Ter as pastagens como uma cultura agrícola parece ser uma realidade para alguns produtores rurais hoje em dia. No entanto, recuperar pastagens degradadas e de baixa produtividade não é muito simples, ainda mais quando a propriedade rural entrou no ciclo vicioso da baixa produtividade, baixa rentabilidade e falta de recursos financeiros para quebrar esse ciclo.
A exploração de áreas de cerrado de solos menos férteis, na maioria das vezes destinadas às pastagens, e áreas de melhor fertilidade de solo, porém há muitos anos exploradas, causa a degradação mais cedo ou mais tarde. O custo para a recuperação dessas áreas é alto. Se considerarmos os índices médios de produtividade do Brasil, chegaríamos a valores em torno de 0,50 UA/ha, o que pode ser traduzido em ganhos de 2 a 3 @ de carne/ha. Assim, a receita não é muito maior que R$ 100,00, e o lucro bruto em torno de R$ 20,00 a R$ 30,00/ha/ano. Porém, basear-se em dados médios do Brasil não significa muita coisa. Entretanto, boas fazendas de pecuária de corte que não trabalham com adubação de pastagens, dificilmente têm lucros brutos maiores que R$80,00/ha.
A reforma de pastagens com o objetivo de repor a fertilidade do solo para níveis semelhantes àqueles que haviam na formação do pasto não custa menos que R$ 400,00/ha. Assim, uma reforma bem feita de uma área destinada à pecuária de corte apresentará um tempo de retorno do capital de pelo menos 5 anos. Isso pode ser pouco tempo se compararmos com outras atividades agrícolas. O problema, entretanto, é a falta de capital para investimento, lembrando que são raras as linhas de crédito rural para a pecuária.
A reforma de pastagens intercalada por culturas como milho, soja e arroz, tem sido uma opção para algumas propriedades, onde o objetivo é reformar o pasto sem custo. Dessa forma, a produção agrícola (soja, milho ou arroz) “pagaria” essa atividade. Isso em parte tem sido conseguido, porém, o que se vê, é que dificilmente se tem custo zero de formação, mas sim reduções significativas.
Entretanto, esses sistemas de reforma de pastagens não é coisa recente. Existem algumas regiões que já há alguns anos se intercala a produção de grão na reforma do pasto. Na região noroeste do Estado de São Paulo, por exemplo, o sistema de recuperação de pastagens com o plantio de grão utilizando o sistema de parceria ou arrendamento é coisa antiga. Porém, hoje em dia, o que se vê são agricultores entrando na pecuária e utilizando as pastagens como vantagem para a agricultura. Assim, houve uma mudança de conceitos. Antes, havia pecuaristas tentando fazer agricultura e atualmente, há agricultores fazendo pecuária. Diversas técnicas surgiram diante desse conceito de integração, como por exemplo, o sistema Barrerão e mais recentemente os sistemas Santa Fé e o proposto pela Monsanto (esses sistemas serão melhor descritos em futuros artigos).
Não só os benefícios agrícolas são explorados com a integração agricultura – pecuária, mas também, a questão de mercado. Como se sabe, os melhores valores da carne são obtidos no segundo semestre do ano e é nessa época que se iniciam as atividades agrícolas. Assim, é no segundo semestre que se têm as maiores despesas com a agricultura. Por outro lado, os valores da arroba do boi são mais baixos na época da colheita do grão (fevereiro – abril), época em que a troca de grão por carne é interessante, pois sabe-se que os grãos também apresentam aumento de preços no segundo semestre. Entretanto, para armazenar grão se gasta com custo de armazenagem, quebra técnica e outras despesas. Armazenar carne também tem custos, entretanto, o animal armazenado continua ganhando peso.
A oferta de forragem após uma lavoura de soja pode ser observada na figura 1. Nota-se que logo após (80 dias) a formação do pasto a oferta de forragem é muito alta. Ao longo dos anos, a produção forrageira é reduzida. Nesse caso, a gramínea se aproveitou da fertilidade deixada pela lavoura de soja, principalmente o nitrogênio. Em contrapartida, a produção de soja em uma área de pastagem promove um incremento na produção agrícola (figura 2). Nesse caso a soja se utilizou dos benefícios da pastagem, principalmente o maior teor de matéria orgânica em áreas de pastagens bem manejadas e o melhor controle de plantas daninhas.
Figura 1- Massa de forragem para Brizanta e Decumbens com 80 dias de crescimento e após 3 anos
Figura 2- Produção de soja tendo como cultura anterior, Brizanta, milho ou soja
1 Colaborou
Patricia Menezes Santos, Engenheira Agrônoma, doutoranda em Ciência Animal e Pastagens pela ESALQ/USP