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Impacto reprodutivo e princípios básicos de controle da diarréia viral bovina em rebanhos de corte

A Diarréia Viral Bovina (BVD) é uma das principais doenças infecciosas responsáveis por perdas reprodutivas em rebanhos bovinos. O Vírus da BVD é um membro do gênero Pestivírus da família Flaviviridae que se apresenta em dois biótipos: As formas não citopatogênica (NCP) e a citopatogênica (CP).

A Diarréia Viral Bovina (BVD) é uma das principais doenças infecciosas responsáveis por perdas reprodutivas em rebanhos bovinos. O Vírus da BVD é um membro do gênero Pestivírus da família Flaviviridae que se apresenta em dois biótipos: As formas não citopatogênica (NCP) e a citopatogênica (CP).

O biótipo NCP é o mais comumente isolado no campo e se replica em culturas de células sem causar morte celular, podendo levar a placenta a estabelecer uma condição de infecção persistente de longa duração. Já o biótipo CP, que se origina da mutação do NCP induz apoptose celular, levando a quadros gastroentéricos severos (doença das mucosas) e impossibilidade de infecções fetais persistentes.

Vias de infecção

É uma doença de distribuição global e sua transmissão pode ocorrer via sêmen infectado, vacinas contaminadas, fômites e /ou fluidos utilizados na colheita de embriões. Pode se manter presente nos rebanhos por meio de infecção persistente mantendo uma reserva viral dentro de determinada população, tendo como principal elo a transmissão viral entre indivíduos.

Em vacas, tanto as infecções pré como pós-natal estão associadas a uma série de síndromes que incluem imunossupressão, afecções mucosas, gastroentéricas e/ou respiratórias, subfertilidade, anormalidades congênitas, aborto e nascimento de animais persistentemente infectados (PI).

Animais PI são resultantes da infecção de fêmeas com até 120 dias de gestação que desenvolvem imunotolerância fetal e, ao nascimento eliminam o vírus em secreções e excreções. Adultos persistentemente infectados são menos freqüentes devido à alta mortalidade de bezerros que, se sobreviverem, tornam-se subférteis ou inférteis, entretanto, em regiões ou propriedades onde não há implementação de medidas de controle adequadas estima-se que 1 a 2% do rebanho pode ser composto por esses animais PI, que representam a principal fonte de infecção nos rebanhos. Nesses casos, o percentual de adultos soropositivos pode chegar a 60-80%.

Em plantéis pequenos freqüentemente há ocorrência de alta imunidade por prévia exposição ao VBVD por uma ou duas estações reprodutivas e a infecção pode desaparecer até que seja reintroduzida após alguns anos. Quando da infecção em rebanhos maiores é provável que ocorra uma persistência viral devido às práticas de manejo que adotam a introdução de fêmeas e/ou machos de reposição, acrescentado ao rebanho nova carga viral a cada ano, o que resulta no nascimento de uma geração nova de bezerros persistentemente infectados.

Impacto sobre a fertilidade

Alterações reprodutivas ocasionadas pela doença são as principais causas de perdas econômicas por exercerem impacto negativo sobre as taxas de concepção das fêmeas e diminuição da eficiência reprodutiva do rebanho.

A transmissão pode ocorrer de forma direta pela veiculação do vírus no sêmen fresco ou mesmo criopreservado. Reprodutores PI podem, na maioria dos casos, produzir sêmen de boa qualidade, gerando gestações de bezerros PI e ainda a disseminação do vírus em fêmeas susceptíveis ou através da persistência viral no trato urogenital.

Fêmeas tanto com infecção aguda como persistente, carreiam vírus nas células do oviduto, endométrio, miométrio e membranas fetais, além de células ovarianas e fluido folicular. Queda na qualidade embrionária, taxa de crescimento folicular e taxa de ovulação podem ocorrer eventualmente em casos de viremia intensa. Há relatos da detecção do VBVD em oócitos e embriões em fase de pré-implantação, contudo ainda não está elucidado o real potencial de infecção e morte embrionária ocasionada por esta via.

Em condições experimentais a taxa de abortamento pode alcançar até 40%, muito embora as perdas em condições de campo sejam menores. O risco de transmissão, falhas na concepção, abortos ou deformidades fetais dependem particularmente do grau de imunidade de cada rebanho, sendo maior em rebanhos que não sofreram pré-exposição.

Estratégias de controle da doença

Algumas práticas de manejo podem ser eficientes no controle da doença por reduzirem o risco de infecção. Dentre elas destacam-se (1) Identificação de rebanhos e/ ou animais infectados e não infectados por meio de testes sorológicos; (2) Monitoramento e certificação de rebanhos não infectados por repetidos exames; (3) Eliminação do vírus do rebanho por remoção de animais PI (inclusive fêmeas gestantes infectadas) da maneira mais eficiente do ponto de vista de logístico, ou seja, tempo versus custos; (4) vacinação.

Um aspecto crucial na elaboração da estratégia de controle da BVD é o rastreamento da possível data de introdução do vírus no rebanho, na tentativa de verificar a origem da infecção e os fatores de risco aos quais a propriedade está exposta. Uma alternativa razoável é colher amostras de soro sanguíneo de 5 a 10% dos animais, individualmente ou em pool, dependendo do tamanho do rebanho.

Neste caso, é prioritário que se dividam as amostras coletadas dentre as diferentes categorias animais presentes, como por exemplo, animais de 6-12 meses, 15-24 meses, matrizes de cria (principalmente primíparas) e touros recém introduzidos. Assim pode-se inferir se a infecção é recente ou mais antiga ou pelo menos caracterizar inicialmente o rebanho como sorologicamente “possivelmente infectado”, passível de reinvestigação ou, “presumivelmente não infectado”, indicado para monitoramento reprodutivo e, eventualmente sorológico, a cada 12 meses.

Proteção imunológica do rebanho

Um modo seguro de conferir imunidade do rebanho e reduzir as perdas é a vacinação. Tanto as vacinas vivas atenuadas como as inativas/ mortas estão disponíveis comercialmente. No entanto, a grande variabilidade antigênica dos isolados de campo sempre representou um obstáculo para a obtenção de proteção imunológica cruzada contra o amplo espectro e alta virulência das amostras.

Quando usadas inapropriadamente, as vacinas vivas atenuadas podem ocasionar lesões no trato genital, e/ou afecções nas mucosas. Em animais susceptíveis, em fase inicial de gestação, a doença poder emergir a partir da vacina viva contaminada com amostras NCP ou por meio de recombinação/mutação entre a vacina e as amostras encontradas no campo.

Recomenda-se, portanto, o uso de vacinas inativadas, salvo em casos de alto risco de infecção ou surtos clínicos com conseqüências severas, onde a vacina atenuada pode desempenhar um papel importante. O principal problema da vacinação preventiva é que ela previne sinais clínicos, mas é pouco efetiva contra a infecção, além de mascarar a infecção devido à persistência de anticorpos vacinais.

Segundo Vogel et al. (2002), testes sorológicos realizados em diferentes intervalos após a vacinação demonstraram que algumas das vacinas utilizadas no Brasil, com algumas diferenças, induziram níveis baixos a moderados de anticorpos na maioria dos animais. Outros relatos com testes vacinais, demonstraram também que títulos baixos e de curta duração de anticorpos são mais freqüentemente observados com o uso de vacinas inativadas.

A curta duração dos níveis de anticorpos induzidos por vacinas inativadas indica a necessidade de revacinações em intervalos inferiores a um ano, como tem sido recomendado para algumas vacinas (Bolin, 1995). Títulos de anticorpos mais elevados e de maior duração podem ser obtidos com o uso de vacinas com vírus vivo modificado/atenuado, porém com os inconvenientes acima citados.

Considerações

Recomenda-se, portanto, para o controle da BVD, a realização de um conjunto de medidas que envolvem conhecimento da biologia do microrganismo, definição da situação atual, estratégias de manejo e biossegurança. Desta forma, pode-se examinar de forma objetiva as interações que envolvem o controle da doença, minimizando as perdas diretas e indiretas.

Referências bibliográficas
Bolin, S.R. Control of bovine viral diarrhea infection by use of vaccination. Vet Clin North Amer: Food Animal Practice v.11, p.615-625, 1995.

Lindberg, A.L.E.; Alenius, S. Principles for eradication of bovine viral diarrhea virus (BVDV) infections in cattle populations. Veterinary Microbiology v. 64, p. 197-222, 1999.

Vogel, F.S.F. et al. Magnitude, duração e especificidade da resposta sorológica em bovinos vacinados contra o vírus da diarréia viral bovina (BVDV). Cienc. Rural v.32 n.1, p. 83-89, 2002.

Fray, M.D.; Paton, D.J. et al. The effects of bovine viral diarrhoea virus on cattle reproduction in relation to disease control. Anim. Reprod. Sci. v. 60, p. 615-627, 2000.

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