Identificar genes que possam ser utilizados para desenvolver produtos e tecnologias para melhorar a qualidade da carne bovina, a eficiência reprodutiva dos animais e sua resistência a parasitas e doenças. Esses são alguns dos objetivos do projeto Genoma Funcional do Boi, lançado ontem (07) na Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp). Trata-se de uma parceria entre essa instituição e a empresa Central Bela Vista Genética Bovina.
Focado na raça Nelore, que responde por 80% das 183 milhões de cabeças da pecuária brasileira, o projeto tem investimento previsto de US$ 1 milhão, dividido igualmente entre os dois parceiros. O prazo para sua conclusão é de 18 meses, quando deverão ter sido identificados e seqüenciados cerca 30 mil genes expressos, que codificam as proteínas responsáveis pelo metabolismo e pelas características genéticas do animal.
Segundo o coordenador do projeto, o engenheiro agrônomo Luiz Lehmann Coutinho, da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz, da Universidade de São Paulo (Esalq-USP), as pesquisas serão feitas em duas etapas. “Na primeira, que durará de seis a sete meses, faremos o seqüenciamento para a formação de bibliotecas de clones dos genes de interesse”, explicou. “Para isso, coletaremos tecidos bovinos da hipófise e do hipotálamo, dos sistemas reprodutivo, imunológico e digestivo, além de tecidos musculares e adiposos”.
O objetivo é a produção de 100 mil seqüências expressas (ESTs – Expressed Sequences Tags), contidas naqueles 30 mil genes. Em palavras simples, elas tornam possível descobrir a função do gene no metabolismo do boi, que pode ser, por exemplo, dar maior ou menor resistência a parasitas, precocidade sexual ou maciez ou dureza da carne.
Na segunda etapa, os pesquisadores vão procurar características mais detalhadas. A meta é identificar genes envolvidos em funções específicas, relacionadas a características de interesse econômico. Serão procurados só aqueles responsáveis pelas características positivas, como maior produtividade. “Vamos buscar os genes que permitam a criação de tecnologias que podem gerar pedidos de patentes”, explicou o proprietário da Central Bela Vista Genética Bovina, Jovelino Mineiro.
Apesar de a raça mais utilizada no país, a nelore, estar bem adaptada, o criador tem de gastar muito com insumos, como carrapaticidas. A descoberta de genes ligados à resistência a parasitas poderia economizar milhões de reais. “A criação de gado no país tem vários gargalos a serem superados”, afirmou Mineiro.
Para o governador Geraldo Alckmin, projetos como esse são muito importantes para o Estado e para o Brasil. “São Paulo é responsável por dois terços das exportações de carne brasileira”, disse. “Esse projeto é um avanço nas pesquisas para melhorar a qualidade da nossa carne. Também é importante porque a cadeia produtiva do boi gera empregos, irriga a economia. É um setor que só traz boas notícias, porque agora estamos quase ultrapassando os Estados Unidos e Austrália na exportação de carne”.
Fonte: O Estado de São Paulo (por Evanildo da Silveira) e Folha de S.Paulo (por Ricardo Bonalume Neto), adaptado por Equipe BeefPoint
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Como especialista no controle do carrapato dos bovinos, gostaria de dizer que a raça Nelore talvez seja a raça mais resistente do mundo ao carrapato, e o gasto com carrapaticida não acontece nessa raça como foi publicado.
O que acontece frequentemente no gado de corte é a aplicação de endectocida (produtos que controlam parasitas intestinais e também ectoparasitas, como o carrapato), mas isso não significa que a raça precise de carrapaticida.