A doença da vaca louca, que está dizimando milhares de animais na Europa, ao mesmo tempo em que causou problemas para as exportações da carne brasileira para o Canadá, Estados Unidos e México, está contribuindo para alavancar as vendas externas de soja e de farelo de soja de Goiás, principais ingredientes para a fabricação da ração vegetal, segundo reportagem de Sônia Ferreira, publicada hoje no jornal O Popular.
Esses produtos estão sendo usados para a alimentação de bovinos, eqüinos, caprinos e ovinos, em substituição à ração que tem como base ossos, gorduras e carcaças de animais ruminantes, cuja proteína (o príon), em sua versão deformada, está ligada à Encefalopatia Espongiforme Bovina (EEB), a doença da vaca louca.
De acordo com dados da Secretaria de Comércio Exterior (Secex), do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, as vendas totais de Goiás para outros países apresentaram crescimento de 118% em janeiro último, em comparação com o mesmo mês do ano passado. A soja e o farelo de soja foram os principais produtos da pauta de exportação. O chamado complexo de soja – grãos, farelo, bagaço e óleo do produto – exportou em janeiro deste ano 211,1% a mais que no mesmo mês do ano passado.
Faturamento
Em janeiro deste ano, saíram de Goiás 92,9 mil toneladas de soja, 55,87% a mais do que em janeiro de 2000: 59,6 mil toneladas. Em termos de faturamento, o aumento chegou a 120%. Passou dos US$ 8,69 milhões, contabilizados no primeiro mês do ano passado, para US$ 19,13 milhões. As exportações do farelo de soja também deram um salto surpreendente, de 1,3 mil toneladas para 42,5 mil toneladas, registrando crescimento de 3.169%. A venda de farelo totalizou US$ 8,32 milhões, contra os US$ 226 mil registrados em janeiro de 2000, portanto um aumento de 3.573%.
De acordo com a Associação Brasileira das Indústrias de Óleos Vegetais (Abiove), as exportações brasileiras de soja (grão) atingiram 296 mil toneladas em janeiro último, o que representou um aumento de 796% em comparação com o mesmo período do ano passado, quando foram enviadas para outros países 33 mil toneladas de grãos de soja. A remessa de farelo de soja para o Exterior também deu um salto de 117%. Passou de 428 mil toneladas, de janeiro de 2000, para 929 mil toneladas, este ano.
O presidente da entidade, César Borges, disse que, apesar de ainda não dispor dos dados oficiais das exportações de fevereiro, nos dois primeiros meses deste ano, as vendas de soja e farelo de soja para o exterior, notadamente para a Europa, cresceram significativamente. “Os europeus estão substituindo a alimentação dos ruminantes, antes à base de ração animal, por ingredientes vegetais, em função da doença da vaca louca”, disse. Com isso, as compras de soja por parte dos europeus estão voltadas para o Brasil, que é um grande produtor, destacou Borges.
No contexto nacional, Goiás representa 8% das exportações de grãos de soja e de 9% das vendas de farelo de soja. “A participação de Goiás é bem representativa e está ocorrendo um crescimento gradativo”, observou o Presidente da Abiove.
Prejuízo
Borges considerou importante o aumento das exportações da soja, nos últimos dois meses. Mas ele lamentou o fato de que está saindo muita soja em grão do Brasil, ao invés de sair o produto industrializado que agrega valor à produção e gera empregos. “Os produtos industrializados brasileiro, como o farelo de soja e óleo de soja, deixaram de ser competitivos no mercado internacional em função do desequilíbrio tributário”. Segundo ele, a Lei Kandir taxou as exportações dos derivados da soja e isentou de impostos o grão in natura.
“Com essa política tributária caolha, estamos perdendo mercado do farelo e do óleo de soja para a Argentina e para outros países”, disse o presidente da Abiove. Nos últimos quatro anos, as exportações de óleo de soja do Brasil caíram 30% e as argentinas subiram 100%. Nas vendas de farelo de soja, o Brasil perdeu 20% do mercado internacional. A Argentina cresceu 70%.
(Por Sônia Ferreira, para O Popular/GO, 12/03/01)