Por Otávio Celidonio, do Instituto Mato-grossense de Economia Agropecuária (Imea).
Quando comecei a trabalhar no Imea, há quase 7 anos, alguns analistas diziam que o ciclo da pecuária não existia mais. Contando um pouco com a sorte – por estar em um estado com boas estatísticas de rebanho referentes às campanhas de vacinação – e muito trabalho foi possível mostrar que o ciclo nunca deixou de existir.
O ciclo da pecuária dificilmente deixará de existir por uma razão: em um mercado de livre concorrência a biologia dos bovinos impede o equilíbrio permanente da oferta e demanda.
Complicado? Nem tanto…
O fato é que na média cada vaca tem menos de um bezerro por ano e cada animal colocado no chão demorará pelo menos mais dois anos para ir ao abate. Por isso, qualquer decisão tomada hoje demora um bom tempo para causar efeito sobre o mercado.
Ou seja, quando o mercado está pagando bem pela arroba do boi gordo a procura por bezerros também aumenta assim como seu preço. Isto incentiva a retenção de fêmeas e investimentos em reprodução e, consequentemente, aumenta a produção de bezerros.
Porém, o mercado só vai saber se produzimos bezerros suficientes para atender a demanda quando estes forem para o abate, daqui a dois ou três anos. Assim, se o olho do produtor foi maior que a barriga, após esses dois ou 3 anos, o preço da arroba cairá e, logo, o preço do bezerro também cairá desincentivando toda a cadeia da reprodução que, em última análise, leva ao descarte de matrizes e redução da produção de bezerros.
É assim que acontece.
Por isso, uma boa maneira de entender as perspectivas do mercado é projetando o estoque do rebanho de machos no futuro. Este não é um exercício tão complicado. Basta olhar os números de bezerros nascidos no ano (faixa de 0 a 12 meses) e projeta-los para o ano seguinte excluindo as mortes naturais e os abates. Assim teremos o estoque futuro dos garrotes (faixa de 12 a 24 meses). O mesmo pode ser feito para projetar os animais mais velhos.
Já projetamos estes indicadores há alguns anos no Imea e felizmente (ou não) temos tido erros menores que de algumas pesquisas eleitorais. Para 2014 por exemplo, nossas estimativas apontavam uma queda de 5% do rebanho de animais com mais de 24 meses e esta redução do estoque acabou se confirmando também no abate, já que tivemos em Mato Grosso uma queda de mais de 8% em relação a 2013.
No início de 2015, esperamos ter estoque da campanha de vacinação de 2014, mas enquanto isso, ainda com os dados de 2013 foi possível projetar os estoques para 2015 e 2016. Para 2015 os números confirmam o cenário positivo sentido pelo produtor no momento. As estimativas apontam que o estoque de machos deve ser ainda menor, caindo mais 6% e chegando no menor patamar da série histórica do Imea.
Porém, para 2016 esperamos uma forte recuperação dos estoques, consequência do aumento da produção de bezerros em 2013, e o nosso estoque de bovinos machos prontos para o abate pode superar os 4,3 milhões de cabeças e atingir o maior valor desde 2009.
Portanto, a pergunta óbvia seria: Então vamos ter um ano com bons preços em 2015 e 2016 pode ser um ano ruim?
Bom para a nossa sorte (ou azar) esta resposta não é tão simples assim.
A armadilha de se olhar o ciclo apenas pelo estoque de gado é que este só mede a ponta da oferta. Mas o ciclo depende também do comportamento da demanda dos nossos consumidores. Se o consumo de carne aumentar o preço deve subir e, logo, o ciclo de alta pode ser prolongado ou um de baixa revertido.
Talvez não pareça óbvio, mas pensando na situação oposta basta lembrar que, mesmo com uma oferta menor, os preços de 2015 podem cair caso uma enfermidade assole o nosso rebanho, fato que diminuiria drasticamente a demanda pela nossa carne.
Por isso, se a demanda permanecer estável, a resposta é sim. A atual fase do ciclo deve ser curta e os preços tendem a ser bons em 2015 e – pelo menos em relação à oferta mato-grossense – podem piorar já em 2016.
Mas caso os brasileiros não substituam a nossa carne por ovo e cada chinês coma um bife a mais por ano mesmo com um estoque maior podemos colher bons frutos.
Por Otávio Celidonio, do Instituto Mato-grossense de Economia Agropecuária (Imea).
1 Comment
E isto ai no Municipio de Nova Canaã do Norte Mt na ultima vacina de novembro/14 o rebanho apesar da agricultura ter avancado em areas de pastagens o rebanho aumentou em 3%, e a categoria que teve o maior aumento é a de femeas de 12/24 meses e o numero de gado adulto caiu, é o ciclo pecuario.