupação do empresário não apenas com a continuidade do seu negócio, mas o seu processo sucessório no controle do empreendimento.

A constatação de que, como seres humanos, temos uma vida finita, cujo momento pode ser esperado mas jamais previsto com exatidão, tem levado muitos empresários a discutir o tema da continuidade da sua obra na perspectiva dos seus sucessores. Essa agenda, que envolve lidar com conflitos familiares entre herdeiros, ao não ser tratada, coloca em risco a continuidade da empresa, do patrimônio e prestígio de sobrenomes hoje admirados e reconhecidos.

A recomendação fundamental para fundadores, ou pessoas que tenham construído um patrimônio significativo ao longo das suas vidas, é de que este assunto – muito antes de começar a ser escrito em testamento, acordos, questões legais ou tributárias – exige o diálogo entre os seus herdeiros da propriedade.

Nenhum fundador impõe uma liderança para a seguinte geração. Este novo líder deve conquistar legitimidade por sua capacidade de ser aceito e respeitado por aqueles que serão seus futuros sócios. A figura de ‘dono’, patriarca, e do comando único, é característica da primeira geração. Em hipótese alguma se aplica às seguintes.

Vale sempre lembrar uma carta, escrita por um fundador aos seus filhos que terminaram perdendo a totalidade da empresa: “Filhos, procurem se entender. Nenhum de vocês vai ser ‘dono’. Vocês vão ser sócios, e quem tem sócio, tem patrão, tem que dar satisfação.”

Fica aqui registrado o convite e alerta aos empresários fundadores para que tratem da sua sucessão em vida. O momento é de alerta. Lembre que após sua ausência ficarão apenas memórias e ressentimentos, divididos entre os seus herdeiros. E os eventuais beneficiários serão os gestores dessas disputas.

Fonte: Valor Econômico.

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