Na tarde desta quarta-feira, o presidente Donald Trump anunciou, por meio da rede Truth Social, que elevará as tarifas sobre produtos chineses para 125%, com aplicação imediata. Na mesma publicação, o republicano também autorizou a redução temporária, por 90 dias, das tarifas recíprocas aplicadas a outros países, fixando-as em 10%, igualmente com efeito imediato.
A medida é uma resposta à retaliação do governo chinês, que também nesta quarta-feira anunciou a aplicação de uma tarifa adicional de 50% sobre as importações dos Estados Unidos — equiparando os 50% extras impostos na véspera pelo presidente norte-americano, Donald Trump, como reação a uma medida anterior da China. Segundo reportagem do Estadão.com, com essa decisão, as tarifas chinesas sobre produtos americanos somam agora 84%.
Ao Agro Estadão, o sócio-diretor da Markestrat e professor da Harven Agribusiness School, José Lima, explicou que o aumento das tarifas de importação sobre produtos chineses, imposto pelos EUA, pode provocar uma queda nas receitas do país asiático.
“Com uma receita menor, a China tende a diminuir suas importações. E, como o Brasil é um dos seus principais fornecedores, esse movimento pode afetar diretamente nossas exportações”, explicou.
Mas no agronegócio, nem todas as cadeias produtivas seriam penalizadas, avalia Lima. “Nesse momento, podemos dizer que a tarifa imposta pelos EUA, por exemplo, sobre o café do Vietnã encareceu o produto para os importadores americanos. E, mesmo com a tarifa de importação de 10% sobre os produtos brasileiros, o café do Brasil tornou-se mais competitivo para o mercado norte-americano”, considera.
Em meio a essa guerra comercial EUA x China, o analista da Markestrat também vê uma oportunidade dos frigoríficos se beneficiarem com a possível abertura do mercado norte-americano à carne brasileira.
José Lima avalia que o embate comercial pode se desdobrar no preço da mercadoria dentro do navio de carga. Segundo ele, toda a cadeia de suprimentos já está sendo afetada, porque a matéria-prima usada para fabricar muitos produtos está ficando mais cara. Isso ocorre porque esses insumos são originários de diferentes partes do mundo e, com o aumento dos custos logísticos — como seguros e fretes —, o valor final dos produtos também acaba subindo.
“Vamos supor que uma mercadoria que saia da China tenha o custo de US$ 100. Esses US$ 100 colocados dentro do navio tem um seguro de 10%, além do próprio custo do frete. A partir do momento que você coloca uma taxa de importação de 104%, esse produto não vai custar mais US$ 100, ele vai passar a custar US$ 204. E o seguro será 10% de US$ 204. Portanto, esse embate comercial vai encarecer o seguro das mercadorias e o próprio custo do frete marítimo”, explica.
José Lima destaca que a alta nos custos de seguro e frete marítimo deve afetar significativamente o agronegócio, especialmente na importação de insumos como fertilizantes e defensivos químicos. “Qualquer insumo importado, independentemente de sua origem, terá seus custos de embarque e frete impactados pela guerra tarifária entre Estados Unidos e China”, avalia.
Além da sobretaxa, a China anunciou controles de exportação contra 12 empresas norte-americanas e incluiu outras seis em sua lista de “entidades não confiáveis” — restrição que, na prática, impede a maioria delas de operar no país ou manter relações comerciais com companhias chinesas.
A China criticou as tarifas recíprocas anunciadas pelo presidente Trump e afirmou que “está pronta para lutar até o fim” caso Washington leve adiante a aplicação das sobretaxas. Como mostra a reportagem do Estadao.com, o governo chinês também submeteu um novo processo na Organização Mundial do Comércio (OMC) sobre as tarifas recíprocas dos EUA.
“As medidas tarifárias dos EUA violaram seriamente as regras da OMC. O aumento de 50% reflete um erro atrás do outro, demonstrando a natureza de bullying unilateral”, afirmou um porta-voz do governo chinês. “A China defenderá firmemente seus interesses e direitos legítimos, atuando para proteger o sistema de comércio multilateral e a ordem econômica internacional.”
Fonte: Estadão.