Problemas com a marcação do gado, falta de padronização genética e perda de oportunidades no mercado da pecuária de corte são alguns dos prejuízos sofridos pelos produtores rurais apontados durante o fórum “Carne e Couro Bovinos: Mercados e Comercialização”, realizado sexta-feira (17) na Federação de Agricultura e Pecuária de Mato Grosso do Sul (Famasul).
Promovido pela Embrapa Gado de Corte, o evento foi dirigido a técnicos e produtores e teve a participação de debatedores e palestrantes que discutiram as demandas e tendências do mercado interno e externo da carne bovina, como vencer barreiras impostas por países importadores que exigem carne identificada e como melhorar a comercialização do couro.
O pesquisador do Cepea/Esalq/USP, Sérgio de Zen, afirmou que, apesar dos problemas estruturais e de mercado, o Brasil tem se aprimorado na pecuária de corte e indústria do couro, com utilização de novas tecnologias e pastagens de boa qualidade. “Com a estabilização da economia brasileira ocorreram mudanças sensíveis no mercado de couro brasileiro. A indústria do couro, antes baseada na especulação, começou a se preocupar com a produção. Além disso, o mercado se tornou exigente, o que forçou a melhoria da qualidade do couro dos fornecedores”, avaliou.
Ele também alertou que a distribuição de renda no Brasil é fundamental para ampliar o mercado consumidor de carne bovina. “A classe alta brasileira não vai alterar o seu consumo de carne, mas se o Brasil melhorar sua distribuição de renda, consumidores das classes mais baixas terão seu poder de compra aumentado e passarão a consumir mais carne e de melhor qualidade”, explicou.
Couro
O diretor de operação da Braspelco, indústria brasileira de comercialização de peles e couros, Carlos Gilberto Santos Obregon, disse que 55% dos problemas do couro bovino tiveram origem na fazenda, por erros de manejo do gado. Conforme ele, os problemas com o couro já começam no tipo de pecuária do Brasil que, por ser extensiva, expõe o gado a carrapatos, arames, bernes, riscos de arames e marcas de fogo que prejudicam a qualidade do couro. “Existe ainda a questão do transporte inadequado, que pode machucar e danificar o couro do animal”, explica.
Os problemas citados por Obregon acarretam perdas de quatro arrobas/ano. Isto significa que o gado terá que ficar mais tempo no pasto para recuperar-se do ataque de ectoparasitas, gerando prejuízos e ocupando o lugar de outro que poderia entrar no local mais cedo. Outro obstáculo enfrentado pelo produtor brasileiro está relacionado ao melhoramento genético. “A genética do gado brasileiro, avançada em algumas regiões e atrasada em outras, dificulta a padronização do couro e impede o preço uniformizado. O Brasil ainda não é capaz de produzir couro de primeira linha”, concluiu.
Hambúrguer é composto por 40% de soja
O presidente do Fórum Permanente da Pecuária de Corte, Antenor Nogueira, lamentou que o produtor rural brasileiro ainda perca oportunidades de mercados para indústrias que estão desrespeitando a lei. Ele citou o exemplo dos hambúrgueres, que por lei deveriam ter em sua composição até 4% de proteína vegetal, mas, na realidade, a proporção de soja presente neste produto chega a 40%. “O fabricante deveria ter, no mínimo, a honestidade de classificar o produto como hambúrguer misto. Mas vende para o consumidor como hambúrguer de carne, enquanto os produtores deixam de vender a matéria-prima que é substituída por soja”, disse.
Outro exemplo de fraude, denunciado a Nogueira pelos próprios frigoríficos concorrentes, é a injeção de gordura de porco importada da Holanda nos corte de carne para aumentar em até 10% o peso do produto. “Já conversamos com o ministro da Agricultura, Pratini de Moraes, e solicitamos do Governo a proibição da gordura holandesa. O produtor precisa ficar atento porque perde mercado enquanto ações ilícitas estão sendo praticadas”, advertiu.
Fonte: Campo Grande News (por Daniel Pedra), adaptado por Equipe BeefPoint