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Entenda como funciona o ciclo pecuário (vídeo, slides e artigo)

Confira os slides da palestra "Entenda como funciona o ciclo pecuário", apresentada por Ivan Wedekin, diretor da BM&F, no Workshop BeefPoint Pecuária de Cria.

Pecuária é uma palavra que deriva de Pecus, que quer dizer gado. Antigamente gado era moeda, uma moeda de troca entre pessoas e famílias. Também de Pecus derivou a palavra pecúnia que quer dizer dinheiro e não existe nada melhor do que essa simbologia para entendermos a maneira como devemos analisar o mercado do boi.

Podemos dizer que o mercado é nosso patrão, mas o mercado não é confiável, portanto a gente tem que fazer uma avaliação permanente das questões de mercado.

Pensando nesse tipo de análise observamos que na pecuária temos três fenômenos de preço: a sazonalidade (com a produção dependendo das variações climáticas, que pode ser minimizada com uso de tecnologia reduzindo a sazonalidade e diminuindo as diferenças de preço entre safra e entressafra), o ciclo da pecuária e tendências de longo prazo (que quando analisadas apontam declínio dos preços ao longo dos anos, graças aos progressivos ganhos de produtividade).

Quanto ao ciclo da pecuária podemos, didaticamente, definir quatro tipos de condicionantes: índices zootécnicos, clima, variáveis econômicas (oferta x demanda) e dupla aptidão das fêmeas – a matriz pode ser considerada uma “máquina” destinada a produção de bezerros, mas também se torna um bem de consumo quando enviada ao abate para que sua carne seja consumida como produto final. Assim é fácil entender que quem manda no mercado do boi é a vaca, ou seja, o que o pecuarista faz com sua matriz é que determina qual vai ser o comportamento dos preços.

Essas decisões dos pecuaristas estão diretamente ligadas às variáveis econômicas. Assim podemos notar que existe um entrelaçamento entre esses fenômenos, gerando maior complexidade a análise do ciclo pecuário.

A primeira análise desse ciclo, no Brasil, foi publicada na revista Agroanalysis em maio de 1977, em um grande esforço dos pesquisadores da época, que sem as metodologias e computadores que temos hoje, concluíram que devido ao grande abate de matrizes que vinha ocorrendo nos anos anteriores ocorreria um intenso aumento de preços nos dois anos seguintes. Situação que foi confirmada.

Assim em 1978 ocorreu uma alta nos preços da arroba, que se fossem corrigidos utilizando os índices médios de inflação, corresponderiam hoje a uma arroba de mais de R$ 250,00. Obviamente, não podemos dizer simplesmente que nessa época tivemos o melhor momento da pecuária, pois provavelmente com esses preços teríamos um bezerro sendo negociado a R$ 2.000,00. Portanto, o paraíso não existe efetivamente no mercado.

Vale apontar que nesse período (1960-70) o mercado sofria fortes intervenções do Governo, com tabelamento, confiscos e contingenciamentos de exportações influenciando os mercados. Dos anos 50 até 70, notamos uma tendência de alta no longo prazo, que depois com os diversos planos econômicos, o desenvolvimento de novas tecnologias e aumento da produtividade, se alterou, seguindo o movimento esperado para os preços dos alimentos, que é de queda ao longo dos anos.

Nos 80, o Brasil teve vários planos econômicos que “bagunçaram” o clico pecuário. Um dos exemplos foi o Plano Cruzado, quando a carne bovina foi tabelada no varejo, a inflação caiu a zero e houve uma sensação de riqueza, que causou uma explosão de demanda, com todos os brasileiros querendo comer carne. Como sabemos o Plano não durou nem 6 meses e os preços da arroba despencaram.

Com o Plano Real, o Brasil testemunhou uma longa estabilização da economia. Nesse momento muitos começaram a imaginar que o clico pecuário tinha acabado, mas na verdade o que aconteceu foi que neste período tivemos um ciclo bastante longo.

Como citado anteriormente, é interessante notar como o abate de fêmeas tem forte influência sobre o mercado do boi. No gráfico abaixo pode-se notar que de 1997 a 2002 o abate de fêmeas permaneceu bastante estável e com isso o preço do boi também. A partir de 2002 com os preços do boi em baixa mais matrizes foram enviadas ao abate, reforçando a queda dos preços da arroba. Com esse aumento no abate de fêmeas sobraram menos matrizes para a produção e isso gerou escassez de bezerros no mercado, que depois se refletiu em redução na oferta de bois gordos e valorização da arroba.

Ressaltando a interligação entre os fatores que regem o clico pecuário é importante notar que o preços do bezerro assumem espectativas em relação ao que o mercado espera para o futuro do boi gordo, incorporando ágil ou deságil.

Em 1984, foi publicado um estudo sobre os fatores que influenciam os preços boi gordo no Brasil. Um dos fatores internos que poderiam influenciar os preços positivamente era a inflação. O boi era visto como reserva de valor, ou seja seja animal no pasto era capital que estava praticamente a salvo da desvalorização, já que o país vivia um intenso processo inflacionário.

Naquela época o boi também assumiu a figura de ativo financeiro, pois se imaginava que poderia haver algum plano econômico em que se pudesse desindexar a economia, acabar com a correção monetária, causando perda de rentabilidade de aplicações financeiras. Hoje não temos mais a inflação dessa época e uma taxa de juros baixa, então precisamos avaliar qual é o impacto disso na nossa atividade.

Neste estudo foram citados como fatores internos de influência negativa sobre os preços: recessão de consumo (a inflação causava a queda no salário real e as pessoas não tinham o dinheiro que gostariam para consumir), substituição no consumo (nesse período o Brasil consumia 10 kg de carne bovina para cada kg de carne de frango, hoje a relação é praticamente de 1 para 1, evidenciando essa substituição), controles discriminatórios (tabelamento, controle ou proibição de exportação e confisco) e a melhoria tecnológica (utilizando melhores técnicas de produção, aumentando a oferta, que normalmente pressiona os preços para baixo).

Quanto aos fatores externos de influência sobre os preços, naquela época foram citados: restrição cambial do país (boi exportado era considerado dólar para o país), ciclo dos competidores (escassez de oferta nos principais países produtores) e recuperação econômica (por exemplo os EUA que estavam retomando exportações e aumentando a demanda, fator que devemos observar novamente no período pós crise).

Os fatores externos, considerados com de influência negativa sobre os preços eram a produção dos importadores (subsídios na Europa e EUA), estoques dos competidores (que eram muito altos na Europa), valorização do dólar e alta de juros. É muito importante sempre analisar o que está acontecendo no mercado internacional e nos países competidores e conseguir avaliar o impacto disso nos preços das commodities.

Existem ainda fatores diretos e indiretos que também podem se refletir nos preços da arroba de várias formas, como aumento dos salários, novas tecnologias disponíveis à população, mudanças nos hábitos de consumo, controles de governo e problemas de escoamento.

Hoje temos disponíveis muitas tecnologias, modelos econômicos, cotações, mercado futuro ( que é o 2º maior mercado futuro de boi gordo do mundo), fatores que nos ajudam a analisar o mercado e as tendências de preços e devem ser usados. Assim temos que escrutinar os mercados diariamente, acompanhar o movimentos de preços e fatores que podem influenciá-los, desenhar novos modelos econométricos e aprimorar nossas tecnologias de análise para conseguirmos tomar as decisões corretas.

É sempre bom lembrar que o processo decisório deve ter três etapas, RIA:
Razão, que vem da análise;
Intuição, que é o faro do mercado, as vezes até meio desorganizado; e
Ação.

Analisar, Intuir e Agir, são os passos para melhorar a rentabilidade do nosso capital empregado na pecuária e garantir o sucesso na atividade.

Este artigo é baseado na palestra que Ivan Wedekin, diretor do BM&FBovespa, proferiu no Workshop BeefPoint de Pecuária de Cria, sobre o ciclo pecuário e os pontos que devem ser observados no acompanhamento do mercado boi gordo.

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2 Comments

  1. Gilson Alcântara Borges disse:

    Realmente não nos resta dúvida de que os preços da arroba do boi é diretamente influenciado pelo abate de matrizes; é fácil perceber isso porque com o abate de matrizes aumenta a oferta de carne forçando a queda dos preços, mas num médio prazo começa a escassez de berrezos no mercado provocando um aumento vertiginoso no preço do bezerro e por consequencia direta, aumenta o preço do boi.

  2. Priscila Bernhard disse:

    Muito bom! Como estudante, tive um ótimo esclarecimento do ciclo da pecuária, assim como entendimento do mercado e preços relacionados da arroba do boi.

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