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Divisão de poder dificulta união entre Marfrig e Bertin

O cenário melhorou para as empresas do setor de carne no primeiro trimestre - em parte porque ganharam espaço de concorrentes que deixaram o mercado por causa da crise, e também devido à queda do dólar ante o real, o que significa menor pressão sobre as dívidas das empresas. Mas o cenário mais favorável gerou entraves que envolvem a divisão de poder entre as duas famílias controladoras das empresas numa eventual nova companhia. Como seria a participação no conselho de administração, por exemplo, é uma das discussões pendentes.

Desde que perdeu o bonde das aberturas de capital, há dois anos, a Bertin S.A ficou na berlinda. Não lançou ações na bolsa, mas ganhou um sócio de peso – a BNDESPar – no primeiro semestre de 2008 e fez uma aquisição estratégica de um ativo cobiçado, o laticínio Vigor, em outubro de 2007. Contratou um executivo profissional como presidente – ainda com a intenção de ir ao mercado no ano passado, o que não vingou com a seca de crédito por causa da crise financeira. Sem IPO, o presidente João Nogueira Batista foi embora depois de curtos seis meses e a família Bertin, há 32 anos no negócio da carne, retomou a direção em meio à turbulência global.

A percepção foi de que num momento de crise – que fez a Bertin fechar 2008 com prejuízo de R$ 681 milhões – o negócio deveria ser tocado pela família. As dificuldades, também reflexo da escassez de gado bovino no mercado, levaram a Bertin a conversar com a concorrente Marfrig, considerando uma possível união. Ambas têm endividamento elevado, por causa da alta do dólar, decorrente da crise, e de aquisições. Na operação estudada em busca de musculatura num momento de incertezas na economia, a Bertin seria incorporada pela Marfrig, com as bençãos do BNDES.

A Bertin nega negociações, e a Marfrig, em comunicados dúbios, diz existirem “tratativas entre a Marfrig e a Bertin S.A., mas que não existe, nesta data, qualquer acordo vinculante ou não vinculante firmado pelas partes em relação a tais tratativas”. Fernando Falco, diretor de lácteos da Bertin, encarregado pela empresa para falar do tema, diz que não há negociação. “O primeiro trimestre foi positivo, a empresa não está em dificuldades”, afirma.

De fato, o quadro melhorou para as empresas do setor de carne no primeiro trimestre – em parte porque ganharam espaço de concorrentes que deixaram o mercado por causa da crise. A partir do segundo trimestre, cujos números ainda não são conhecidos, há uma melhora no cenário também ligada à queda do dólar ante o real. Esse recuo significa menor pressão sobre as dívidas das empresas.

Os números disponíveis mostram que no caso da Marfrig o endividamento líquido era de R$ 3,466 bilhões no dia 31 de março de 2009 e a alavancagem anualizada (dívida líquida/EBITDA) de 3,77 vezes. Da dívida total, de R$ 4,591 bilhões, R$ 3,842 bilhões eram em moeda estrangeira no fim do primeiro trimestre.

No caso da Bertin S.A, a empresa não abre a situação das dívidas no primeiro trimestre. Em 2008, a bruta ficou em R$ 5,5 bilhões e a líquida em R$ 3,152 bilhões. Com isso, a alavancagem foi de 4,5 vezes. Analistas de mercado consideram normal uma alavancagem entre 2 e 2,5 vezes. Do total de dívidas da Bertin, US$ 1,4 bilhão eram em moeda estrangeira no fim do ano passado, o equivalente R$ 3,3 bilhões. No câmbio de hoje, cai para R$ 2,7 bilhões, segundo a empresa.

Foi exatamente a melhora de cenário, reflexo da queda do dólar, que reduziu o ritmo das conversas entre Marfrig e Bertin, apurou o Valor. É que num quadro mais favorável, a incorporação da empresa pelo concorrente se tornou mais cara, segundo analistas. Mas, antes disso, há entraves que envolvem a divisão de poder entre as duas famílias controladoras das empresas numa eventual nova companhia. Como seria a participação no conselho de administração, por exemplo, é uma das discussões pendentes. Num primeiro desenho, a Bertin, que tem 26,9% de participação do BNDESPar, seria incorporada pela Marfrig, na qual o banco de fomento tem 14,66%.

Além do mercado difícil em 2008, a Bertin S.A (que engloba carne, lácteos, couro, pet e higiene e limpeza) também teria sido prejudicada por outros negócios do grupo Bertin, como os de infraestrutura (energia, pedágios e saneamento), avaliam fontes do mercado. Fernando Falco nega a possibilidade e diz que não há transferência de recursos da Bertin S.A, que tem como sócio o BNDESpar, para outras empresas do grupo.

A matéria é de Alda do Amaral Rocha, publicada no jornal Valor Econômico, adaptada e resumida pela Equipe BeefPoint.

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