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Dante Pazzanese Lanna: no Brasil existe espaço para explorarmos inúmeros sistemas de produção

Durante o Congresso Internacional da Carne, realizado em Campo Grande/MS, o Professor da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq/USP) e Diretor Técnico da Associação Nacional dos Confinadores (Assocon), Dante Pazzanese Lanna, apresentou a palestra "Nutrição Animal e Qualidade da Carne Brasileira". Segundo ele, no Brasil existe espaço para a pecuária ser trabalhada explorando vários sistemas de produção. "Todos esses sistemas podem coexistir e de forma competitiva atender a demanda mundial de carne e vários tipos de mercados", completou Lanna.

Durante o Congresso Internacional da Carne, realizado em Campo Grande/MS, o Professor da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq/USP) e Diretor Técnico da Associação Nacional dos Confinadores (Assocon), Dante Pazzanese Lanna, apresentou a palestra “Nutrição Animal e Qualidade da Carne Brasileira”.

No início da sua apresentação o Professor lembrou que a base do nosso sistema de produção de carne bovina é o zebu criado em pastagens, mas que também temos uma indústria de confinamento muito forte e que cresce constantemente.

Segundo ele, no Brasil existe espaço para a pecuária ser trabalhada explorando vários sistemas de produção. “Podemos ter sistemas a pasto que visem atingir certos nichos de mercado como a produção de orgânicos, ou sistemas a pasto intensivos que atenderiam outros mercados. Outra alternativa viável seria uma criação a pasto integrada com confinamento, aumentando a eficiência do sistema e possibilitando a abertura de novos mercados. Ainda podemos pensar em uma produção com vacas a pasto e animais super-precoces sendo terminados em confinamento”.

“Todos esses sistemas podem coexistir e de forma competitiva atender a demanda mundial de carne e vários tipos de mercados”, completou Lanna.

Mostrando um gráfico que traz a quantidade de energia gerada por hectare em diversas culturas (grãos), ele afirmou que o milho é muito mais eficiente que a pastagem na produção de energia por hectare por ano. “Mas se trabalhamos com sistemas extremamente intensivos, conseguimos inverter essa situação”, conforme destacado no gráfico abaixo.

O palestrante explicou que sistemas de produção exclusivamente a pasto apresentam dificuldades para atingir as exigências de acabamento, idade e uniformidade, devido a sazonalidade, ou seja, em determinados momentos do ano esses sistemas acabam apresentando um desempenho muito baixo, o que prejudica a produtividade. Ele lembra que esses sistemas ainda enfrentam problemas como a falta de área para expansão, a competitividade com outras culturas e a emissão de gases de efeito estufa. “Não podemos mais pensar em desmatamento, mas sim em aumento da eficiência com uso intensivo das pastagens e confinamentos”, completou.

Para exemplificar a diferença de produtividade entre os sistemas, Dante apresentou dados de produção da média das pastagens brasileiras e de sistemas altamente intensivos:

“O Brasil é abençoado por conseguir produzir soja e milho na mesma área no mesmo ano, pois hoje conseguimos produzir muito bem até na safrinha, sem condições ideais. Isso nos possibilita trabalhar com grande produção de proteína e energia”, ressaltou.

Diante desses desafios e do potencial da agropecuária brasileira, o professor avaliou que o confinamento ajuda a reduzir os efeitos da sazonalidade e outros sistemas como a Integração Lavoura-Pecuária (ILP) podem ajudar ainda mais no aumento da produtividade da nossa pecuária.

Apresentando dados dos principais produtores de carne do mundo, o palestrante chamou atenção para o fato de que no Brasil apenas 6% dos animais abatidos são terminados em confinamento, diferente do que acontece na Argentina, Austrália e EUA, onde este tipo de animal representa mais de 90% dos abates.

Para frisar que é preciso conhecer os sistemas e entender qual é o mais adequado em cada situação, ele exemplificou dizendo que não conseguiremos atingir as exigências do Japão (alta cobertura de gordura) produzindo boi orgânico no Pantanal. “Mas essa carne pode atingir outros mercados, que podem até pagar mais do que o Japão. Não podemos fechar os olhos para determinados nichos, temos que entender os sistemas de forma ampla.”

O Professor ainda avaliou que hoje existe um problema de logística que precisa ser equacionado. “Produzimos os grãos no Centro-oeste brasileiro e os transportamos até a Europa. Produzir carne no Centro-oeste e vende-la para Europa seria muito melhor do que levar os grãos”.

Ao apresentar os dados de um estudo que avaliou o impacto desta mudança, Lanna informou que “se a Alemanha adotasse essa mudança, seria o equivalente a tirar 340 mil carros de circulação”.

Assim é preciso avaliar os desbalanços e custos ambientais causados pelo fluxo dos grãos e do petróleo sem taxações, acompanhado do protecionismo na área da produção de alimentos, pois “mandamos os grãos e ficamos com o passivo ambiental”. Desta forma fica claro que precisamos basear nossas decisões em boa ciência. “Não podemos simplesmente aceitar o que vem de fora”, reforçou Lanna.

O Professor ainda lembrou que a população mundial deve aumentar em mais de 2,5 bilhões de pessoas até 2050 e como esta população também está experimentando aumento renda e o consumo de carnes deve continuar crescendo, assim para atender essa demanda é preciso investir no aumento de produtividade.

Na sua visão uma saída para conseguirmos produzir mais seria o aumento no uso de tecnologias que efetivamente melhoram o desempenho e reduzem o impacto ambiental. Além disso precisamos buscar tecnologias que estão sendo utilizadas em alguns países concorrentes, como EUA e Austrália, para tornarmos nossa pecuária mais competitiva. “Precisamos de mais pesquisas na área de qualidade da carne e nutrição, em todos os sistemas de produção e pesquisas sobre o que o consumidor está exigindo”. Ele ainda afirmou que o consumidor está sempre certo, mas que questões como estas devem ser definidas de forma comercial. “Se o consumidor quiser e pagar mais, nós vamos produzir como eles desejam”.

Para finalizar Dante Pazzanese Lanna avaliou que o Brasil está em uma posição privilegiada frente o desafio de dobrar a produção até 2050 e que essa situação pode se tornar uma excelente oportunidade. Mas para isso precisamos entender que o nosso sistema de produção não será único, como os nichos de mercado não são únicos, e as atitudes regulatórias precisam ser baseadas em conhecimento científico.

0 Comments

  1. Rodrigo Belintani Swain disse:

    André seria muito bom se todos entendessem o beneficio de certas mudanças em prol do meio ambiente e de facilidades mercadologicas, mas veja, nao podemos perder o diferencial da produção Brasileira  apenas  para aumentar a produção.

  2. Mauricio Omizzolo disse:

    Caro André, acho que o conteúdo da palestra é muito pertinente no momento atual da pecuária nacional; devemos melhorar nossa qualidade e precocidade. Eu gostaria de saber com mais detalhes, dados sobre a criação de vacas/bezerros em pasto e terminação dos mesmos em confinamento, atingindo peso com pouca idade (super-precoces), como mensionado no início do seu texto.

    Qual o peso de desmama, qual a dieta, que tipo de raças seriam melhores.

    Aqui no sul usamos raças britânicas e continentais, mas podemos cruzar com Brhaman, p.ex..  

    Abraço e obrigado desde já.

    Mauricio Omizzolo