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Inclusão de gordura na dieta de bovinos de corte

Dietas para bovinos de corte confinados, tradicionalmente não possuem grandes quantidades de gordura, sendo que, o conteúdo de gordura presente nessas dietas, é oriunda de óleos dos grãos de cereais e forragens componentes da ração. É comumente dado menos importância ao nutriente “gordura”, do que aos demais nutrientes da dieta como: proteína, fibra, minerais e vitaminas. Porém, esse “descaso” em relação a esse nutriente não apresenta razões plausíveis, visto as qualidades obtidas com a inclusão desse ingrediente na dieta. Abaixo são descritas algumas qualidades observadas em dietas com inclusão de gorduras:

– Aumento da densidade energética da dieta
– Fonte de ácidos graxos essenciais
– Aumento na absorção de vitaminas lipossolúveis
– Aumento na eficiência de utilização de energia
– Redução de pó na ração

Com exceção dos ácidos graxos essenciais, todos os demais podem ser produzidos no rúmen a partir de carboidratos. No entanto, a inclusão de gordura na dieta de bovinos de corte confinados, provém muito mais do que uma simples fonte de ácidos graxos para deposição no tecido adiposo. Sendo que, as principais razões para o aumento da utilização de gordura na dieta de bovinos de corte, são:

– Aumento do desempenho de animais com requerimentos maiores de energia
– Maior eficiência de utilização da energia da dieta com a inclusão de gordura
– Observação de boa resposta em desempenho em resposta à inclusão de gordura na dieta
– Desenvolvimento de gorduras “protegidas”

Tradicionalmente, era utilizado sebo como fonte de gordura para dietas de bovinos de corte confinados. Esse produto é oriundo da limpeza de carcaças de bovinos durante o abate, ou na limpeza de cortes. Após o aparecimento dos casos de “vaca louca” na Europa e Estados Unidos, o Ministério da Agricultura e Pecuária – MAPA proibiu a utilização de produtos de origem animal na nutrição de bovinos, impossibilitando a continuidade dessa prática. Outras fontes de óleo, como óleo residual utilizado na industria alimentícia, óleo de palma, e com maior importância no Brasil, devido ao crescimento na produção, as sementes oleaginosas como girassol, caroço de algodão, soja e milho com alto teor de óleo.

A deposição de tecido adiposo a partir da absorção direta de ácidos graxos da dieta, é mais eficiente do que a deposição a partir de carboidratos. A inclusão de gordura na dieta de bovinos de corte deve ser limitada a 4-5% da material seca total, devido o fato da influência desse ingrediente na digestibilidade de fibras no rúmen (Palmquist and Jenkins, 1980). A queda na digestibilidade de fibras é devido à toxicidade dos ácidos graxos, principalmente os insaturados, aos microorganismos ruminais responsáveis pela degradação de fibras. Com isso, ocorrerá diminuição da população microbiana responsável pela degradação de fibras no ambiente ruminal, e conseqüente menor degradação desse componente. Outro fator relacionado a esse problema, seria devido à formação de uma cobertura sobre as partículas do conteúdo ruminal, dificultando a fixação dos microorganismos, e conseqüentemente o processo de degradação de fibras.

Avaliação do conteúdo de gordura nos alimentos

O termo “gordura” é definido como substância insolúvel em água, mas solúvel em compostos orgânicos. Dos compostos orgânicos, o éter etílico é o mais comumente utilizado para a determinação de gordura nos alimentos, valor ao qual se dá o nome de extrato etéreo. Porém, o processo de extração de gorduras feito em amostras de alimentos acaba por extrair outros componentes além de lipídeos. Por exemplo, ao avaliar a quantidade de lipídeos de uma forrageira, e comum se encontrar valores em torno de 4-7%, porém, somente aproximadamente metade disso são realmente ácidos graxos. A tabela abaixo mostra quais as quantidades de ácidos graxos e não-ácidos graxos oriundos do processo de extração em folhas de forrageiras.

Tabela 1. Conteúdo e composição do extrato etéreo de folhas de forrageiras.


Como demonstrado acima, as avaliações laboratoriais da quantidade de lipídeos nos alimentos, superestima a quantidade de energia disponível aos animais, devido à extração de outras substâncias além de ácidos graxos. Esse fato deve ser levado e consideração na formulação, principalmente nos casos de alimentos com grandes quantidades de ceras e pigmentos. Nos casos de grãos, 70-80% do valor de extrato etéreo, é realmente formado por ácidos graxos, já nos casos de forragem esse valor pode ser menor do que 50%.

Referências bibliográficas

PALMQUIST, D.L. The value of fats. In: World Animal Science, vol 4, Orskov, E.R., 1988.

PALMQUIST, D.L.; JENKINS, T.C. Fat in lactation rations: Review. J. Dairy Sci., v. 63, p. 1-14, 1980.

0 Comments

  1. Amaury Camilo Valinote disse:

    Olá Dr. André,

    Meus parabéns pelo artigo. O tema é interessante e atual, a utilização de lipídeos para bovinos pode ser eficiente em condições de confinamento, permitindo, inclusive, a redução de grão na dieta pelo aumento da eficiência energética.

    Eu gostaria de saber literatura sobre a produção de ácidos graxos no rúmen através de carboidratos.

    Um abraço,

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