Vegetarianos rígidos que insistem que seus filhos vivam pelos mesmos princípios estão sendo criticados atualmente pelos principais especialistas em nutrição. A ausência de produtos de origem animal na dieta de crianças durante os primeiros e mais críticos anos de vida pode gerar danos permanentes em sua saúde, de acordo com a professora da Universidade da Califórnia-Davis, Lindsay Allen.
Allen conduziu um estudo onde mostrou que a adição de somente duas colheres de carnes vermelhas à dieta de crianças pobres da África gerou uma transformação física e mental nas mesmas. Durante um período de dois anos, as crianças quase dobraram seu desenvolvimento muscular e mostraram dramáticas melhoras em suas habilidades mentais. Elas também se tornaram mais ativas, mais falantes e mais alegres na escola.
Falando na reunião anual da Associação Americana para Avanço da Ciência em Washington DC, Allen disse que alimentos de origem animais têm alguns nutrientes que não são encontrados em nenhum outro lugar. “Em se tratando de alimentação de crianças pequenas, mulheres grávidas e em lactação, eu diria até que é antiético evitar esses alimentos durante este período”.
A carne fornece uma concentrada fonte de micro-nutrientes essenciais, como zinco, vitamina B12, cálcio, ferro e vitamina A, que não podem ser facilmente obtidos somente de fontes de origem vegetal. O estudo africano envolveu 544 crianças no Quênia, com idade de cerca de sete anos, cuja dieta consistia principalmente de milho e feijão. Durante um período de dois anos, um grupo de crianças recebeu um suplemento diário de duas onças (56,699 gramas) de carne vermelha – equivalente a duas colheres de carne moída. Dois outros grupos receberam ou um copo de leite por dia ou um suplemento oleoso contendo a mesma quantidade de energia. A dieta do quarto grupo permaneceu inalterada. As mudanças observadas nas crianças que receberam carne e, em uma menor extensão, leite ou óleo, foram dramáticas.
Allen, que é diretora do Centro de Pesquisa em Nutrição Humana do Oeste que faz parte do Serviço de Pesquisa Agrícola dos EUA, disse que a pesquisa descobriu que, comparado com o controle – crianças que não receberam intervenção -, o grupo que consumiu carne teve um aumento de 80% na massa muscular durante os dois anos de estudo, e o grupo de leite e energia teve um aumento de 40% na massa muscular.
“Em termos de função cognitiva, o grupo que recebeu os suplementos de carnes mostrou as maiores melhoras durante os dois anos e aqueles que receberam leite ou energia foram melhores que os controles. As crianças pertencentes ao grupo que recebeu os suplementos de carne foram mais ativas no pátio de recreio, mais falantes e divertidas e mostraram mais habilidade para liderança”.
As pontuações nos testes para habilidade mental melhoraram 35 pontos para o grupo de carnes, 14 para o grupo de leite e permaneceram inalteradas para crianças que não receberam suplementos. Além disso, a adição de carne ou leite às dietas eliminou quase completamente as altas taxas de deficiência de vitamina B12 antes vista nas crianças.
“É importante notar que esses importantes benefícios para a saúde humana foram vistos em somente dois anos. Se essas crianças tivessem recebido esses alimentos antes em suas vidas, ou suas mães tivessem recebido quando estavam grávidas, ou ainda, se as pessoas pudessem recebê-los em toda sua vida, as melhorias no desenvolvimento seriam ainda mais dramáticas”.
Ela enfatizou que, apesar deste estudo ter sido conduzido em uma comunidade pobre da África, esta mensagem é altamente relevante para pessoas nos países desenvolvidos. Estudos com vegetarianos nos EUA e na Europa mostraram que a ausência de carnes e produtos lácteos pode prejudicar permanentemente o desenvolvimento de crianças. Pesquisadores da Holanda mostraram que quando as crianças atingem 16 anos de idade, já está muito tarde para ajudá-las a re-introduzir carne e leite em suas dietas. Elas permanecem prejudicadas.
Allen disse que aceita que os adultos possam evitar produtos de origem animal se mantiverem a suplementação adequada, mas os riscos são muito grandes para crianças em desenvolvimento. Tradicionalmente, os suplementos devem ser usados para resolver os problemas de deficiência nutricional nos países em desenvolvimento. No entanto, novas evidências apontam que a melhor política é fornecer mais alimentos de origem animal.
Fonte: Independent News & Media (UK) Ltd. (por John von Radowitz), adaptado por Equipe BeefPoint