Os frigoríficos estão torcendo para que o mês de março acabe. O desaquecimento das vendas, por conta do período de Quaresma e pela queda do poder aquisitivo da população, está pressionando as cotações das carnes.
Em um mês, o frango inteiro resfriado caiu 14% no grande atacado paulista, para R$ 1,23 o quilo ontem. No mesmo período, a carcaça suína especial recuou de R$ 2,25 para R$ 2,05, apurou a Jox Assessoria Agropecuária. No mercado de cortes bovinos, a queda foi menor: o traseiro caiu 3% no período para R$ 3,30 o quilo, segundo a FNP Consultoria.
Tradicionalmente, o consumo de carnes cai em algumas regiões do País no período que antecede a Páscoa, mas o desaquecimento das vendas este mês ficou além do esperado. “As vendas de carne de frango e produtos suínos despencaram”, diz fonte de uma grande indústria do setor.
Segundo Antônio Pelissari, diretor do Frigoestrela, de Estrela d’Oeste (SP), a demanda fraca eleva os estoques. A saída encontrada pelos frigoríficos foi reduzir a produção. O Frigoestrela, por exemplo, cortou em 20% o abate. Os frigoríficos também estão comprando carne argentina. O Bertin busca picanha no país vizinho.
Entre indústrias e analistas, a avaliação mais comum é de que o menor poder aquisitivo da população reduz as vendas. “A renda deprimida afeta o consumo”, avalia o consultor da FNP, Paula Batista.
Segundo o IBGE, no último ano o rendimento real do brasileiro teve queda de 3,84%. “A queda da renda limita a expansão da economia, principalmente do consumo básico”, afirma o economista da LCA Consultores, Luís Suzigan. Mas ele pondera que, em 2001, os preços das carnes se mantiveram firmes por conta do bom desempenho das exportações.
Até fevereiro os embarques continuaram em alta. Os frigoríficos de carne bovina, porém, alegam que está mais difícil vender na Europa por causa da volta da Argentina. Segundo o gerente de exportação do Bertin, Marco Bicchieri, os preços de venda da Argentina estão atraentes. Antes do embargo ao produto, o país vendia ‘rump loin’ (corte que reúne alcatra, contrafilé e filé) por US$ 8.000/ tonelada. Hoje oferta a US$ 6.200, conforme Bicchieri.
Já o consultor Heron do Carmo, da Fipe, acredita que a queda dos preços é explicada por fatores sazonais, como a safra do boi. Para ele, apenas um “empobrecimento muito sério da população” geraria queda do consumo. Segundo a Fipe, o preço da carne bovina no varejo caiu 0,90% até a segunda quadrissemana de março.
Fonte: Valor On Line (por Alda do Amaral Rocha), adaptado por Equipe BeefPoint