As indústrias frigoríficas e pecuaristas brasileiros trabalham com a possibilidade de um crescimento da ordem de 4% no volume de exportações de carne bovina para este ano. No entanto, o setor não tem perspectivas de repetir o retorno financeiro de 2001, cuja receita movimentou US$ 1,014 bilhão, um aumento de 28% em comparação com o ano 2000, em razão do retorno ao mercado, ainda que gradativo, da União Européia (UE), Argentina e Uruguai.
No primeiro trimestre de 2002 as exportações de carne bovina totalizaram US$ 259 milhões, um aumento de 39% em relação aos US$ 186,4 milhões registrados no mesmo período de 2001, segundo a Secex. “Em abril, porém, as exportações foram menores”, diz uma fonte.
Principais produtores de carne, UE, Argentina e Uruguai, ficaram praticamente ausentes no ano passado devido aos problemas sanitários que enfrentaram. Na Europa, as vendas foram afetadas pela doença da “vaca louca” e pela febre aftosa, que atacaram os rebanhos dos principais produtores e empurraram os compradores para outros países. Já na Argentina e no Uruguai, o problema dos pecuaristas foi a febre aftosa.
Outro motivo para uma redução nos resultados financeiros é que a pecuária nacional vem registrando quedas consecutivas, nos últimos três anos, da ordem de 25%, nos preços da matéria-prima, o boi gordo.
O Brasil negociou um volume de exportações, em 2001, de 789 mil toneladas de carne bovina em equivalente carcaça, conforme os números da Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carnes (Abiec). Na opinião do diretor da entidade, Ênio Marques, o consumo interno de carne bovina registrado para o mesmo período ficou em torno de 6,4 milhões de toneladas, que é um número considerado bom para o mercado.
“O volume de exportações precisa ser garantido nos mesmos patamares do ano passado ou com o crescimento estimado porque os consumidores domésticos não têm como absorver mais que o que estão conseguindo”. Marques avalia que não existe renda no mercado interno para sustentar uma elevação de consumo.
Edvar Vilela de Queiroz, do Frigorífico Minerva, afirma que o crescimento no volume de produção deverá ocorrer mesmo com a situação adversa de preço, na medida em que a pecuária brasileira evoluiu muito nos últimos anos.
O impacto da desvalorização do real frente ao dólar pôde ser observado com mais nitidez na primeira quinzena de abril. Nesse período a arroba do boi gordo negociada no Brasil Central ficou cotada entre US$ 18,5 e US$ 19. Enquanto isso, o Uruguai trabalhou com US$ 15,5 e a Argentina vendeu o seu gado entre US$ 10 e US$ 11 a arroba.
Queiroz calcula que o mês de maio possa oferecer ainda algum declínio nos preços negociados, mas não deverá ser significativo. Isto porque as ofertas de boi caem naturalmente neste período em razão da entressafra que começa a ser observada nas principais regiões produtoras.
O analista da FNP Consultoria, José Vicente Ferraz, diz que o mix de exportação também vem mudando: nos últimos anos o Brasil passou a vender para Israel, Oriente Médio e países do Leste Europeu, que compram mais carne de cortes localizados nos dianteiros bovinos, que obtêm preços menores no mercado internacional. “Esse tipo de carne tem cotação mais baixa, porém, é um mercado importante para as nossas divisas”.
As vendas das indústrias frigoríficas brasileiras foram boas no primeiro trimestre deste ano, ainda puxadas pela situação do ano passado e beneficiadas pelo câmbio.
Fonte: Gazeta Mercantil (por Elói de Oliveira), adaptado por Equipe BeefPoint