São boas as perspectivas para o agronegócio brasileiro este ano e ao longo da próxima safra, a 2004/05, mas inegavelmente o desafio de manter o ritmo de crescimento observado principalmente depois da desvalorização do real, em 1999, começa a se mostrar mais difícil.
No próprio governo já há sinais de que a tarefa não será simples. Para o PIB do setor, por exemplo, o ministro da Agricultura, Roberto Rodrigues, considera “crível” um aumento de 5% este ano, ante os 6,54% registrados pela Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) em 2003, quando o produto interno bruto do agronegócio somou R$ 508,3 bilhões.
Outra preocupação, já pensando na safra 2004/05, é garantir a ampliação de recursos destinados a crédito rural. Segundo Ivan Wedekin, secretário de Política Agrícola do Ministério da Agricultura, o montante vai superar R$ 35 bilhões, ante R$ 32,5 bilhões em 2003/04. Mas ele admite que o aumento deveria ser de R$ 10 bilhões.
Para aumentar a captação de verbas, o governo lançará, junto com o plano de safra 2004/05, o Certificado de Recebível do Agronegócio (CRA), papel emitido por bancos de investimento e empresas privadas do setor que funcionará como lastro dos fundos de investimento no agronegócio. O governo também autorizará este mês o aumento da captação de recursos da poupança para crédito rural e a abertura de contratos privados de opção.
Se o plano dará certo, ainda é difícil dizer, mas a boa notícia, mais uma vez, deve vir das exportações, que, segundo Luiz Fernando Furlan, ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, poderão crescer 32,7% em 2004 e superar US$ 40 bilhões. Em 2003, o aumento sobre 2002 foi de 23,3%. Mas esse novo salto vigoroso depende em grande parte da soja, que para alguns especialistas corre o risco de perder rentabilidade com o aumento dos custos de produção.
Outras nuvens no horizonte são os problemas climáticos que afetaram a produção de grãos em algumas regiões do País e a fase de preços externos deprimidos de alguns produtos importantes para a balança do campo, como açúcar e suco de laranja. Mesmo as carnes, que ganharam impulso com as recentes crises sanitárias na Ásia e na América do Norte, enfrentam travas na Rússia, um dos principais mercados para o Brasil. Ainda assim, Furlan espera aumento de US$ 1 bilhão este ano nas exportações de carnes este ano. Mas o ministro concorda que o crescimento do setor dependerá da redução de barreiras sanitárias e abertura de novos mercados.
No primeiro trimestre, os embarques do agronegócio atingiram US$ 6,5 bilhões, ante os US$ 4,7 bilhões registrados no mesmo período de 2003. “Houve uma alta de 38%, acima da média de exportações no período, de 20%”, destacou Furlan.
Os produtos do agronegócio que mais cresceram foram a soja (84%), carne bovina (54,7%), farelo de soja (51,4%), carne de frango (43,6%) e açúcar (36%). Ele ressalta que as importações do agronegócio no trimestre recuaram 7,6%.
Segundo Furlan, muitos dos desafio que se colocam agora decorrem de excelentes performances passadas, quando clima, câmbio e preços no externos favoreceram as exportações brasileiras. “Estamos no ciclo positivo do agronegócio e este é o momento de investir recursos na tecnologia para reduzir custos e tornar a produção mais competitiva nos períodos de baixa”, afirmou o ministro. Para incentivar as novas tecnologias, o ministério encaminhará ao Congresso um novo texto para a Lei de Inovação que, entre outras mudanças, determina que parte dos recursos dos fundos setoriais sejam destinados à pesquisas com aplicação no setor do agronegócio.
Fonte: Valor Econômico (Cibelle Bouças), adaptado por equipe BeefPoint