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Eficiência na observação de cios: 1ª Parte

Por Dr. Carlos Antônio de Carvalho Fernandes 1

Pode parecer no mínimo ultrapassado um artigo sobre observação de cios, em plena época da “Inseminação Artificial em Tempo Fixo” (IATF), mas efetivamente não é. Em artigos anteriores e como comprovado por uma série de técnicos e pecuaristas, a IATF não elimina totalmente a necessidade de observação de cios. Dispensa este tipo de procedimento apenas após os protocolos. São técnicas complementares.

Para o leitor se situar, gostaria de repetir apenas um parágrafo de um artigo anterior:

Não há dúvidas que a IATF pode auxiliar na melhoria da performance reprodutiva em determinadas situações, mas a exclusão total da observação de estro envolve uma análise mais abrangente do manejo. Consideremos uma situação hipotética para melhor esclarecer este ponto de vista. Numa propriedade separamos 50 vacas para IATF. A partir do início do protocolo, em cerca de 10 dias todos estes animais estariam inseminados. Pois bem, considerando uma taxa de gestação de cerca de 50% (muito boa para os protocolos IATF), teremos 25 fêmeas gestantes. A pergunta é: Quando vamos re-inseminar as outras 25 que não ficaram gestantes? Se considerarmos que a IATF exclui a necessidade de observação de cios, estas fêmeas que não ficaram gestantes somente serão re-inseminadas após o diagnóstico de gestação (embora provavelmente estejam manifestando cios), que na maioria dos esquemas de manejo ocorre 50 dias após a inseminação. Somando a isto os 10 dias do protocolo, somente poderemos re-utilizar as vacas que não ficaram gestantes 60 dias mais tarde. Será que utilizando exclusivamente a IATF realmente se aumentará a eficiência reprodutiva? Não!!!

As propriedades bem manejadas que utilizam a IATF, principalmente num grupo razoável de animais, inclusive intensificam a observação de cios na data provável do retorno dos animais inseminados, ou seja, 18 a 24 dias após a inseminação. Além disto, será que deveríamos simplesmente ignorar os cios que são manifestados pelas fêmeas num período anterior ao determinado para se iniciar a IATF ou após este procedimento, como visto acima. Por exemplo, se definimos que numa determinada propriedade vamos iniciar a os protocolos de IATF aos 60 dias pós-parto, será que vamos ignorar todos os cios que as fêmeas apresentarem antes deste período? Estes dois exemplos mostram a necessidade de se continuar buscando eficiência na detecção de cios.

Obviamente, como as fêmeas bovinas não escolhem dia específico da semana para entrarem em cio, a tarefa de observação dos mesmos deveria ser constante. Não tem sábado, domingo ou feriado.

Observação de cios funciona bem quando é uma rotina incorporada ao manejo do rebanho. Além disto é imprescindível que exista alguém com responsabilidade de executar a mesma e com tempo adequado para esta função. Apenas “brinca” de observar cios uma propriedade onde não existe uma pessoa treinada e responsável para esta atividade, e que se empregue o devido tempo necessário em cada lote de fêmeas. Na maioria das propriedades existe uma pessoa para qual se determina esta atividade, porém com apenas um pouco de conversa já se entende que não é, nem de longe, a sua função prioritária. A determinação e o tempo dispensado depende das outras atividades, que na maioria das vezes não são poucas. O funcionário gasta com observação de cios o tempo que lhe sobra das outras atividades. Nos locais onde a atividade funciona desta forma temos que admitir a incompetência e aceitar valores de taxa de observação de cios, publicadas em várias fontes, entre 25 e 40%.

Uma das atividades de melhor relação-custo benefício na pecuária, tanto de leite como de corte, onde se utiliza a inseminação artificial ou transferência de embriões, sem dúvida é o investimento para aumentar a eficiência de observação de cios. Alguns fatores são importantes neste contexto:

– Determinar esta tarefa como responsabilidade de pelo menos um funcionário da propriedade (nas folgas deste o serviço deve ser feito por outro).

– Explicar a este funcionário, e também aos demais, a importância desta atividade no manejo da propriedade.

– Admitir que é uma tarefa prioritária no manejo, determinado o período necessário de tempo para que esta seja executada diariamente.

– Ajustar o manejo e distribuição dos animais visando facilitar esta atividade (agrupar no menor número de lotes possível as fêmeas a serem observadas).

– Identificar corretamente os animais para se evitar erros de escrituração.

– Confeccionar, se o sistema de manejo permitir, rufiões para auxiliar na tarefa de identificação das fêmeas em cio.

– Manter um sistema de escrituração confiável para se mensurar periodicamente os resultados.

É imprescindível que o observador seja consciente de sua responsabilidade e passe o tempo necessário desempenhando a mesma


Um exemplo do que se pode conseguir quando existe empenho no sentido de conseguir o máximo de eficiência é descrito a seguir. Em uma propriedade onde prestamos consultoria, treinamos uma pessoa para esta atividade e implementamos todos os fatores para maximizar a eficiência da observação de cios. Apenas um funcionário com esta atribuição específica, cuidando em média de 350 fêmeas, em regime de pasto, divididas em 3 ou quatro lotes. Esta pessoa foi orientada a passar pelo menos 20 minutos em cada lote, duas vezes ao dia. Foi sempre a primeira e a última atividade do mesmo em seu dia de trabalho. Em média era gasto cerca de 90 minutos pela manhã e pela tarde. Entre os períodos de observação o funcionário tinha outras atribuições.
Nesta propriedade fizemos dois experimentos:

Experimento 1: Eficiência na detecção de cio natural (não induzido)

Foram separadas em um piquete um lote de 178 fêmeas bovinas não gestantes, com histórico de um cio anterior, e avaliadas no início dos trabalhos por palpação retal e ultra-sonografia para determinação da ausência de qualquer patologia. Todos estes animais foram mantidos pelo período de 25 dias sob observação de cio diária, iniciando as 7:00 e 16:30h, conforme descrito acima. Junto destas fêmeas foram colocados três rufiões. O reflexo de imobilidade (aceitação de monta) foi o critério utilizado para se determinar o animal em cio.

De todos os animais constatados em estro foi colhida uma amostra de sangue no dia do estro e 7 dias mais tarde. Posteriormente estas amostras de sangue foram avaliadas para se determinar as concentrações de estradiol e progesterona, e serviram para indicar se o animal realmente estava em cio e se ovulou. Para os animais que no prazo de 25 dias apresentaram mais de um cio, foi considerado apenas 1.

Tabela 1. Resultados referentes a observação de cios (sem indução)


A eficiência na detecção ou observação de cios foi determinada dividindo-se o número de fêmeas observadas em cio pelo total de animais ciclando no lote. Apenas 26 fêmeas deste lote de 178 não foram observadas em cio pelo menos uma vez neste período de 25 dias.

Uma fêmea de todas as que exibiram cio não apresentou, no dia da manifestação, perfil hormonal compatível com esta fase do ciclo estral. Este problema, chamado tecnicamente de “falso positivo”, ou seja, o animal não estar em cio e ser anotado ou observado como se estivesse nesta fase foi de apenas 0,6%. A literatura cita esta possibilidade, decorrente de elevações de estradiol relacionado às ondas de desenvolvimento folicular, problemas de comportamento particular de alguns animais (aceitam monta mesmo fora do cio) e falhas na detecção.

No próximo artigo mostraremos os resultados de observação de cios, neste mesmo manejo, quando se utiliza sincronização. Neste caso vários animais vão manifestar cio num mesmo dia, o que em algumas situações pode ser complicado quando o manejo não é adequado.

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1 Med. Vet. D.S. e Diretor Técnico da Biotran

0 Comments

  1. Cézar von Zuben disse:

    Muito bom artigo.

    Acredito que a IATF é uma grande ferramenta de trabalho mas isto não exclui uma correta observação de cios. Em fazendas com bom manejo de inseminação e equipe treinada tenho conseguido altas taxas de detecção de cios (85% de detecção).

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