Em outubro de 2024, as exportações brasileiras de carne bovina atingiram um novo recorde mensal, de acordo com o divulgado pela Associação Brasileira de Frigoríficos (Abrafrigo). O país embarcou um total de 319,3 mil toneladas de carne bovina, volume 34% superior ao registrado no mesmo mês do ano anterior. A receita gerada com esses embarques alcançou US$ 1,38 bilhão, uma alta de 41% na comparação com outubro de 2023. Esse crescimento também se refletiu no preço médio por tonelada, que aumentou 5,7%, passando a US$ 4.321.
Este foi, ademais, o terceiro mês consecutivo em que as exportações de carne bovina ultrapassaram a marca de 300 mil toneladas. Isso indica que 2024 deverá marcar um recorde histórico tanto em receita quanto em volume exportado. A Abrafrigo também observa que os preços tendem a acompanhar a valorização do boi gordo no mercado interno, o que pode aumentar a lucratividade para produtores e agentes da cadeia de pecuária.
Na análise do acumulado de janeiro a outubro, os números, por conseguinte, são bastante positivos. O Brasil exportou 2,68 milhões de toneladas de carne bovina até outubro, um aumento de 34% em relação a 2023, que registrou 1,99 milhão de toneladas exportadas. Em termos de receita, o país gerou US$ 10,774 bilhões até outubro, ou seja, 23% a mais que os US$ 8,752 bilhões obtidos no ano anterior. No entanto, apesar do aumento no volume exportado, o preço médio por tonelada em 2024 permanece inferior ao valor de 2023, com uma média de US$ 4.037, uma queda de 7,9%.
Entre janeiro e outubro, a China foi, portanto, responsável por 40,8% de todas as exportações brasileiras de carne bovina, consolidando-se como o principal destino do produto. Nesse período, o país asiático comprou 1,089 milhão de toneladas, o que, por sua vez, representou um crescimento de 11,2% em relação ao ano anterior. Esse volume gerou uma receita de US$ 4,84 bilhões, o que corresponde a um aumento de 2,5%. Os Estados Unidos, por outro lado, ocuparam a segunda posição entre os maiores compradores de carne bovina brasileira. O país respondeu16,6% das exportações totais até outubro.
No acumulado de 2024, o país importou 441,9 mil toneladas de carne do Brasil, uma expansão expressiva de 88,8% em comparação ao ano passado, gerando uma receita de US$ 1,278 bilhão (+58,7%). Em 2023, durante o mesmo período, os EUA haviam importado 234,1 mil toneladas, o que rendeu US$ 806 milhões ao Brasil. Conforme observado pelo Agro Estadão, um dos principais fatores para o aumento nas compras dos Estados Unidos é a redução do rebanho bovino no próprio país.
Os Emirados Árabes Unidos e o Chile também se destacaram entre os maiores importadores da carne brasileira. O volume exportado para os Emirados Árabes aumentou 126,1% até outubro, chegando a 125,6 mil toneladas. No caso do Chile, o país importou 86,1 mil toneladas de carne bovina, o que representa um aumento de 4,7% em relação ao mesmo período do ano passado. Segundo a Abrafrigo, “no acumulado do ano, 106 países aumentaram suas importações de carne brasileira, enquanto outros 65 reduziram as compras”.
Apesar da virada no ciclo da pecuária, que pode reduzir a oferta de animais em 2025, as exportações devem continuar fortes, segundo fontes do setor. De janeiro a outubro de 2024, o Brasil exportou 2,4 milhões de toneladas de carne bovina, crescimento de quase 30% comparado a 2023, conforme dados da Abiec. A expectativa é de que a demanda avance, embora o crescimento mais lento da economia chinesa, principal mercado para a carne brasileira, mereça atenção.
À margem do Sial, realizado em outubro em Paris, empresários e executivos do setor demonstraram otimismo para o próximo ano. A expectativa é que o Brasil continue ganhando espaço no mercado global. Enquanto isso, outros grandes exportadores, como os EUA e países europeus, enfrentam um ciclo negativo na pecuária.
O CEO da Minerva, Fernando Galletti de Queiroz, afirmou que acredita que a “América do Sul vai ocupar mais espaço no mercado internacional”. A Minerva, que atualmente opera 46 unidades de produção em sete países (Brasil, Paraguai, Argentina, Uruguai, Colômbia, Chile e Austrália), também expandiu recentemente suas operações com a aquisição de 13 plantas de bovinos e ovinos da Marfrig, agora incorporadas à empresa.
A oferta brasileira é vista como favorável para suprir o mercado global, segundo Fernando Queiroz. Dessa forma, ele afirmou que a oferta de carne bovina no Brasil pode sofrer leve redução em 2024. O número de bezerros nascidos em 2023, destinados ao abate em 2025 e 2026, é suficiente. Ele destacou a eficiência dos pecuaristas brasileiros em enfrentar adversidades, como a seca recente. A seca afetou pastagens e aumentou o preço da arroba no mercado interno. Para contornar, pecuaristas usam subprodutos como o DDG na alimentação do gado.
Outro fator que favorece as exportações brasileiras é a previsão de que a oferta de gado para abate nos Estados Unidos levará, no mínimo, três anos para se normalizar. Essa escassez de oferta, assim, tem levado os EUA a aumentar suas importações de carne bovina de várias origens. De janeiro a setembro de 2024, os EUA importaram quase 1,1 milhão de toneladas de carne, um aumento de 16% em comparação ao ano anterior. Desse total, 122,5 mil toneladas vieram do Brasil, o que representa uma alta de 62%.
A perspectiva de um governo protecionista sob a liderança de Donald Trump, presidente recém-eleito dos EUA, não é vista como uma ameaça significativa às exportações brasileiras para o mercado americano. Em entrevista recente, Fernando Queiroz mencionou que “o máximo que pode acontecer é a situação se manter como está”, sem prejuízos relevantes para os embarques.
No Sial, um executivo destacou que o câmbio tem incentivado as exportações brasileiras. O vendedor recebe mais reais por dólar negociado. Além disso, o produto brasileiro se mantém competitivo, mesmo com o aumento da arroba. O boi brasileiro ainda é “o mais barato do mundo” em dólar, comparado a outras origens. Segundo a Scot Consultoria, a arroba do boi no Brasil custa US$ 55,32. Na Argentina, custa US$ 61,20, e nos EUA, US$ 98,85.
Das 2,4 milhões de toneladas exportadas pelo Brasil entre janeiro e outubro de 2024, mais de 1 milhão de toneladas foram adquiridas pela China, conforme dados da Abiec. Esse volume é 12,7% superior ao registrado no mesmo período de 2023, o que reforça a importância do mercado chinês e a atenção dos exportadores brasileiros ao ritmo de crescimento do país asiático.
No Sial, Fernando Queiroz, da Minerva, mencionou que o PIB chinês mais lento pode mudar os padrões de consumo. Consumidores podem optar por produtos de menor valor. Ele destacou, porém, que a retomada das compras chinesas já começou após uma demanda moderada. Esse cenário foi influenciado pelo alto volume de abates internos na China. Outro empresário concordou, afirmando que “os preços caíram por causa da oferta elevada de boi na China”. No entanto, agora há uma recuperação nos preços e nas vendas de carne para o mercado chinês.
Antônio Camardelli, presidente da Abiec, está, além disso, confiante em relação às importações da China, embora o país esteja crescendo a um ritmo mais lento. Ele destacou que em setembro a China importou sozinha 136 mil toneladas de carne bovina brasileira e em outubro, segundo dados da Abiec, o volume chegou a quase 160 mil toneladas. Para Camardelli, mesmo que a economia chinesa desacelere, a demanda do país ainda representa um volume significativamente maior do que o exportado individualmente para outros países.
Esse cenário positivo, impulsionado pela forte demanda global e pela competitividade do produto brasileiro, reforça o otimismo do setor para 2025. Com perspectivas de crescimento contínuo nas exportações e a capacidade de manter uma posição competitiva no mercado internacional, o Brasil se firma cada vez mais como um dos líderes no fornecimento de carne bovina no cenário global.
Fonte: Globo Rural e Estadão.