A partir desta quinta-feira, 21% do rebanho bovino brasileiro, ou 44,5 milhões de cabeças de gado, estarão em zonas livres de febre aftosa sem vacinação, com o reconhecimento oficial que deverá será feito pela Organização Mundial de Saúde Animal (OIE). A certificação será dada aos Estados do Paraná, Rio Grande do Sul, Acre e Rondônia e de parte do Amazonas e de Mato Grosso. Eles se juntam a Santa Catarina, que tem o status desde 2007.
A chancela da OIE abre oportunidades para a ampliar exportações, abrir novos mercados, agregar valor à produção e reduzir R$ 170 milhões de custos anuais aos criadores com a retirada da imunização dos bovinos.
Segundo a coordenadora de Produção Animal da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), Lilian Figueiredo, a medida melhora a imagem do país no exterior e atesta a qualidade do rebanho e do serviço veterinário oficial.
Para os pecuaristas, a expectativa é de redução das perdas na carcaça com os abcessos causados pelas vacinas em pontos nobres da carne, economia com a compra do imunizante (cerca de R$ 4 por cabeça) e ganhos com melhor manejo do gado.
O reconhecimento pode abrir mercados e melhorar o preço pago pelas carnes bovina e suína brasileiras em até 30% em países como EUA, México, Canadá, Coreia do Sul e Japão. “Tiramos a vacina, mas trocamos por vigilância”, disse Lilian.
O chefe da Divisão de Febre Aftosa do Ministério da Agricultura, Diego Viali, diz que as áreas foram alvo de melhoria do serviço veterinário, de comunicação entre governo e criadores e terão que manter fundos de defesa privados para garantir estrutura para reação rápida e eficaz no caso do aparecimento do vírus.
Ele afirma que não existe “risco zero” e que a própria vacina “não é infalível”, mas que essas regiões deram um passo importante para a erradicação da doença, com garantia de medidas de mitigação e contenção do vírus, como o georreferenciamento das 588 mil propriedades com criação de bovinos nessa área.
“A aftosa tem uma taxa de transmissão mais alta que a covid-19. Essa é uma demonstração clara de que o vírus não está aqui. Teremos ainda mais credibilidade na área de defesa agropecuária”, ressaltou.
O rebanho bovino brasileiro soma 215 milhões de cabeças. Nas novas zonas livres, são 40 milhões de animais, mais 4,5 milhões nas 180 mil propriedades rurais de Santa Catarina. “Mas ainda temos 80% para trabalhar”, lembrou Viali.
Os suinocultores também devem se beneficiar do status. Os suínos não são vacinados, mas podem ser infectados pelo vírus, servindo de “sentinela” para os bovinos. A certificação possibilita a venda de cortes suínos com osso e miúdos para a China e novos mercados para os novos Estados em zona livre para países que já exigem o status e só compram de Santa Catarina, como Chile e Japão.
Só no Rio Grande do Sul, maior exportador de carne suína depois de Santa Catarina, os embarques podem aumentar 5% já no segundo semestre deste ano e chegar a 290 mil toneladas vendidas no ano, projeta a Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA). E poderá melhorar o perfil de venda dos produtos, disse o presidente da entidade, Ricardo Santin, ao Valor. Para 2022, a estimativa é de aumento de até 30% nas vendas, para 350 mil toneladas, e incremento de US$ 150 a US$ 200 milhões na receita comercial gaúcha.
Fonte: Valor Econômico.