Após a peregrinação por quatro países da Ásia e do Oriente Médio para apresentar a proposta de investimentos na recuperação de áreas degradadas do Brasil, o Ministério da Agricultura e os bancos estatais que integraram a missão começaram a alinhar detalhes operacionais com os possíveis financiadores do programa de conversão de pastagens.
A expectativa é que os repasses de recursos sejam efetivados em breve e possam servir de modelo para uma investida brasileira em busca de aportes da Europa para o programa. A meta é apresentar as ações durante um painel da COP 28, em Dubai, no fim do ano.
Na semana passada, uma missão da Agência de Cooperação Internacional do Japão (Jica) esteve no país para visitar regiões produtoras, como Mato Grosso, empresas do setor e o ministério. Também houve reuniões de alinhamento do Banco do Brasil com o Eximbank, da Coreia do Sul, e o fundo saudita Salic. Uma nova agenda foi realizada entre a Pasta e o ministro do Comércio Exterior dos Emirados Árabes Unidos, Thani bin Ahmed Al Zeyoud. Os quatro países foram visitados na missão.
Carlos Augustin, assessor especial do ministro da Agricultura, Carlos Fávaro, que encabeça a pauta na Pasta, disse que o programa já está rodando. A intenção é unir iniciativas já existentes e outras que serão criadas para alavancar o investimento na conversão de áreas degradadas. A meta é financiar a transformação de 40 milhões de hectares nos próximos dez anos. A demanda prevista é de US$ 120 bilhões com três anos de carência e 12 anos para pagamento.
“Se um produtor vai ao Banco do Brasil hoje, já tem linha de crédito do RenovAgro, com 7,5% de juros e dez anos para pagar. Daqui a pouco terá a linha em dólar com recursos do Banco Mundial. Quando vai começar o programa? Já começou”, afirmou. A liberação de recursos do Banco Mundial depende de aval do Senado, acrescentou. “Demos o chute inicial, começou o jogo, já tem dinheiro”, completou.
O Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) também vai atuar em duas frentes: a captação dos recursos e repasse aos produtores por meio de mais de 30 agentes financeiros credenciados e a estruturação de fundos para investir ou financiar a recuperação de pastagens.
Iniciativas em operação
Augustin citou também iniciativas privadas disponíveis, como uma linha do Itaú BBA. Na quinta-feira passada, Fávaro falou que a China está colaborando com o programa para recuperação de pastagens degradadas ao comentar ação desenvolvida pela Syngenta, controlada pelos chineses, que já financiou 300 mil hectares nessas condições no país. Ele afirmou que a estatal Cofco vai implantar projeto semelhante no Brasil.
A sinalização dos japoneses é de que querem realizar projeto-piloto com previsão de chegar a um milhão de hectares. A proposta é oferecer recursos vinculados à variação do iene, moeda local, mais 2,3% de juros, disse Augustin. Está pendente quem será o garantidor da operação. “Se der certo, vai ficar muito barato”.
A aposta do governo brasileiro foi começar a ação por países asiáticos e árabes para depois chegar à Europa. Uma pesquisa foi encomendada para conhecer a opinião dos consumidores europeus sobre a intenção do Brasil de converter as áreas de pastagens degradadas. O receio do governo é que esse público entenda o programa como uma extensão do desmatamento no país e rechace essa aproximação.
“O grande lugar que tem dinheiro verde é a Europa, mas se chegar despreparado ou contar mal a história não vamos prosperar”, disse Augustin. A estratégia para chegar ao mercado europeu com a “história bem contada” passa pela apresentação do programa na Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP 28), nos Emirados Árabes Unidos, em novembro e dezembro.
Fonte: Globo Rural.