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Engorda de fêmeas de descarte

Por Rafael da Costa Cervieri 1

Nos últimos dois anos houve expressivo aumento no descarte e abate de fêmeas, chegando a representar cerca 45% do total de animais abatidos no Brasil. Os baixos preços de bezerros para reposição aliados ao aumento dos custos de produção desestimularam os produtores do setor de cria, que frente a este cenário, se viram obrigados a descartar matrizes, ora para se capitalizar ou mesmo para sair da atividade.

Na engorda de fêmeas é possível ser eficiente economicamente e produzir um produto final com qualidade?

A resposta depende do entendimento de alguns pontos que são relevantes no tocante à terminação de vacas e novilhas: composição do ganho e exigências nutricionais; eficiência alimentar; o custo da @ engordada e a qualidade de carne.

A eficiência de utilização dos nutrientes (energia e proteína) difere de acordo com a fase de crescimento em que o animal se encontra, devido às alterações ocorridas na composição química do ganho de peso.

No período compreendido entre o nascimento e a puberdade (b-c) observa-se maior eficiência na conversão dos alimentos em peso corporal (kg de MS/kg de ganho), reflexo do menor custo energético para deposição de tecido muscular, o qual apresenta grande desenvolvimento nesta fase. À medida que o animal se aproxima da maturidade (Figura 1, d), ponto no qual cessa a deposição de tecido muscular, começa a ocorrer maior deposição de gordura (tecido adiposo) no corpo do animal, refletindo em pior conversão alimentar e maior gasto energético para ganho de peso.

Figura 1. Curva de crescimento de bovinos.
Adaptado de OWENS et al. (1993).

Vacas de descarte se apresentam em idade madura e o ganho de peso se dá quase que exclusivamente em gordura. Assim, a intensidade do crescimento ou ganho de peso, e a eficiência alimentar diminuem. Já novilhas, por se tratarem de animais mais leves e jovens, também apresentam crescimento muscular.

Portanto para vacas, a concentração de energia das dietas deve ser mais elevada, pois o ganho de peso se dá em gordura. Para atender as exigências nutricionais e buscar maior eficiência nesta fase, devemos fornecer dietas que garantam bom aporte de energia por unidade de matéria seca, ou seja, com maior densidade energética. Fornecer alimentos com maior teor de energia (concentrados) pode atender este requisito. Para novilhas, além da energia, é necessário manter níveis protéicos adequados para atender o ganho em músculo (proteína).

Um ponto favorável à engorda de vacas de descarte é o ganho compensatório que se manifesta seja em confinamento ou pastejo. A baixa condição corporal freqüentemente observada nestes animais faz com que os ganhos de peso no período inicial de engorda sejam elevados, favorecendo a conversão alimentar e conseqüentemente reduzindo custos de produção. Não é raro observarmos ganhos de peso médios acima de 1,3 kg/dia em vacas confinadas.

Dois pontos são desfavoráveis: maior conversão alimentar (fêmeas apresentam pior conversão alimentar que machos), traduzida por ganhos de peso mais baixos para uma mesma ingestão de matéria seca; e o valor inferior pago pela arroba. Assim, o período de engorda em confinamento, por exemplo, deve ser curto (50 a 70 dias) para explorar o ganho compensatório principalmente de vacas magras e reduzir o custo da arroba engordada.

A qualidade da carcaça merece algumas considerações, devendo se observar os seguintes parâmetros:

– Os pesos de abate variam de 13 a 16@ para vacas e de 11 a 13 @ para novilhas;
– O rendimento de carcaça de fêmeas é inferior ao de machos castrados e inteiros;
– Fêmeas são precoces para deposição de gordura corporal. As suas carcaças apresentam em geral boa cobertura de gordura (mesmo quando da utilização de cruzamentos com raças de elevado peso adulto, tardias para deposição de gordura), favorecendo o manejo pós-abate e garantindo melhores atributos de qualidade da carne;
– Atenção ao peso de abate de novilhas (atualmente algumas indústrias têm aceitado animais com pesos acima de 11@), pois o peso dos cortes cárneos pode não se adequar às necessidades do frigorífico;
– A coloração da carne e gordura (mais amarelada) das vacas pode não agradar à indústria e consumidores;

Na terminação em confinamento (não levando em consideração os benefícios indiretos deste), atenção especial à duração do tempo de engorda. Períodos longos comprometem a economicidade, pois a conversão alimentar aumenta após a fase de crescimento compensatório. O interessante é que tanto novilhas e vacas ganhem 2 a 3 @ rapidamente.

Atualmente existem alguns frigoríficos com programas de incentivo para abate de novilhas em idades jovens, respeitando um peso mínimo de carcaça e tendo bom acabamento. Este pode ser um nicho de mercado interessante, pois sinaliza melhor remuneração, agregando valor aos produtos, que é o objetivo final de produtores e técnicos.

Referências bibliográficas

OWENS, F.N., DUBESKI, P., HANSON, C.F. Factors that alter growth and development of ruminants. J. Anim. Sci., v. 71, p. 3138, 1993.

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1 Rafael da Costa Cervieri é Zootecnista, Dr. Nutrição e Produção Animal e Professor da Universidade São Marcos

1 Comment

  1. Carlos Revollo disse:

    Saludos Sr. da Costa. Se puede confinar femeas junto con machos enteros en diferentes corrales? o que puedo hacer? muchas gracias desde Santa Cruz, Bolivia.

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