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Efeito da condição corporal sobre momento da concepção e taxa de prenhez

Luiz F. M. Pfeifer1, Antônio Sérgio Varela2, José Acélio Fontoura Júnior3 e Marcio Nunes Corrêa4

Introdução

Em um sistema de produção de vacas de corte, o objetivo principal é o desmame de um terneiro/vaca/ano (Dziuk e Bellows, 1983; Holmes, 1989; Gottschall, 1996). Para tanto, eliminar desperdícios; reduzir custos e ociosidades; otimizar benefícios e tempo de execução de tarefas constituem os pré-requisitos para cumprir os fundamentos de um sistema de produção que queira competir no ambiente globalizado (Fries,1999).

Neste âmbito o uso de técnicas de produção bem como de tecnologias é imprescindível para que os produtores se mantenham num mercado competitivo. Para tanto àquelas técnicas que possuem um impacto importante na produção, e com adequada relação custo-benefício, se tornam as mais interessantes para os produtores de bovinos de corte, em especial em situações de baixa rentabilidade principalmente se considerarmos os custos fixos como depreciação da terra, máquinas, equipamentos, casa, alambrados, e demais benfeitorias.

A despeito da necessidade de um entendimento mais amplo das possibilidades de inclusão de novas alternativas produtivas nos sistemas, uma ferramenta do manejo reprodutivo de suma importância dentro de um sistema de produção sustentável, e que depende somente da capacidade de avaliação individual é a avaliação da condição corporal (CC) das matrizes. A CC é uma ferramenta útil para predizer o desempenho reprodutivo, tanto na manifestação de cio no pós-parto, quanto na taxa de prenhez no final da temporada reprodutiva (Moraes, 2002) e consiste em um sistema subjetivo que avalia a quantidade de reservas corporais que os bovinos acumulam sob forma de gordura (Jaume, 2002).

Obviamente animais que entram em uma estação reprodutiva com melhores CC são àquelas que irão conceber antes e que possuem mais chances de repetição de cria no ano seguinte, pois irão parir em melhores condições e terão um período de puerpério mais adequado antes da próxima estação reprodutiva (ER). Quando a aferição da CC é realizada no início da ER, em vacas com 60 – 75 dias pós-parto, indica que vacas com CC 2, CC 3, e CC 4, respectivamente manifestam 9 %, 60 % e 80 % de cios, e que apenas 27 %, 50 % e 78 % ficam prenhes após o período de serviço de 90 dias, como demonstrado nos trabalhos de Jaume e Moraes (2001 e 2002).

O presente trabalho visa avaliar se há influência da CC, quando aferida somente no diagnóstico de gestação, sobre a taxa de prenhez e o estágio da concepção na estação reprodutiva de vacas de corte, nas diferentes categorias-animal em diferentes situações fisiológicas e, portanto, requerimentos nutricionais diferentes.

Material e métodos

O experimento foi realizado na fazenda Conquista no município de São Vicente do Sul, na região fisiográfica da Depressão Central do Rio Grande do Sul. Foram utilizadas para este trabalho 435 fêmeas, sendo vacas solteiras, vacas com cria ao pé e novilhas. Os animais eram todos mestiços (Bos Taurus x Bos Indicus), predominando a raça Aberdeen Angus.

Os animais foram submetidos a uma ER de 84 dias, permitindo que cada animal expressasse 4 ciclos estrais dentro do período de acasalamento. As novilhas e vacas solteiras foram inseminadas artificialmente (IA) durante 2 ciclos estrais sendo, posteriormente, entouradas por mais 2 ciclos. As vacas com cria ao pé foram entouradas durante todo o período, não tendo sido submetidas à IA.

O rebanho era composto por 85 novilhas, 151 vacas solteiras e 199 vacas com cria ao pé. Todos animais estavam em regime de pastejo contínuo em pastagem nativa com suplementação mineral. Para a realização deste experimento foram registrados a CC e estágio de prenhez (1º ou 2º terço de gestação) no momento do diagnóstico de gestação, sendo este realizado 60 dias após o fim da ER, de tal forma que as matrizes que apresentavam-se no segundo terço de gestação, conceberam nos primeiros 54 dias de ER e àquelas que apresentavam-se no primeiro terço de gestação estavam com 60 a 90 dias de concepção, de acordo com o esquema abaixo.


Esquema 1: Estágio de gestação de acordo com os dias transcorridos de ER.

A avaliação do estágio de gestação foi realizada através de palpação retal, de acordo com o tamanho do útero e concepto (Pimentel, 2002). As variáveis foram avaliadas através do teste do qui-quadrado no programa estatístico Statistix.

Resultados e discussão

As novilhas apresentaram uma CC média de 3,68 +- 0,33, sendo que todas apresentavam CC acima de 3 e máximo de 4,5. A taxa de prenhez nesta categoria foi de 81,2 % (69/85). Do total de novilhas, 32.9 % dos animais apresentavam-se no primeiro terço de gestação, 48,2 % se encontravam no segundo terço e apenas 16 % se apresentavam vazias (tabela 1).

As altas taxas de gestação nesta categoria foram também observadas por O´Mary (1978) que trabalhou com novilhas com adequada CC e peso acima de 318 Kg atingindo taxas de prenhez de 84 % com apenas 40 dias de ER. As novilhas utilizadas estavam com média de idade de 24 meses e tinham suas necessidades alimentares supridas com adequada oferta de forragem de boa qualidade no período de entoure até o diagnóstico de gestação.

Nas vacas solteiras a média de CC foi de 3,70 +- 0,35, sendo que nenhum animal estava com CC menor que 3 e no máximo de 4,5. A taxa de prenhez foi de 93,4 % (141/151), visto que, estes animais apresentavam requerimento nutricional menor, devido ao fato de serem animais que não haviam concebido na ER anterior. A distribuição do estágio de gestação nesta categoria foi de 37,7 % no primeiro terço de gestação, 55,6 % no segundo terço e apenas 6,6 % apresentavam-se vazias (tabela 1).

As vacas com cria ao pé, que é a categoria de maior exigência alimentar e principal responsável pelos baixos índices reprodutivos no Rio Grande do Sul, encontravam-se com CC média de 3,1 ± 0,64, sendo que a CC mínima foi de 2 e a máxima foi de 4,5. A taxa de prenhez nesta categoria foi de 53,4 % (110/206). Das vacas que estavam prenhas, 30,6 % estavam no primeiro terço de gestação, enquanto que 22,8% estavam no segundo terço e 46,6 % apresentavam-se vazias (tabela 1). De acordo com a média de CC encontrada nesta categoria a taxa de prenhez condiz com os resultados encontrados por Jaume (2002), onde foram registradas taxas de 50 a 75% de prenhez com vacas de CC 3, no período pós-parto. Lobato et al. (1998) demonstraram que vacas primíparas com peso ao redor de 400 Kg e CC entre 3,5 e 4 no entoure alcançaram índices reprodutivos acima de 80%.

Tabela 1: Condição corporal, taxa de prenhez e estágio da prenhez no momento do diagnóstico de gestação de acordo com a categoria:


O presente trabalho também avaliou os índices reprodutivos desconsiderando as distintas categorias, a taxa de prenhez nos animais com CC igual e/ou acima de 3 foi de 81,8% (304/373), sendo que a taxa de prenhez nos animais com CC menor que 3 foi de 17,7% (11/62) (p<0,001), este resultado está de acordo com resultados obtidos por Corah (1991) que registrou um percentual de prenhez em fêmeas com CC acima de 3 de 92 %. A taxa de prenhez do total de fêmeas prenhes que encontram-se no primeiro terço de gestação, com CC menor que 3 foi de 90,9 % (10/11), enquanto que apenas 9,1% (1/11) para fêmeas no segundo terço de gestação (p<0,01). Para as fêmeas com CC maior e/ou igual a 3, 44,4 % (135/304) encontram-se no primeiro terço de gestação, enquanto que 55,6 % (169/304) encontravam-se no segundo terço de gestação no momento do diagnóstico degestação (tabela 2). Tabela 2: Taxa de prenhez e estágio de gestação de acordo com a condição corporal no momento do diagnóstico de gestação.

A, B: Valores com letras maiúsculas diferentes, na mesma coluna, diferem entre si (p < 0,001). a, b: Valores com letras minúsculas diferentes, na mesma linha, diferem entre si (p < 0,01). Considerando apenas a categoria de maior exigência alimentar, vacas com cria ao pé, a taxa de prenhez nas vacas com CC menor que 3 foi de 17,7% (11/62), enquanto que para as vacas com CC maior e/ou igual a 3 foi de 68,6 % (94/137) (p<0,001). Considerando apenas as vacas gestando com cria ao pé, as fêmeas que apresentavam CC menor que 3 e estavam no primeiro terço de gestação, a taxa de prenhez foi de 90,9 % (10/11) e de 9,1 % (1/11) no segundo terço de gestação (p<0,01), sendo que para as vacas com CC maior e/ou igual a 3 e que estavam no primeiro terço de gestação a taxa de prenhez foi de 53,2% (50/94), enquanto que foi de 46,8 % (44/94), para aquelas que se encontravam no segundo terço de gestação (tabela 3). Tabela 3: Taxa de prenhez e estágio de gestação de acordo com a condição Corporal no momento do diagnóstico de gestação nas vacas com cria ao pé.

A, B: Valores diferentes na mesma coluna diferem entre si (p < 0,001). a, b: Valores diferentes na mesma linha diferem entre si (p < 0,01). Esses dados mostram que vacas com CC abaixo de 3 apresentam uma performance reprodutiva indesejável, no que se refere à taxa de prenhez, momento da concepção e intervalo parto-concepção e são as principais responsáveis pela formação das "colas de parição". Vizcarra (1989), trabalhando com vacas Hereford, mostra que vacas com CC abaixo de 3,5 (1 - 8) chegam ao final da ER com taxa de prenhez de 49,1 %, enquanto que vacas com CC maior que 5 (1 -8), atingem 95 % de prenhez. É imprescindível que um número elevado de animais estejam no segundo terço de gestação no momento do diagnóstico de prenhez para que se atinja a meta de produção de 1 terneiro/vaca/ano, pois levando em consideração uma gestação de 282 dias, e o ano sendo de 365 dias, a fêmea terá apenas 84 dias para conceber novamente após o parto (Burris e Priode, 1958; Lesmeister et al., 1973). O momento do parto dentro da temporada de parição e a CC constituem parâmetros de fundamental importância na taxa de gestação. A medida que as vacas vão parindo mais tarde dentro de uma estação de parição, a taxa de gestação decresce (Jaume, 2002). A avaliação da CC se mostra mais uma ferramenta que o Médico veterinário pode utilizar para avaliar a condição reprodutiva do rebanho no momento do diagnóstico de gestação. Estes resultados evidenciam a influência da CC sobre a taxa de prenhez nas diferentes categorias e sobre o momento da concepção nas vacas com cria ao pé em um sistema de produção de bovinos de corte e demonstram que a aferição da CC no momento do diagnóstico de gestação pode servir como parâmetro para avaliação do estado reprodutivo geral do rebanho de cria e que estima o número de vacas em distinta exigência nutricional, de acordo com o estágio de gestação em que o animal se encontra. Referências bibliográficas

CORAH, L.R. Nutrition, reproduction and efficiency in cow/ Florida. Proceedings. Florida, Institute of Food and Agricultural Sciences, University of Florida. p. 62 – 73. 1991.

DZIUK, P.J.; BELLOWS, R. A. Management of reproduction of beef cattle, sheep and pigs. Journal of Animal Science, Champaing, v. 57, Suppl. 2, p. 355 – 379. 1983.

FRIES, L. A.; ALBUQUERQUE, L.G. Prenhez aos catorze meses: Presente e futuro. Elementos do componente genético. Anais dos simpósios e workshops da XXXVI Reunião anual da Sociedade Brasileira de Zootecnia. P. 227-239. Porto Alegre, RS.

GOTTSCHALL, C, S. Alternativas para melhoria da eficiência reprodutiva em vacas de corte. A Hora Veterinária, Porto Alegre, v. 89, p. 10 – 18. 1996.

HOLMES, P. R. The opportunity of a life time. Reproductive efficiency in the beef herd. New Jersey, MSDAGVET. 34 p. 1989.

JAUME, C. M., MORAES, J. C. F. Importância da condição corporal na eficiência reprodutiva do rebanho de cria. Documentos 43, EMBRAPA-cppsul,2002.

LOBATO, J.F.P.; DERSZ, F., LEBOUTE, E.M., PEREIRA NETO, O.A. Pastagens melhoradas e suplementação alimentar no comportamento no comportamento reprodutivo de vacas primíparas. Ver. Bras. Zootec. 27(5), 47-53. 1998.

MORAES, J. C. F. Controle da reprodução em gado de corte. Anais do primeiro simpósio de reprodução bovina. Porto Alegre, RS. EMBRAPA, Pecuária Sul. CPPSul. Bagé, RS. 2002.

O´MARY, C. C.; DYER, I. A. Commercial beef cattle production. Lea & Febiger, Filadélfia, EUA, 1978.

PIMENTEL, C.A. Ginecologia Bovina. Curso de Ginecologia Bovina. Tapes/RS, p. 35, 11-15 de março de 2002.

VIZCARRA, J. Algunas estratégias para el manejo del rodeo de cría. Jornada de suplementación de pasturas en sistemas intensivos. La Estanzuela, Uruguay, 1989.

________________________
1Médico Veterinário, M.C., Doutorando em Zootecnia
2Médico Veterinário, M.C.
3Zootecnista, M.C., Doutorando em Zootecnia
4Médico Veterinário, M.C., Dr., Professor Adjunto

Universidade Federal de Pelotas
Faculdade de Veterinária – Departamento de Clínicas Veterinária

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