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Definindo a carne bovina sustentável

As palavras têm importância, tanto em como são usadas, como por quem. Para os produtores de carne bovina, a palavra "sustentabilidade" evoca sentimentos confusos, à medida que as forças anti-carne bovina muitas vezes usam o termo em seus ataques às práticas modernas de produção. Durante a primeira semana de novembro, um grupo diverso de membros da indústria de carne bovina se reuniu em Denver para começar um processo de reafirmar, definir e adotar o conceito de sustentabilidade para garantir o futuro da produção de carne bovina, e o consumo de carne bovina, em todo o mundo.

As palavras têm importância, tanto em como são usadas, como por quem. Para os produtores de carne bovina, a palavra “sustentabilidade” evoca sentimentos confusos, à medida que as forças anti-carne bovina muitas vezes usam o termo em seus ataques às práticas modernas de produção.

Os produtores, claro, reconhecem que seus sistemas de produção precisam ser sustentáveis para seu negócio sobreviver. Porém, ao mesmo tempo, são confrontados na mídia e nos departamentos de carne dos estabelecimentos de varejo por declarações de que a produção de carne bovina precisa ser orgânica, de animais criados a pasto, local ou de pequena escala para conseguir a sustentabilidade.

Durante a primeira semana de novembro, um grupo diverso de membros da indústria de carne bovina se reuniu em Denver para começar um processo de reafirmar, definir e adotar o conceito de sustentabilidade para garantir o futuro da produção de carne bovina, e o consumo de carne bovina, em todo o mundo.

A Conferência Global sobre Carne Bovina Sustentável 2010 reuniu 300 participantes incluindo produtores, representantes de frigoríficos, de varejistas, de restaurantes, ambientalistas, cientistas, entre outros. Cumprindo a ideia de ser uma conferência global, a lista do evento de palestrantes e ouvintes veio de vários países, como Austrália, Brasil, Argentina, Irlanda, México, Namíbia e outros países. Para ilustrar a diversidade de interesses representados, a conferência foi organizada pelo World Wildlife Fund (WWF), com patrocínio primário da Cargill, Intervet/Schering-Plough Animal Health, JBS, McDonald’s e Wal-Mart.

A proposta da conferência foi empregar uma abordagem de múltiplas partes interessadas para começar a construir um consenso sobre as estratégias para manter e melhorar a sustentabilidade em toda a cadeia de produção de carne bovina em todo o mundo. Durante a conferência, os apresentadores focaram no que eles chamaram de “tripé”, que significa que os sistemas de carne bovina precisam de sustentabilidade econômica, ambiental e social.

O primeiro dia começou com os patrocinadores explicando suas razões para participar. O vice-presidente de responsabilidade coletiva do McDonald’s, Bob Langert, disse que sua companhia está comprometida em fortalecer sua cadeia de fornecimento de carne bovina. A produção sustentável, disse ele, está sendo caracterizada de forma errada na mídia e entre os consumidores, e a história real não está sendo falada. Por essa razão, o McDonald’s se aproximou do WWF para iniciar os esforços, à medida que ambas as organizações têm tido sucesso em trabalhar em uma abordagem de múltiplas partes interessadas.

O vice-presidente sênior de transformação de mercado do WWF, Jason Clay, disse que as populações humanas agora excedem a capacidade biótica máxima da Terra e com expectativas para a população global alcançar 9 bilhões até 2050, e, com isso dobrando o consumo de alimentos, precisamos usar os recursos de forma mais eficiente e intensificar a produção.

Atualmente, disse ele, a carne bovina é responsável por cerca de 60% da terra usada para produzir alimentos, mas fornece apenas 1,3% das calorias produzidas globalmente. Eu não tenho certeza desses números, mas um ponto que ele não incluiu é que grande parte da terra usada na produção de carne bovina não é apropriada, sustentavelmente, para outros tipos de agricultura. De qualquer forma, Clay disse que precisamos “congelar as pegadas de carbono de alimentos” enquanto dobramos a produção.

Clay disse que a sustentabilidade deve ser uma questão pré-competitiva, com todas as partes interessadas e segmentos da indústria cooperando. Um passo inicial, disse ele, é determinar o que medimos. Ele sugere deixar de maximizar qualquer variável única em produção, devemos buscar formas de otimizar muitas variáveis, focando em resultados ao invés de práticas.

O diretor de assuntos do Governo federal da Cargill, Bryan Dierlam, disse que a maioria do crescimento populacional entre agora e 2050 ocorrerá em áreas onde é difícil produzir alimento. Soluções sustentáveis, disse ele, não são sempre produzir alimento onde as pessoas estão. Dierlam também disse que os produtores de carne bovina da América do Norte vêm adicionando cerca de cinco libras (2,26 quilos) aos pesos médios das carcaças por ano e atualmente produzem a quantidade de carne bovina com quatro animais que produziam com cinco animais em 1970.

Também falando de eficiência, o representante do JBS, Jeremiah O’ Callaghan, disse que, no Brasil, os pesos médios das carcaças são de cerca de 560 libras (254 quilos), enquanto os pesos na América do Norte são, em média, 40% maiores, principalmente devido às diferenças no tipo de gado.

Durante a sessão da tarde, representantes da África, Argentina, Austrália, Brasil, Europa e Estados Unidos descreveram o negócio de carne bovina e as tendências de produção em seus respectivos países. O presidente da Associação Nacional de Produtores de Carne Bovina dos Estados Unidos (NCBA, sigla em inglês), Steve Foglesong, e o presidente eleito da NCBA, Bill Donald, deram uma excelente visão geral do sistema de carne bovina da América do Norte, enquanto também descreveram suas próprias operações familiares. Foglesong administra uma operação diversificada em Illinois, que inclui a produção de bezerros, desenvolvimento de novilhas e um estabelecimento de engorda. Donald e sua família representam a terceira e quarta gerações em sua fazenda em Montana, e recentemente celebraram seu centenário de criação de bovinos em sua propriedade.

Os slides das apresentações em PowerPoint de cada uma das apresentações estão disponíveis online no site do Sustainable Beef Web. Os principais temas das apresentações internacionais incluem:

– Os produtores de carne bovina têm muito em comum em todo o mundo.

– O contexto regional e local, entretanto, influencia a sustentabilidade de sistemas de produção.

– Viabilidade econômica é um componente chave da sustentabilidade.

– A cadeia de produção de carne bovina tem feito progresso em direção a uma maior sustentabilidade, mas ainda restam espaços para melhoras.

– A intensificação da produção é um caminho chave para a sustentabilidade, considerando o tripé da sustentabilidade.

– A indústria precisa fortalecer a base científica para práticas sustentáveis.

– A sustentabilidade precisa abranger toda a cadeia de abastecimento.

Um assunto que permeou a conferência é a necessidade de uma “análise de ciclo de vida” da produção de carne bovina e seus impactos nas emissões de carbono, água, energia e outros recursos. A forças anti-carne bovina continuam citando dados imprecisos sobre os impactos ambientais da carne bovina, particularmente o relatório da Organização das Nações Unidas (ONU), “Livestock’s Long Shadow”, que afirma que a carne bovina é responsável por 16% das emissões globais de gases de efeito estufa, excedendo até mesmo o setor de transporte. Os cientistas vem desde então contestando essa conclusão e até mesmo os autores do relatório admitiram que esse foi baseado em dados imprecisos.

Os participantes de forma geral concordaram que esse tipo de análise deveria ser baseada em ciência, focada no tripé da sustentabilidade, usar uma base de dados transparente, acessível às múltiplas partes interessadas e fornecer ferramentas de custo compensador para a tomada de decisões. Representantes da NCBA disseram que o Beef Checkoff atualmente está nos estágios iniciais de desenvolvimento de análises de ciclos de vida para a produção de carne bovina dos Estados Unidos.

Em sessões durante o segundo dia, os participantes da conferência discutiram seis categorias de questões chave de sustentabilidade e suas contribuições ao tripé de justiça social, prosperidade econômica e integridade ambiental. Os organizadores da conferência identificaram as seguintes categorias:

– Ar (incluindo emissões de gases de efeito estufa).

– Biodiversidade.

– Energia.

– Terra.

– Pessoas e animais (incluindo comunidades, negócios, nutrição e segurança alimentar).

– Água.

Durante as sessões, alguns assuntos comuns surgiram.

– O problema está nos detalhes. A maioria concorda no conceito de sustentabilidade, mas a medição, monitoramento e administração de fatores como gases de efeito estufa, uso de água ou de energia se tornam mais complexos.

– Precisamos de mais informações de referência e padronização de terminologia para medidas de sustentabilidade.

– O sistema de carne bovina fez progresso em direção a uma maior sustentabilidade, mas pode melhorar mais e precisa comunicar os sucessos ao público geral.

– A cooperação e o diálogo entre os grupos de partes interessadas permitirão progressos em direção a metas comuns.

Após a conferência, o comitê de direção, formado por representantes de organizações patrocinadoras, planejaram se reunir novamente para sumarizar as discussões e desenvolver uma estrutura para a carne bovina sustentável. Mais diálogos entre as múltiplas partes interessadas serão feitos visando a meta de construir um consenso sobre as melhores práticas e padrões globais, voluntários, baseados no mercado, para sustentabilidade.

Refletindo as discussões durante a conferência, está claro que a obtenção e documentação da sustentabilidade na produção global de carne bovina requererão ciência sólida e processos complexos, mas poucos pontos relativamente simples ajudam a sumarizar a questão.

– A carne bovina terá um papel no suprimento das necessidades futuras de alimentar uma crescente população mundial.

– A produção de carne bovina pode ser sustentável, mas não existe uma solução do tipo “um tamanho serve para todos”. Para cumprir com o tripé de sustentabilidade serão necessários diferentes sistemas de produção dependendo de várias culturas e ambientes.

– Os produtores em todo o mundo têm oportunidades de aumentar a eficiência e intensificar a produção de carne bovina em direção a lucros maiores e maior sustentabilidade.

Para mais informações da conferência e atividades em andamento, visite o site http://www.sustainablelivestock.org.

Traduzido e adaptado pela Equipe BeefPoint

0 Comments

  1. José Ricardo Skowronek Rezende disse:

    Iniciativas como esta podem superar as barreiras existentes entre os diferentes atores, ajudando no dialogo e definição dos caminhos a serem seguidos pelo setor.

  2. Evándro d. Sàmtos. disse:

    A palavra Sustentabilidade,no momento atual,não somente no nosso setor,mais do que o próprio significado da palavra na integra,nos remete a transformação,a estarmos abertos a novas formas de produção,novas formas de vender,novas formas de gerir negócios,novas formas de ver o planeta,novas formas de entender (ou tentar procurar entender) as novíssimas situações climáticas (que têm grande tendência,segundo cientistas,de serem cada vez mais exacerbadas,extremadas,demasiadas intensas),novas formas de ver e conviver com os demais seres humanos.

    Também sustentabilidade,dentro deste raciocínio,pode muito ser igual a,abandonar pré conceitos.A buscar entender de forma mais holística a tudo,a todos,até mesmo o universo.

    Perdoem a filosofada.

    Saudações,

    EVÁNDRO D. SÀMTOS.

  3. Jorge Antonio Cavallet disse:

    Eu gostaria muito de ser visto como um produtor de gado de corte dentro dos padrões de sustentabilidade, porém fica difícil quando ainda nao sabemos exatamente o que é “sustentabilidade”…
    Quem sabe, um dia chegaremos la!

    Parabens pela iniciativa!

  4. Zamber Leandro Araújo disse:

    Excelente artigo, o que foi relatado no artigo nos remete a agregação de valor e por conseguinte fator de competitividade, portanto as empresas de Montante a Jusante tedem a tornar a escala de produção cada vez mais sustentável.

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