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Dieta, carnes e câncer – parte 2/2

Até agora, a relação entre dieta e doenças tem sido assunto de vários estudos epidemiológicos e, embora esses estudos tenham levado à descoberta de várias importantes associações entre dieta e resultados para a saúde, as evidências científicas entre fatores dietéticos e prevenção de câncer têm sido, de certa forma, pouco surpreendentes considerando a extensão das pesquisas. Como tal, permanecem muitas questões relacionadas ao papel dos alimentos e da nutrição na prevenção e causa de câncer em humanos. Uma dessas questões: "existem evidências científicas de que a ingestão de carnes vermelhas ou carnes processadas pela dieta tem um efeito no desenvolvimento do câncer?" é complexa e não envolve somente fatores relacionados à composição da carne ou aos métodos de processamento e preparo da carne, mas também envolve o papel de outros padrões dietéticos e de estilo de vida e escolha que podem impactar no risco de câncer.

Consumo de carnes vermelhas e processadas e câncer

Até agora, a relação entre dieta e doenças tem sido assunto de vários estudos epidemiológicos e, embora esses estudos tenham levado à descoberta de várias importantes associações entre dieta e resultados para a saúde, as evidências científicas entre fatores dietéticos e prevenção de câncer têm sido, de certa forma, pouco surpreendentes considerando a extensão das pesquisas. Como tal, permanecem muitas questões relacionadas ao papel dos alimentos e da nutrição na prevenção e causa de câncer em humanos. Uma dessas questões: “existem evidências científicas de que a ingestão de carnes vermelhas ou carnes processadas pela dieta tem um efeito no desenvolvimento do câncer?” é complexa e não envolve somente fatores relacionados à composição da carne ou aos métodos de processamento e preparo da carne, mas também envolve o papel de outros padrões dietéticos e de estilo de vida e escolha que podem impactar no risco de câncer, como obesidade, atividade física, consumo de álcool, fumo, histórico familiar de câncer e adesão às recomendações de proteção contra o câncer. Responder a essas questões é de suma significância, porque a carne vermelha é um alimento rico em nutrientes que têm uma importante função na dieta dos norte-americanos, contribuindo com um pacote único de nutrientes.

Perfil nutricional da carne bovina

A carne bovina é uma importante fonte dietética de vários nutrientes importantes, com uma porção de 85 gramas de carne bovina contribuindo com menos de 10% do valor de calorias diárias em uma dieta de 2.000 calorias, enquanto fornece uma excelente fonte (mais de 20% do valor diário) de proteínas, zinco, vitamina B12, selênio e fósforo e é uma boa fonte (mais de 10% do valor diário) de colina, niacina, vitamina B6, ferro e riboflavina (17). Em um ranking de fontes de nutrientes na dieta, a carne bovina é considerada como uma fonte número um de proteínas, vitamina B12, zinco e gorduras monoinsaturadas; fonte número dois de selênio; fonte número três de ferro (atrás de cereais fortificados e pães); vitamina B6, niacina e fósforo; e a fonte número quatro de potássio e riboflavina (18). Além disso, o perfil de gordura da carne bovina magra é comparável ao da carne de frango sem pele. Os lipídios da carne bovina englobam uma série de ácidos graxos e, apesar de as gorduras animais serem frequentemente consideradas sinônimo de gorduras saturadas, menos da metade de todos os ácidos graxos da carne bovina é saturado (17). De fato, a carne bovina contém tipicamente uma maior proporção de gordura monoinsaturada do que de gordura saturada.

A carne bovina é uma importante fonte de ácido linoléico conjugado (CLA). Modelos experimentais animais e estudos in vitro têm apoiado um efeito anti-carcinogênico de CLA em uma variedade de locais anatômicos, como cólon, próstata e glândula mamária (19,20). Em estudos experimentais animais, o CLA tem mostrado inibir o início, a progressão e a metástase de cânceres quimicamente induzidos (19,20). Entretanto, dados sobre o CLA e o câncer em estudos humanos são limitados e pesquisas adicionais são necessárias para entender totalmente os potenciais efeitos anti-carcinogênicos desse ácido graxo. Pesquisas emergentes continuam fornecendo mais suporte para a posição da carne bovina em uma dieta balanceada e saudável.

Gráfico 1. Perfil nutricional da carne bovina


U.S. Department of Agriculture, Agricultural Research Service 2009, USDA Nutrient Database for Standard Reference, Release 22. Homepage www.nal.usda.gov/fnic/foodcomp.
Guidance for Industry, A Food Labeling Guide, U.S. Department of Health and Human Services, Food and Drug Administration, Center for Food Safety and Applied Nutrition, April 2008.
* Dietary Reference Intakes, Institute of Medicine of the National Academies Press, Washington, DC, 2006. (Maior ingestão adequada para colina (550 mg) (550mg).

Assim como a carne bovina, a carne suína também é densa em nutrientes e pode ter um papel importante para ajudar a se obter as recomendações do Guia Dietético para Americanos. De fato, uma porção de 85 gramas de carne suína assada e sem gordura contribui com menos de 10% das calorias de uma dieta de 2.000 calorias, apesar de ser uma excelente fonte de selênio, proteína, tiamina, niacina, vitamina B6 e fósforo e uma boa fonte de riboflavina, zinco, potássio e colina (21).

Apesar de a carne bovina e suína, como fontes específicas de alimentos, fornecerem vários nutrientes para a ingestão dietética individual, as pessoas não consomem os alimentos isoladamente ou apenas nutrientes específicos; ao invés disso, a dieta humana compreende uma ampla variedade de alimentos e padrões de alimentos que as pessoas tipicamente consomem em uma base diária. Dessa forma, uma análise dos padrões de ingestão dietética tem surgido como método complementar para avaliar a relação da dieta total e os resultados para a saúde. As análises do padrão da dieta avaliam o amplo espectro dos hábitos dietéticos entre os indivíduos e os cientistas podem estimar o risco de certas doenças baseados na adesão a um padrão particular de dieta. Alguns argumentam que os padrões dietéticos podem ser mais relevantes para o entendimento da relação entre dieta e doenças crônicas, como câncer cólon-retal, porque eles oferecem uma representação mais ampla da dieta do que nutrientes ou alimentos individuais. Vários estudos avaliaram padrões dietéticos caracterizados por uma maior ingestão de carnes vermelhas e processadas e a ocorrência de câncer e, embora coletivamente as associações tenham sido inconsistentes, a maioria dos estudos observou maiores riscos de câncer.

Apesar do valor nutricional da carne bovina e suína, o consumo de carnes é tipicamente classificado como um padrão dietético “ocidental”, caracterizada, em grande parte, pela ingestão de açúcares refinados, bebidas com açúcar e produtos lácteos com alto teor de gordura. Além disso, pessoas classificadas nessa categoria de dieta, geralmente, são mais sedentárias, têm maior índice de massa corpórea, consomem maiores quantidades de álcool e são mais propensas a fumar. Em comparação, um padrão de dieta “prudente” é caracterizado por maiores ingestões de frutas, vegetais, legumes, peixes e grãos integrais.

A interpretação de estudos de padrões dietéticos é limitada por uma falta de especificidade, porque “carne” não é analiticamente isolada, sendo, ao invés disso, incluída em uma dieta com vários fatores (e associada com vários fatores possíveis que podem confundir) que podem ser um indicativo de vários estilos de vida não saudáveis.

Referências bibliográficas

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16. World Health Organization (WHO). Global Strategy on Diet, Physical Activity and Health. 2004. http://www.who.int/dietphysicalactivity/strategy/eb11344/strategy_english_web.pdf. Accessed: 09/07/2009.

17. U.S. Department of Agriculture (USDA), Agricultural Research Service (ARS);2009. http://www.ars.usda.gov/Services/docs.htm?docid=8964.Accessed: 10/15/2009.

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19. Wahle KW, Heys SD, Rotonda D. Conjugated linoleic acids: are they beneficial or detrimental to health? Prog Lipid Res 2004;43(6):553-87.

20. Bhattacharya A, Banu J, Rahman M, et al. Biological effects of conjugated linoleic acid in health and disease. J Nutr Biochem 2006;17:789-810.

21. USDA Nutrient Database for Standard Reference, Release 22.

0 Comments

  1. Alexandre Pinto disse:

    Excelente, Juliana esse artigo!

    Parabéns pelas informações,

    Sds,

    Alexandre