Vinhos e carnes vermelhas
22 de dezembro de 2003
EUA registram primeiro caso suspeito de “vaca louca”
24 de dezembro de 2003

Enzimas Fibrolíticas como aditivos na alimentação de bovinos de corte – parte 3/3

Como já citado anteriormente as enzimas atuam melhorando a digestibilidade dos alimentos. A ingestão de matéria seca tem grande variabilidade entre os trabalhos, assim como os padrões de fermentação ruminal. As variações na digestibilidade observadas nos alimentos são dependentes de fatores que já foram discutidos anteriormente. Porém, a maioria dos trabalhos infere que o tratamento enzimático melhora a digestibilidade dos alimentos.

Christensen (2000) relata que a adição de níveis crescentes de mistura enzimática a forragens de clima temperado e tropical foi efetiva em aumentar a solubilidade dos alimentos in vitro. Os autores afirmam ter observados as mesmas tendências em ensaio in situ, porém os dados não são apresentados.

O aumento da ingestão de matéria seca nos tratamentos enzimáticos geralmente é associado a maior digestibilidade do alimento e maior taxa de passagem (Feng et al.,1996), sendo até considerada a possibilidade de melhora na palatabilidade (Beauchemin et al., 1999). Por outro lado Kung et al. (2000) em dois experimentos não observaram alterações na ingestão de matéria seca, digestibilidade in vitro e produção de AGVs (in vivo), apesar de terem notado efeito positivo na produção de leite.

A produção de AGVs é variável, Treacher et al. (1996) observaram que o tratamento de forragem aumentou a produção de AGVs totais em 30% após 16h. Alguns relatos não mostram alterações, apesar de melhora na digestibilidade (Feng et al.,1996), outros descrevem que apenas tendências numéricas são mostradas para maiores produções nos animais recebendo enzimas com maiores proporções de propionato, e menores relações acetato:propionato (Yang et al., 1999). Beauchemin et al. (1999) relatam tendências a maiores proporções de acetato para as vacas tratadas.

As concentrações de NH3 tendem a diminuir, devido a maior disponibilidade de CHO no rúmen. Treacher e Hunt (1996) sugerem que o aumento na fermentação de forragens devido a adição de enzimas, aumenta as exigências de proteína degradável no rúmen na formulação das dietas. Os benefícios da maior energia disponível, oriundas do aumento na produção de AGVs, e a disponibilidade de N levariam a maior fluxo de proteína microbiana para o duodeno.

A ação enzimática na digestibilidade dos alimentos, muitas vezes não gera as alterações esperadas nos parâmetros de fermentação ruminal, bem como na IMS, não condizendo com os resultados de desempenho. Os efeitos das enzimas no metabolismo ruminal ainda são controversos e pouco elucidativos.

Desempenho

Em revisão realizada por MUCK e KUNG (1997) observaram que os efeitos das enzimas fibrolíticas no desempenho animal resultaram em 21% dos trabalhos aumento no consumo (n=29), 40% no ganho de peso (n=10), 33% na produção de leite (n=12) e 27% na eficiência alimentar (n=11).

Beauchemin et al. (1999) relatam que em sete experimentos feitos no Lethbridge Research Centre com bovinos de corte, para avaliar os efeitos da adição enzimática, seis trabalhos melhoraram o desempenho. Em média os ganhos foram melhorados em 7%, e a eficiência alimentar em 8%.

Na tabela 1 é possível observar o melhor desempenho dos animais recebendo dietas tratadas com enzimas fibrolíticas. Naquele experimento os níveis moderados de enzima nas dieta de alfafa aumentou em 30% os ganhos de peso, e nas dietas de timothy hay o incremento nos ganhos de peso foi de 36% nos níveis mais elevados de enzima. Outros autores também relatam melhora no desempenho de bovinos recebendo dietas a base de forragem tratadas com combinações enzimáticas de celulase e xilanase (Pritchard et al.,1996; Michal et al.,1996; McAllister et al.,1999).

Boyles et al. (1992) ao adicionar compostos enzimáticos em dietas de bovinos de corte em confinamento recebendo concentrado a base de sorgo floculado com diferentes densidades, observou aumento em 10% (P<0,05) no ganho de peso, e melhora em 9,9% na eficiência alimentar, sem alterar a ingestão de matéria seca. Resultados semelhantes foram observados por Beauchemin et al. (1999), ao adicionar complexo de celulase e xilanase em dietas com 92% MS de concentrado (grão de cevada) para novilhas terminadas em confinamento comercial por 123d (Tabela 1).


Dietas com altos valores energéticos causam diminuição no pH ruminal, mantendo os valores abaixo de 6,0 a maior parte do dia, e consequentemente há diminuição da fibra. Como o pH ótimo para ação da fibra é inferior a 6,0 (Tabela 1), este tipo de dieta pode se beneficiar da ação das enzimas, melhorando a digestão da fibra.

Em trabalhos envolvendo sistemas de produção de leite, o tratamento enzimático também aumenta a produção de leite (Yang et al. 1998; Kung Jr. et al. 2000), principalmente em vacas no início de lactação (Rode et al., 1999). Porém, outros autores (Zheng e Stokes,1997; Beuchemin et al., 1999) não observaram alterações na produção de leite quando adicionaram enzimas fibrolíticas na dieta. Luchini et al. (1997) observaram que a produção de leite de animais alimentados com forragem tratada com enzimas fibrolíticas (celulase/xilanase), minutos antes do trato animal, não foi alterada, entretanto houve incremento do teor de gordura no leite. Em um segundo estudo notaram maior persistência a produção de leite. Nussio et al. (1997) verificaram apenas tendência de efeito positivo na performance de vacas leiteiras em início de lactação, quando receberam feno de alfafa tratados com diferentes doses da combinação enzimática celulase/xilanase.

Conclusões

A suplementação enzimática é alternativa a ser usada na produção animal por melhorar o desempenho animal, e obter melhor aproveitamento do alimento. Os resultados no desempenho para animais tratados com enzimas parecem ser mais evidentes em bovinos de corte que em bovinos de leite.

A maioria dos trabalhos foram feitos com dietas características de cada país, e dados com forragens tropicais são quase que inexistentes. O mecanismo de ação, e a especificidade do substrato, bem como efeito dose resposta, são pouco compreendidos, havendo ainda necessidade de mais estudos elucidativos. O custo da utilização da enzima é elevado, porém com os avanços na biotecnologia, e descobrimento de cepas de microrganismos específicos, esta técnica se tornará viável.

Bibliografia

BEAUCHEMIN, K. A. e RODE, L. M. The potential use of feed enzymes for ruminants. In: Proceeding 1996 Cornell nutrition conference for feed manufacturers. New York: Rochester Marriott Thruway Hotel, 1996. p.131-141.

BEAUCHEMIN, K. A., JONES, S.D.M.; RODE, L. M.; SEWALT, V.J.H. Effect of fibrolytici enzymes in corn or barley diets on performance and carcass characteristics of feedlot cattle. Canadian Journal of Animal Science, v. 77, p.645-653. 1997.

BEAUCHEMIN, K. A.; RODE, L. M.; KARREN, D. Use of feed enzymes in feedlot finishing diets. Canadian Journal of Animal Science, v. 79, p.243-246. 1999.

BEAUCHEMIN, K. A.; RODE, L. M.; MAEKAWA, M.; MORGAVI, D.P.; KAMPERN, R. Evaluation of nonstarch polysaccharidase feed enzyme in daity cow diets. Journal Dairy Science. v.83, p.543-553. 1999.

BEAUCHEMIN, K. A.; RODE, L. M.; SEWALT, V.J.H. Fibrolytic enzymes increase fiber digestibility and growth rate of steer fed dry forages. Canadian Journal of Animal Science, v. 75, p.641-644. 1995.

BEDFORD, M.R.; CLASSEN, H.L.; CAMPBELL, G.L The effect of pelleting, salt, and pentosanase on viscosity of intestinal contents and performance of broilers fed rye. Poultry Science, v.70, p.1571-1577. 1991.

BOYLES, D. W.; RICHARDSON, C. R. e COBB, C. W. Feedlot performance of steers fed steam-flaked grain sorghum with added enzymes. Journal Animal Science. vol.70, (supl. 1) p.131. 1992.(Abstr.)

CHENG, K.J. Fibrolytic enzymes from ruminal microorganisms. Lethbridge Research Centre. 2000.

CHESSON, A. Fibre degradation: an old theme revised. In: Biotechnology in the feed industry. Anais: Alltech’s tenth annual syposium. p. 83. 1994.

CHRISTENSEN, D. Enzymes: A new approach to enhancing ruminant rations. Department of Animal and Poultry Science, University of Saskatchewan. 2000.

FENG, P.; HUNT, C.W.; JULIEN, W. E. ; DICKENSON, K e MOEN, T. Effect of enzymes additives on in situ and in vitro degradation of madure cool-season grass forage (Abstr.). Journal Animal Science. vol.70, (supl. 1) p.309. 1992.

FENG, P.; HUNT, C.W.; PRITCHARD, G.T.; JULIEN, W. E. Effects of enzyme preparations in situ and in vitro degradation and in vivo digestive characteristics of mature cool-season grass. Journal Animal Science. vol.70, p.1349-1357. 1996.

GWAYUMBA, W. e CHRISTENSEN, D.A. The effect of fibrolytic enzymes on protein and carbohydrate degradation fractions in forages. Annual Meeting of Canadian Society of Animal Science. Abstract. p.541. 1996.

HAIGH, P.M. Silage dry matter content and silage additives on the fermentation of bunker-made grass silages on commercial farms in Wales 1987-1993. Journal of Agricultural Engineering Research, v.64, n.1, p.261-270. 1996.

HIRSTOV, A. N.; McALLISTER, T. A; TREACHER, R. J. e CHENG, K. J.. Stability of exogenous polysaccharide-degrading enzymes in the rumen. Journal Animal Science. vol.75, (supl. 1) p.120. 1997.(Abstr.)

HRISTOV, A., McALLISTER, T. A.; CHENG, K. Effect of dietary or abomasal supplementation of exogenous polysaccharide-degrading enzymes on rumen fermentation and nutrient digestibilty. Journal Animal Science. vol. 76, p.3146-3156.1998.

HRISTOV, A., McALLISTER, T. A.; CHENG, K. Intraruminal supplemantation with increasing levels of exogenous polysaccharide-degrading enzymes: Effects on nutrient digestion in cattle fed a barley grain diet. Journal Animal Science. vol. 78, p.477-487. 2000.

KRAUSE, M.; BEAUCHEMIN, K.A.; RODE, L.M.; FARR, B.I.; NøRGAARD, P. Fibrolytic enzyme treatment of barley grain and source of forage in high-grain diets fed to growing cattle. Journal Animal Science. vol. 76, p.2912-2920.1998.

KUNG, L. Jr.; TREACHER, R. J.; NAUMAN, G. A.; SMAGALA, A. M.; ENDRES, K. M. e COHEN, M. A. The effect of treating forages with fibrolytic enzymes on its nutritive value and lactation performance of dairy cows. Journal Dairy Science. vol.83,p.115-122. 2000.

LEWIS, G. E.; HUNT, C. W.; SANCHEZ, W. K.; TREACHER, R.; PRITCHARD, G. T. e FENG, P. Effect of direct-fed fibrolytic enzymes on the digestive characteristics of a forage-based diet fed to beef steers. Journal Animal Science. vol. 74, p.3020-3028.1996.

LEWIS, G. E.; SANCHEZ, W. K.; HUNT, C. W.; GUY M. A.; PRITCHARD, G.; PRITCHARD, B. I. e TREACHER, R. J. Effect of direct-fed fibrolytic enzymes on the lactational performance of dairy cows. Journal Animal Science. vol. 77, p.611-617.1999.

LOURES, D.R.S. Efeito de enzimas fibrolíticas na degradação da parede celular e desempenho animal da silagem de capim Tanzânia (Panicum maximum, Jacq.). Projeto de Tese. 2000.

MARQUARDT, R. R.; BRENES, A., ZHANG, Z. e BOROS, D. Use of enzymes to improve nutrient availability in poultry feedstuffs. Animal Feed Science Technology. vol. 60, p.321-330.1996.

McALLISTER, T.A.; OOSTING, S.J.; POPP, J.D, et al. Effect of exogenous enzymes on digestibility of barley silage and growth performance of feedlot cattle. Can. Journal An. Sci. v. 79, p353-360. 1999.

MICHAL, J. J. JOHNSON, K. A; TREACHER, R. J.; GASKINS, C. T. e SEARS, O. The impact of direct-fed fibrolytic enzymes on the growth rate and feed efficiency of growing beef steers and heifers. Journal Animal Science. vol.74, (supl. 1) p.296. 1996.(Abstr.)

MORGAVI, D.P.; BEAUCHIMIN, K.A.; NSEREKO, V.L.; RODE, L.M.; IWAASA, A.D.; YANG, W.Z.; McALLISTER, T.A.; WANG, Y. Synergy between ruminal fibrolitic enzymes and enzymes from Trichoderma Longibrachiatum. Journal Dairy Science. vol.83,p.1310-1321. 2000.

MUCK, R. E. e KUNG, L. Jr. Effects of silages additives on ensiling. In: Proceedings from the Silage: Field to Feedbunk North American Conference. Hershey, National Regional Agricultural Engineering Service. 1997. p. 200-210.

PRITCHARD, G.; HUNT, J. T.; ALLEN, A. e TREACHER, R. Effect of direct-fed fibrolytic enzymes on digestion and growth performance in feed cattle. Journal Animal Science. vol.74, (supl. 1) p.296. 1996.(Abstr.)

RODE, L. M e BEAUCHEMIN, K. A.. Enzymes to enhance utilization of feed in dairy cows. http://mas.ualberta.ca/weds/wed98/ch15htm. 1999.

RODE, L. M; YANG, W.Z.; BEAUCHEMIN, K. A. Fibrolytic enzyme supplements for dairy cows in early lactation. Journal Dairy Science. vol.82,p.2121-2126. 1999.

TREACHER, R. J. e HUNT, C. W. Recent developments in feed enzymes for ruminant rations – with special reference to direct-fed applications. In: Pacific Northwest Nutrition Conference, Seattle. 1996. p.1-19.

YANG, W.Z.; BEAUCHEMIN, K. A.; RODE, L. M. Effects of an enzyme feed additive on extent of digestion and milk production of lactating dairy cows. Journal Dairy Science. vol.82,p.391-403. 1998.

Os comentários estão encerrados.

plugins premium WordPress