No início deste mês, as Nações Unidas anunciaram a posição de Frank Mitloehner, PhD, à cadeira do comitê dentro da Organização para Alimentos e Agricultura das Nações Unidas (FAO) para medir e avaliar os impactos ambientais da indústria pecuária. Esse é um passo positivo, à medida que Mitloehner, especialista em qualidade do ar da Universidade de Califórnia-Davis, trará uma liderança científica para uma orgaização que mostrou tendências anti-pecuária no passado.
A história começou em 2006, com a divulgação de um relatório da FAO chamado “Livestock’s Long Shadow”. Os autores desse relatório incorretamente disseram que o setor pecuário é responsável por 18% das emissões de gases de efeito estufa (GEE), uma participação maior do que a de todos os transportes combinados. Esse dado continua aparecendo regularmente na mídia e na literatura que é contrária à produção pecuária.
Muitos acreditavam que as afirmações da FAO eram exageradas, mas foi Mitloehner que, junto com coletas da UC-Davis, investigou os métodos de pesquisa e os dados por trás das conclusões. Em 2009, a equipe publicou sua análise, chamada “Clearing the Air: Livestock’s Contributions to Climate Change”, no Advances in Agronomy.
Os dados da FAO foram baseados em “análises de ciclo de vida”, que pretendia quantificar todas as emissões de gases de efeito estufa geradas em toda a indústria ou processo de produção. Mitloehner delineou três abordagens para análise de ciclo de vida para emissões de GEE. A forma mais simples, chamada LCA-1, mede somente as emissões diretas, como as da fermentação do rúmen bovino, das fezes e da urina. A análise mais ampla, chamada LCA-2, mede emissões diretas e indiretas, com as do processamento, transporte e desmatamento associados com a produção pecuária. A análise mais completa, LCA-3, incluiria emissões diretas e indiretas da pecuária, mais emissões indiretas de atividades associadas, como produção de fertilizantes e pesticidas usados na produção de colheitas de alimentos animais.
Diante deste cenário, ele disse que os autores do relatório das Nações Unidas cometeram alguns erros. Primeiro, em suas estimativas de emissões da produção pecuária, eles usaram o LCA-3, incluindo todas as emissões diretas e indiretas do ciclo inteiro de produção. Isso seria ótimo, exceto pelo fato de que, na análise do setor de transporte, eles usaram o LCA-1 simples, medindo somente as emissões dos escapamentos. Isso levou ao exageradamente inflado dado de 18% e à difusão falsa de que a pecuária representa mais emissões do que aviões, trens e automóveis.
A pesquisa de Mitloehner descobriu que, nos Estados Unidos, a criação de animais representa 3,4% das emissões de gases de efeito estufa, enquanto o setor de transporte contribui com aproximadamente 26%.
Nas nações em desenvolvimento, a contribuição das emissões pecuárias relacionadas ao transporte é maior. Isto devido às práticas de produção menos eficientes e à mudança no uso da terra, como onde as florestas nativas são removidas para acomodar o gado. Além disso, o transporte e outras indústrias são menos desenvolvidas nesses países, significando que a contribuição da pecuária às suas emissões totais de GEE é relativamente maior.
Após o estudo de Mitloehner ter sido publicado, os autores do relatório da FAO admitiram seu erro, mas o relatório continua levando a uma ampla crença de que a pecuária está liderando as emissões de GEE.
Como presidente do novo comitê, Mitloehner liderará representantes de governos, indústrias pecuárias, setores privados. Sem fins lucrativos, implementará métodos científicos para quantificar as pegadas de carbono, criar uma base de dados para emissão de GEE pela produção de ração animal, e desenvolver uma metodologia para medir outras pressões ambientais, como consumo de água e perdas de nutrientes.
É encorajador ver a FAO, que pode ter uma influência significativa nas políticas internacionais relacionadas à agricultura e sustentabilidade na produção de alimentos, selecionar cientistas que verdadeiramente entendem do assunto para liderar esse esforço.
Os comentários são de John Maday, editor da Drovers, traduzidos e adaptados pela Equipe Beef Point.
3 Comments
A sustentabilidade de toda a cadeia primeiramente depende de medicao correta das emissoes, acredito que agora teremos nosso real valor. Porem nao podemos abrir mao de nossa parcela de acao sobre as emissoes. Por exemplo reduzindo o tempo de abate dos animais, escolhendo ingredientes na dieta com menor pegada de carbono possivel, confinamentos longe do Mato Grosso utilizando torta de algodao, 11 vezes menos eficiente que a Ureia de Liberacao Lenta padrao, por que gastar tanto Diesel? Outro exemplo é ma conducao no processo de silagens gerando disperdicio e perdas tanto na fermentacao como no manejo do silo. Cabe a cada um envolvido nao so a lucratividade, mas tambem a sustentabilidade.
O cliente final pode ficar encomodado se souber que consumiu desnecessariamente recursos da natureza. Quando pensarmos em 9 ou 10 bilhoes de habitantes os recursos desperdicados farao falta ao ser humano, nosso planeta daqui a 50 anos tera esta populacao e nao quero deixar de legado para minha filha um mundo onde a historia pode nos condenar ou absolver dependendo das atitudes e escolhas que tomamos agora.
Baseados neste erro monumental de pseudo-cientistas , há muitos anos os chamados ambientalistas demonizaram a pecuária e deixaram de cumprir corretamente seu papel de vigilantes dos reais poluidores, transportes em primeiro lugar.
Em razão disso temos no Brasil a figura jurídica da Reserva Legal, inexistente em todos os demais países ,para compensar o descalabro destruidor dos países desenvolvidos.
Sempre foi assim: a culpa é dos que produzem e principalmente dos países em desenvolvimento. É o velho colonialismo em ação.
Basta de carregar a culpa dos outros e pagar a conta dos privilegiados.
Com estudos corretos feitos por cientistas de verdade estamos chegando à conclusão óbvia que a destruição ambiental é muito maior nas cidades e nos países ricos.
Há anos fazemos nossa parte com novas tecnologias na pecuária e com respeito ao meio ambiente.
Só quem não é produtor rural ,ou quem nunca foi ao campo, não sabe disso.
Frank apontou um erro grotesco de pseudo cientistas / ambientalistas. Sempre embasando tecnicamente seus argumentos, de tal forma que os autores do erro tiveram que reconhece-lo. Erro pelo qual nos pecuaristas ainda pagamos, com uma injusta fama. Portanto apoio sua indicação, pois mostrou-se mais técnico e menos ideológico.
Confesso que nem sei bem para que serve este conceito mais amplo de emissão. Quando extrapolamos a geração direta da pecuária e ampliamos para toda a cadeia, incluso fornecedores e consumidores, o que estamos medindo? De fato as atividades econômicas se entrelaçam, sempre, mas cada qual deve ser responsável por sua cota parte.