Vaca louca, gripe do frango, febre aftosa… são vários os males que vêm afetando a produção e a comercialização de produtos de origem animal em boa parte do planeta.
Só para recordar. Em 2000, em função da descoberta de vários casos de encefalopatia espongiforme bovina (EEB ou vaca louca) em seu território, as exportações de carne bovina da União Européia recuaram para 615 mil toneladas em equivalente carcaça, ante as 949 mil toneladas negociadas em 1999. As vendas continuaram caindo nos anos seguintes, começando a se recuperar somente a partir de 2003.
Internamente, no continente europeu, de 1999 a 2001, o consumo de carne despencou 11% (gráfico). Só não caiu mais uma vez que houve uma forte redução dos preços, cerca de 15% no mesmo período (Ofival Anuaire), sobretudo na Alemanha e Países Baixos.
A descoberta, em dezembro último, de um único caso de EEB no Estado de Washington bagunçou o coreto. O Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA) estima que as exportações norte-americanas de carne bovina devam recuar para apenas 100 mil toneladas em equivalente carcaça em 2004, menos de 10% do que o país negociou em 2003. Comparativamente, é o que o Brasil costuma exportar em um único mês (não muito bom).
O governo norte-americano acredita que o consumo deverá aumentar em torno de 5% dentro do país. Primeiro, porque a população local está bem informada de que praticamente não há risco de alguém ser acometido pela doença. Segundo, porque os preços, a exemplo do que aconteceu na Europa, tendem a sofrer retração em torno de 10 a 15%, uma vez que a carne, antes exportada, será direcionada ao mercado interno.
E como se não bastasse, a gripe do frango também chegou aos EUA. Acredita-se que o vírus lá descoberto não é de periculosidade tão elevada quanto aquele que vem causando a morte de pessoas na Ásia, porém, o comércio já está prejudicado. Enquanto redigia este texto, União Européia, México, Coréia do Sul, Filipinas e Rússia já haviam decidido banir as importações de carne de frango dos Estados Unidos. O Brasil também.
Tanto na Europa, quanto nos Estados Unidos, o resultado foi, ou vem sendo, o mesmo: redução de receitas, perda de clientes importantes, queda das ações de empresas produtoras de alimentos, demissões, etc. Em síntese, crise.
Alheio a todos esses problemas o Brasil soube aproveitar as oportunidades oriundas desses fatos, ampliando mercados e expandindo sua participação no comércio internacional. E os trabalhos ainda evoluem, com boas perspectivas.
Contudo, colocando um pouco a euforia de lado, os fatos recentes nos levam à reflexão. – O Brasil está tomando as medidas necessárias para evitar problemas semelhantes aos enfrentados pelos seus principais concorrentes? – Os novos clientes brasileiros foram realmente conquistados, ou buscam se abastecer com produto nacional por pura necessidade ou falta de opção?
É verdade que o baque sobre as economias européia e norte-americana foi grande. Porém, tomando os Estados Unidos como exemplo, tem-se aí um PIB superior a US$10,00 trilhões, sendo que o faturamento gerado pelas exportações de produtos agropecuários (todos eles) corresponde aproximadamente a “apenas” US$60,00 bilhões, de um total próximo a US$750,00 bilhões. Tem muito recurso vindo de outro lugar.
Já o Brasil apresenta um PIB próximo a US$550,00 bilhões, sendo que o PIB do agronegócio corresponde a cerca de 30% desse valor. Em 2003 as exportações do setor chegaram a US$30,64 bilhões, equivalente a 42% do total faturado pelo país no mercado internacional. Somente as exportações geradas pelo complexo carnes ficaram em US$4,00 bilhões, correspondendo a 13% das exportações do agronegócio, ou 5,5% do total negociado pelo país.
A economia brasileira depende do campo. Se a roça vai bem, o país vai bem. Se as exportações do agronegócio brasileiro aumentam, o superávit da balança comercial também aumenta. E o contrário é verdadeiro.
Daí a importância da adoção de políticas e medidas sérias de controle e fiscalização da produção agropecuária nacional. Nada de boi vindo do Paraguai, de GTA’s para animais não vacinados, de cama de frango na dieta do gado… e por aí vai.
A rastreabilidade, bem como a certificação de origem do produto, são cada vez mais fundamentais. Podem ainda não ser estritamente obrigatórias para acessar a maior parte dos mercados, porém, passaram a ser um importante “plus adicional a mais” no currículo do país. Traçando um paralelo, vender carne bovina hoje, sem certificado de origem, seria o mesmo que pleitear estágio em uma grande empresa sem conhecimento de inglês e computação.
Nesse caso, a idoneidade e a segurança oferecidas pelo sistema é que importam. O objetivo, como o nome diz, é assegurar a origem, garantir ao consumidor a procedência confiável (saudável, segura) do produto. Fazer por fazer não dá certo. Complicar, o que pode ser simplificado, também não conta nada.
E o quanto antes a cadeia se organizar e se estruturar para atender com competência as mudanças e as novas exigências que o mercado impõe, melhor. É adotando postura ativa que se vai mais longe, e mais rápido. E isso vale para qualquer atividade.
O negócio é agir de maneira a fixar na cabeça do cliente que as melhores opções de compra estão no Brasil, onde são adotadas estratégias eficientes de controle de qualidade e sanidade, sem chance de vaca louca, frango gripado, suíno maluco, pescado deformado…É preciso fazer mais que o outros.
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Parabéns pelo artigo Fabiano!
Torna-se cada vez mais necessária a implementação de um sistema concreto de controle de qualidade de toda a cadeia, baseando-se principalmente em fatores, tais como, índices de qualidade.
Assim poderemos atender às necessidades do mercado consumidor, cada vez mais exigente, fornecendo informações, assegurando a qualidade do produto, sejam especificações sob o ponto de vista sensorial (maciez, suculência, aparência geral), nutricional (teor de proteína) e de segurança (presença de resíduos).
Dessa forma, poderemos assegurar um mercado cada vez mais promissor para toda a cadeia da carne bovina, oferecendo um produto de qualidade diferenciada e que certamente trará benefícios para todos os componentes dessa cadeia.
Um abraço,