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Febre aftosa reforça importância da rastreabilidade

Por Vantuil Carneiro Sobrinho1

Embora não atinja os seres humanos nem cause mortalidade significativa nos animais, a febre aftosa costuma deixar seqüelas importantes, definhando os bovinos e os tornando economicamente inviáveis. Por essa razão, os países livres da doença adotam a postura de fechar suas fronteiras à carne de regiões com focos.

A ocorrência da febre aftosa no Brasil, mais especificamente no extremo sul do Mato Grosso do Sul, resultou no fechamento total ou parcial de mais de 50 países à carne brasileira, o que certamente levará a redução importante das exportações, com real prejuízo tanto para os produtores quanto para os frigoríficos.

O comércio internacional é muito dinâmico e, na falta do produto brasileiro, por certo algum país exportador sem restrições sanitárias – em que pese a escassez de carne no mercado mundial – deverá preencher a lacuna deixada pelo Brasil.

Igualmente preocupante é a difícil, trabalhosa e dispendiosa recuperação de mercado, pois além da questão mercadológica tem-se de trabalhar muito para comprovar o efetivo controle da febre aftosa e apresentar as devidas salvaguardas. Embora se reconheça o esforço das autoridades governamentais, a determinação da origem da doença fica prejudicada em um país onde a rastreabilidade infelizmente não está inteiramente adotada, impedindo que se conheça a origem dos animais, ou seja, sua identificação e acompanhamento individual dos animais desde o nascimento.

O surto de febre aftosa no Mato Grosso do Sul deixa claro como o erro de poucos pode comprometer o trabalho de todos. Em outras palavras, quando um perde, todos perdem. O setor de carne bovina pode e deve aprender com o ocorrido e aproveitar a oportunidade para, definitivamente, implantar um sistema de rastreabilidade animal eficiente, que contemple um programa auditável de caráter preventivo, que ajude a detectar eventuais vulnerabilidades na sanidade do rebanho, bem como auxilie a checar a origem dos fatos quando do surgimento de uma enfermidade.

Há mais benefícios: a rastreabilidade implantada de maneira correta é também uma excelente ferramenta de gestão, proporcionando benefícios ao pecuarista, que ganha um importante aliado ao melhoramento genético e à administração da propriedade, resultando em ganho de produtividade e agregação de valor ao rebanho; à indústria, que viabiliza o acesso aos mercados mais importantes, atendendo as mais rígidas exigências dos seus clientes; e ao governo, melhora os controles sanitários, contando com um mecanismo eficiente para auxiliar os inquéritos soro-epidemiológicos.

Assim, não basta rastrear; é preciso executar um trabalho confiável e de qualidade. O mundo espera isso da pecuária brasileira.

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1Vantuil Carneiro Sobrinho é diretor operacional da Brasil Certificação Ltda

0 Comments

  1. Iracema C.P.Foz disse:

    É muito oportuna sua abordagem sobre a rastreabilidade (essa ainda grande desconhecida) na grande e histórica questão da febre aftosa, valendo para o Brasil e para todo o continente.

    Importante observar que a rastreabilidade nasceu na Europa, por exigência de consumidores, após o choque provocado pela eclosão da ‘doença da vaca louca’ na Inglaterra e depois, em outros países do bloco.

    Ora, o consumidor é o dono do mercado. Então, começou a ser exigida a aplicação de sistemas de garantia de segurança alimentar. Ninguém quer ser contaminado. No caso da ‘vaca louca’, doença transmissível ao ser humano, que passa por longo período de incubação, fez surgir uma ‘quase-neurose ‘coletiva entre os consumidores europeus.

    Hoje, a União Européia já percorreu um longo caminho, tornando-se a sinalizadora dos modelos de rastreabilidade disponíveis, enquanto também existe empenho nos países fornecedores em buscar normas, regras e padrões de valor mais universal, de forma a evitar o surgimento das anunciadas barreiras técnicas, em substituição às conhecidas barreiras comerciais e/ou sanitárias.

    Na realidade, como seu artigo bem coloca, a aftosa não causa ameaça à saúde humana, mas causa imensos prejuízos. Outras ameaças, como doenças transmissíveis ou até mesmo a possibilidade de ações chamadas de bioterrorismo, entram no mesmo feixe de detecção eficiente, nos quadros viabilizados pela tecnologia da rastreabilidade.

    Rastreabilidade é tecnologia para o século XXI como ferramenta de gestão. É também tecnologia estratégica para montar consistentes cadeias produtivas no setor de alimentos, porque oferece o benefício da transparência, a garantia da aplicação de conceitos de qualidade como ferramenta de defesa dos produtos, e também, ferramenta ofensiva na conquista do valor agregado, porque permite abrir espaço para o advento de marcas. Rastreabilidade é produto com identidade, com história comprovada.

    Você está certo Vantuil. Sistemas organizados, com as demais providências tomadas (vacinação, fiscalização, vigilância sanitária etc.), não terão lugar para este velho problema ou outros problemas velhos conhecidos da pecuária nacional. Nem jogo de empurra quando a bomba de um foco explodir.

    Tudo tem nome e endereço no sistema de rastreabilidade: focos serão identificados rapidamente, qualquer foco de qualquer tipo de contaminação. Assim, as soluções também serão rápidas e será possível evitar que muitos inocentes paguem por poucos pecadores, como costuma acontecer.

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